Blogs Portugal

segunda-feira, 1 de março de 2010

Não vejo que morreste

Nem sei por que vou por aí
Chove e tenho sono
Estou doente
Não busco nada
Nem luz nem saúde
Nem significado
Devia estar em casa
E estou na rua
Devia estar vivo
E estou a morrer
A passos largos
Para o teatro na escuridão
Devia regressar
Retroceder
Mas não o faço
Nunca o fiz
Como nunca dei valor
A ser feliz
Passo pelos monumentos
E não os vejo
Pelos sítios onde havia monumentos
E não vejo que os tiraram
Pela casa onde moravas
E não vejo que morreste.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Mulher bonita

O que é uma mulher bonita?
Toda a gente sabe
Mas quem o sabe dizer?
Não és completamente real
E do real
A minha ilusão é imperfeita
Reconheço em ti
A parte que devasso
Até ver que o faço
Sob suspeita
Por te ter aqui.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sedutora

Trazes nas mãos
Campos de flores
Sem fim
De leitura repreendida
Séculos de dissabores
Do saber da vida
Corpo sonhado
De amor mais nu
Que um livro ignorado
Que sonho és tu?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A força do vento

Sobre as águas tristes do lago
O pálido clarão da tarde de Inverno
Lembra-me a mais triste de todas
Algures na Primavera
Ou no Verão
Ou no inferno
Num pano de fundo viscoso
E macerado
O cheiro a pólvora queimada
No ar estagnado
E o poeta
Como uma esfinge morto
De um único pensamento
estava absorto
Com a força do vento.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Duas palavras de dor

Há uma terra no coração do cantor
Que cobre o cadáver da sua amada
E eu escrevo duas palavras de dor
No chão da história negada
Dor que já ninguém sente
Pois que é só imaginada
Dor ainda mais dolente
Porque já não diz mais nada.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Não há poesia

Não há poesia sob as telhas
Nem na multidão de bêbados
Que caminha debaixo do céu
Nas ruas estreitas
E bafientas
Com muitas esquinas
E bares baratos
Por onde me arrastei
Como um eremita
Com o dobro das patas
De um caranguejo
E metade da sua graça
Não há poesia em nenhum pensamento
À hora a que me deito para morrer
Sentindo que sobrevivi a tudo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Pódio

Sobe ao pódio dos teus pés
Que o prémio te sinta
Mesmo que não sejas vencedor
Te diga que o és
Canta o hino
Que aprenderes
A olhar para longe
Do que fores
Capaz
Que o silêncio
No fim
Seja murmúrio
De paz.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Perdi-me nas tardes de Verão

Desiste de procurar-me
Nem eu sei
Onde me perdi
Nas tardes de Verão
Onde perdi o livro
Que andava a escrever
Sobre as tardes de Verão
Em que me perdi
Antes de te encontrar
Se fosse numa ilha
Era fácil partir do princípio
De que só podia estar lá
Mas foi num continente
Que não existe
E nisto nunca irás acreditar.