Se estas ruínas
aliás belas
aliás monumentais
são o que resta
daquilo por que viveste
e por que tanto lutaste
com seriedade
que ao menos pudesses
ter tido a antevisão inefável
do que agora aos nossos olhos
é um desfecho desolador
de tantas vidas escarnecidas
hipotecadas à transcendência
daquele castelo mutilado
outrora altivo
e daquela igreja irreconhecível
outrora preservada
sem que ao menos
soubéssemos um pouco
da história de uma delas
podia ser até da mais humilde
das contingências de uma vida
vivida nestes penhascos
tão acabrunhados
podia ser até da última pessoa
a fechar os olhos à história
a toda a grandeza
de que não se ouve
sequer em memória
uma voz
sequer ilusória
a sair destas ruínas colossais
por onde agora só
alguma sombra de nuvem passa
e não deixa rasto.