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domingo, 27 de maio de 2018

Brilhantina


Um dos pedintes mais bem sucedidos do burgo costumava vestir-se como um valete, de que se arrogava o título. Abrilhantinava a cabeleira e, com pose de alteza, porém lamuriando-se da sorte, pedia na rua, não como um pobre, que não assumia ser, mas como um rico, que detestava de tal modo o dinheiro gastando-o a rodos, que acabou por cair em desgraça. Nas lojas, onde era acolhido, até com honras e mesuras, ouviam a sua triste história, quando o trato que davam aos maltrapilhos era corrê-los porta fora. E todos, até os pobres, se condoíam desse personagem, até saberem que era, simplesmente, um pobre mas hábil ator, e logo se arrependiam de ter ajudado um farsante.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Presunções

    A presunção de inocência ou a presunção de culpa, juridicamente e, na prática, serão irrelevantes, porque não alteram o estatuto do arguido, nem alteram a realidade dos factos, nem interferem no julgamento. Aliás, como é sabido, "presunção e água benta, cada um toma a que quer". O que justificaria, talvez, não estar a ocupar espaço na letra da lei, que já é tão extensa. 
    O problema com interesse, com grande afinidade deste, é o do ónus da prova. Neste ponto, em vez de presumir inocência ou culpa, importa provar. Aliás, uma condenação judicial é uma presunção de culpa ou de imputabilidade, etc.. e uma absolvição nem sequer é uma presunção de inocência, e não é um juízo de inocência
    Com o tempo, perante novos elementos de prova, essas presunções podem ser revertidas. Ainda assim, relativamente ao ónus de prova, na minha opinião, no caso de certas entidades políticas e financeiras, pelos cargos que ocupam, pelo que representam, pela posição privilegiada em que sempre estão para apresentarem e fazerem prova, haveria toda a vantagem para a justiça que o ónus da prova recaísse sobre eles e não ao contrário, como sucede. 
    Indiciados que fossem da prática de certo tipo de crimes, caber-lhes-ia o ónus de provar o contrário. Atualmente, não têm qualquer ónus. Não precisam de provar nada para serem absolvidos, basta que se frustrem as acusações.


quarta-feira, 23 de maio de 2018

A privacidade

Há que teimar em trazer à liça um problema de suma importância para cada um de nós, tanto mais importante quanto mais inócuo se faz sentir, a violação da privacidade.
Não é por acaso que a privacidade é tão mal entendida e tão mal tratada. 
Estou a pensar na segurança e nos interesses policiais. Limitar-me-ei a considerar que a minha privacidade é um reduto interdito, sobretudo, às polícias. Diria até que é o oposto de policiamento, sabendo nós que as "polícias" não são apenas os agentes de segurança e da ordem pública investidos da autoridade do Estado.
A privacidade é incompatível com os "guardiões", legisladores do medo, corruptos que o são porque podem, sem medo e sem vergonha, guardiões dos privilégios.
E não estou a pensar na criminalidade, que deve ser prevenida e combatida, sobretudo a alta criminalidade do venal.
Estou a pensar na saúde mental, na liberdade de pensamento, de criatividade e de significado, do significado atingido livremente, não do significado infiltrado, hospedado à força no cardápio das nossas alternativas avassaladas.
Esta sensação de falta de mundo e de espaço para respirar outro ar que não seja o da vigilância, sobretudo quando perpetrada pelos alvos inelutáveis do nosso ódio, acaba por viciar também os comportamentos, sobretudo os de maior visibilidade, que se tornam à medida, ou seja, o próprio processo de invasão e controlo da privacidade subverte-se ao ponto de o privado ser também uma máscara. E cada vez se torna mais pública e convencional a ideia de que o que é visível pode ser a melhor forma de invisibilidade.
Cada vez mais, as iludências aparudem!!!
Até porque quem quer ser olhado do modo que os outros escolhem?  Ou gosta do modo como é olhado, ou de quem olha/observa, independentemente da finalidade?
Temos o direito de odiar, recusar e rejeitar o "mau olhado".
De resto, no inferno da privacidade só entram almas danadas e não se constroem paraísos onde possa entrar quem não se quer.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

A humildade

A humildade, a verdadeira humildade e não a estratégica, manhosa e venenosa, com que alguns hipócritas, retorcidas víboras, ostentam aclamadas virtudes para disso tirarem proveito à custa de lorpas=humildes=estúpidos=submissos, é um capital de que se faz uso apenas quando se quer e com quem nos aprouver, ou, por engano, para proveito dos tais répteis. 
A humildade não é uma virtude e não pode ser uma virtude porque a chamada humildade do arrogante ou do prepotente, é uma estratégia de domínio e a chamada humildade do humilde ou do dominado, é uma condição. 
Discutir qualquer assunto na base da humildade ou da arrogância, não me parece que faça sentido. 
A humildade e a arrogância não fazem parte das equações. Assim como o tom de voz. 
Mas se chamam arrogante a quem não ouve nem quer ouvir e humilde a quem ouve e quer ouvir, o caso muda de figura. 
É diferente falar para um arrogante ou para um humilde.