Não quero pensar no dia em que
Também abandonaremos
As nossas carroças
Para não perdermos os cavalos
Prefiro pensar que a vida é feita de perdas
E não é que seja má
Porque ficamos com a memória
Para reviver sem perigo
Pelo menos enquanto a não perdermos também
E já não pudermos encontrar
Nem nos livros que escrevemos
O mínimo sinal
De termos vivido
Em nosso redor de há muito habituados
A não ver nem ouvir
De olhos fechados para ver melhor
As grandes distâncias que nos excitam
As nossas dores e prazeres são também
De pensar
No que não perdemos
Porque não tivemos
Mas antes tivéssemos
Perdido.