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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Ciências da vida, ciências humanas

Penso na frustração que atingirá qualquer cientista por não poder operacionalizar o seu conhecimento e a sua tecnologia, incluindo a IA, para propor à comunidade científica internacional uma lei do bem e do mal, em que, o bem fosse a vida e o mal fosse a morte. Reconhecer que, na essência e nos fins, todas as ciências têm em comum serem ciências do Homem, ciências humanas, e todas serem motivadas e justificadas pela necessidade e pelo valor da vida e das ciências (da vida).

O que fundamenta o direito e correspectivo dever de respeito pelo indivíduo humano também fundamenta o dever de cada indivíduo humano, e todos em geral, respeitar tudo aquilo que não é sua autoria e que tem relativamente ao Homem existência independente, como acontece com a natureza, incluindo a humana.

O facto de dependermos dessa natureza e não o contrário, confere-nos alguma legitimidade baseada na necessidade física e biológica de sobrevivência.

Não nos é possível respeitar a integridade daquele mundo exterior, físico, biológico, de que dependemos visceralmente, vitalmente. Mas é-nos possível, é desejável e imperioso, moral, diria até, imperativo categórico, reduzir ao máximo os efeitos nefastos e devastadores da utilização, exploração, que fazemos dos recursos naturais, se não pudermos evitar completamente os efeitos, nocivos e irremediáveis, dessa utilização.

Nada de matar, como princípio. Nem pessoas, nem animais, nem plantas.

O mais que se pode permitir, porque nada se pode fazer, por mais que nos custe, é ver morrer o que não se pode salvar.

A inteligência do homem, quanto a isto, historicamente, delegou todos os poderes em Deus, que ainda não resolveu nenhum dos problemas, como seria de esperar por um homem inteligente. O homem não é inteligente. Pelo menos não é inteligente no sentido de ser capaz de "ver" para além daquilo para que é dotado, ou naturalmente apetrechado.

Se o homem é o diabo, ou deus, o que constato é que muitos estão dispostos a admitir que seja o diabo e ninguém esteja minimamente inclinado sequer a pensar que seja deus. Isto diz muito sobre o que pensamos a próprio respeito, mas não diz nada sobre o que a natureza do homem é, ou, por outra, sobre quanto do homem é natureza e nada mais do que a natureza a seguir os seus rumos irreversíveis.

Ninguém, senão o homem, se queixa de as coisas não serem de um certo modo.