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terça-feira, 30 de junho de 2009

Eu nunca te disse adeus

Eu nunca te disse adeus
Não saberia fazê-lo
Alguma vez
Parti
Como parto sempre
Triste
E sem esperança
Por necessidade
Muito mais
Do que por vontade
Na morte
Tropeço
Na vida
Não há regresso.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Inspiro-me

Inspiro-me nas lágrimas
Ao vento me queixo
Ao vento grito
A minha pena
Sem descanso
Agito

Inspiro-me nos sorrisos
Ao céu me dou
Ao céu profundo
Canto
Do mundo

Inspiro-me nos gestos
Miro a traição
Do informe
Escrevo
A denúncia

Inspiro-me nos campos
Sem futuro
Com raízes
Transcendentes

Inspiro-me na eternidade
Que é
Não compreendo
O mistério do ser
E do sendo

Inspiro-me na música
Que não soa
No silêncio
Deixado por tudo
Que amei
Inspiro-me…

terça-feira, 23 de junho de 2009

Entre o outro mundo e este

A mais oblíqua paleta
da tristeza mais perpétua
à alegria mais espontânea
é o poço do diabo

O diabo tem medo
e não passa pincéis
na rua do enxofre

Espalha matizes
de mar salgado
no que é mais breve
esse pano
de fundo
de que se veste

E vai com alguém
que não conheceste
de braço dado
entre o outro mundo
e este.

sábado, 13 de junho de 2009

Beleza demolidora

Há uma verdade evidente num zumbido de vespa
(era uma scooter)
Interrompeu a sesta
Que parece fugir a qualquer controle
Há uma verdade evidente em tudo o que dizes
A preceito descapotável
Singrando de peito enfunado
Em sentido contrário
Ao do vento
Uma visão de todos os dias
(O tanas)
Era um portento
Uma beleza demolidora
De clichés inerentes
(Em voga)
Sem método e sem sustentáculo
Em vocábulos desaparecidos
Que regressaram à vida
(Dos poemas)
E desfrutam de respeito
Persistentemente à beira da metáfora
Tantas vezes desperdiçando o suor do rosto
A tentar evitar que o que aconteceu
Tivesse acontecido
Como passar a dura prova
Da infelicidade
Nenhum argumento é suficiente
Muito mais tarde
O arrebatamento é efeito de linguagem
Traçado peculiar de divisões
Que anunciam algo
Que não chega até nós
No meio de discussão infindável
Há quem ouça o eco de grandes almas
Ao acaso de ser poema
No declínio de duas ou mais eras
De poder corrupto
De amor ao dinheiro
De atrofia por insolência
E por ignorância laureada
Essas pitonisas emancipadas
Repertório de figuras
De ressonância sem sinceridade
Não pisam sequer o solo
Quanto mais um aposento délfico
Mas pronunciam sentenças
Austeramente simples
Sobre o futuro
Sem nenhum grau de codificação
Passado ou presente
Sobrepostos ou paralelos
Que perturbam a visão
Com a liberdade de regras
Destituída de atenção
E de predicados
Mas não de triunfo
E de desaire.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Quem és tu

Por mais palavras que digas
É como Deus
O mais perfeito enigma
Para os anseios
Mas o que está mais perto
Dos meus sentidos
Por mais que te diga
Serei a chama do vento
Só quando superar
Todos os receios
De te incendiar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Adega TóNel

No ponto mais setentrional das névoas perpétuas
No informe aglomerado de construções à chuva
Uma placa diz cidade e começam as galerias
De uma tarde na adega tonel
Que vai desembocar nesta folha de papel
E deparar sem saída com a porca
Das sete mamas de um cardápio virtual
Suspenso dos chifres de um bicho
De sete cabeças em espiral
Drapejando ruidosamente.