sábado, 1 de novembro de 2014
O que fazem mortos
Sobre o vale nada
ecoa
uma distância
os horizontes
uma luz
antiga
como a espera
um crepúsculo
de recolher
os gados derradeiros
Camões
é primavera
está a chover
uma chuva que a nós
visita do que era
eternidade que é
agora
sabemos que há mortos
por todo o lado
mais vivos
do que a própria saudade
e vivos sem liberdade
mais mortos
do que era de esperar
neste tempo
de venalidade
atroz
que rouba sonhos
como quem rouba ouro
que não derrete
e o que pode acontecer
é o que mais promete.
Vi ou vi ora viu ou viu
O privilégio que deve a Deus
recordar o bom que viveu e imaginou
enquanto desce ao poço do inferno
da restrita visão
da lanterna que treme
luz
na escuridão
é privilégio
e dom
ouvir um rio que não
se vê
e muito bem conheço
sentir um frio
que eu próprio arrefeço
pensar que não mudei
o mundo
para melhor
do que mereço
se fez de mim o que sou
não me conheço.
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