O conhecimento é uma linguagem acerca do ser, da realidade, das coisas, não apenas das coisas da natureza física, material, exterior ao homem, mas também da cultura,
das coisas culturais, da realidade cultural, social, política e económica.
O ser, a essência de algo imutável é um problema diferente do ser, da essência de algo mutável, ou
de algo muito mutável. A essência do átomo do oxigénio permite uma abordagem, em termos de definição, que já não é possível, por exemplo, quanto à
essência de um pinheiro, ou de um peixe, ou de uma estrela.
O ser, a essência, nunca é pelo que é, e isto é contraditório. Quando sabemos o que é, sem sabermos o que foi nem o que virá a ser, sabemos
o quê?
Que sentido faz, por exemplo, afirmar que o ser deve ser o que é, ou como é? Que a afirmação, ou descrição, daquilo que é deve ser uma
afirmação verdadeira? Relativamente ao átomo, por exemplo, o que se disser deve ser algo que corresponda à realidade do átomo, àquilo que o átomo é. O dever de verdade
é uma condição sem a qual não há conhecimento.
O conhecimento não é uma linguagem qualquer acerca da realidade, mas uma linguagem como deve ser, uma linguagem que satisfaça
as exigências e as normas, o dever-ser, da linguagem de conhecimento.
O ser, em si, não é como deve ser, porque isso não é da sua natureza, ou seja, por exemplo, o átomo não é o que é porque exista
ou tenha existido um dever de assim ser ou de assim se ter tornado.
As coisas não culturais, por exemplo, as plantas, os animais, as pedras, as estrelas, não são o que são, por efeito de um dever
ser a que obedeceram. Mas o conhecimento acerca do ser, a linguagem acerca do ser, deve ser de certo modo e não deve ser de outro, quer dizer, deve ser como deve ser. Existem normas para o conhecimento.
Se, em vez de
conhecimento acerca do ser, alguém falasse das suas representações subjetivas, por exemplo, do átomo, das árvores, etc., deixaria de estar sujeito ao dever ser de verdade. Quando falamos
das coisas que nos são exteriores, relativamente às quais temos, ou assumimos, uma relação de sujeito para objeto, esta só é possível se respeitarmos as normas da objetividade.
Quando
falamos das coisas subjetivas, praticamente não há limites, ou condições. Mas se tivermos pretensões estéticas, então, deparamos com aquilo que designo por dever ser estético.
Carlos Ricardo Soares