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quarta-feira, 31 de março de 2010

Aceito o teu convite

Aceito o teu convite para ir a tua casa
Tomar café
Mas como estarás vestida?
E não aparecerá ninguém
(a cantar numa voz de ópera?)
Já te vi subir o pano
Como o suave sol de Maio
Sobe a colina
Faz-me ver grandes nuvens brancas
E temer adormecer
Sem o desejar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ao amor desconhecido

Se tivesses uma morada ou telefone
Que eu soubesse
Um telemóvel ou e-mail que
Provavelmente tens
É improvável que escrevesse esta carta sem endereço
Nem sequer a escreveria
Faço-o porque não te conheço
E sou fiel
Ao sonho e mais profundo desejo
Sem trair o anjo do meu cortejo
E sem temer
Vir-me a arrepender
Pelo menos enquanto não te encontrar
Se tivesse dúvidas sobre o ridículo das cartas de amor
Elas cessariam com esta
Não por ser simples carta de amor
Mas por ser ao amor desconhecido
Que confiança pode merecer-te alguém que viveu
Oitenta anos sem te ter tido
Ou que o afirma
Mais indigno de ti
Quem diz que amou sem te conhecer
Ou quem não amou à espera que isso acontecesse
Mas tu não vieste?

domingo, 21 de março de 2010

Lady


Distingue-se o doce do amargo
Sem subtil virtude
Sem febril verdade
Nestes rios e nestes mares
Sem calma
A pomba do dilúvio
É o falcão
 Da liberdade
Sem esconder os apetites
 A paixão
Sai ao caminho
A solidão
À companhia dos pensamentos
Prefere a das folhas ao vento
A do dia aos olhos
A dos ouvidos à noite
Ao sabido
O que não sabe.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Não direi nada que não saibas

Se eu soubesse não diria
Nada que não seja
Poesia
Nada que não saibas
Que eu não sabia
Não direi nada
Sei
Extenso dia
Até onde alcança
A vista
A fantasia
A alma
Que vê ausências
Onde há
As dela
As outras não
Direi por dizer
Pelo prazer
De ouvir-me
E de crer
Que a palavra não faz
Falta
Em vão.

quarta-feira, 10 de março de 2010

ESCRITOS Online






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Coletânea de comentários críticos


Por sugestão de alguns amigos, organizei e publiquei em livro centenas de comentários que postei em vários sítios na Net (http://www.escritartes.com/forum/index.php/board,2.0.html , http://www.luso-poemas.net/modules/news/, http://www.blogger.com), ao longo de quase três anos, de 2007 a 2010, sobre dezenas de autores lusófonos, dispostos por ordem alfabética, de A a Z.

Sem falsas modéstias, parece-me um trabalho pioneiro a ser seguido por quem não desfaz e não se desfaz dos escritos na Net, dedicando imensas e boas horas à comunicação e à aprendizagem online.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Abraçado a uma puta

A luz fraca não deixava ver a cor das flores
O mofo fantasma da rua da morgue
Entranhado nas asas de bronze
Do anjo triste como o horizonte
Perguntava sem ironia
Que andava ali a fazer
Enamorado da alegria
Enamorado triste
Sem esperança
Abraçado a uma puta
Que fazia acreditar
Que ainda havia
Mistérios a desvendar.

sábado, 6 de março de 2010

Não sei se me perdi

Não sei se me perdi
Em devaneios

Não sei se me perdi
Em realidades

Não sei se me perdi
Por não ter meios

Ou se me distraí
Com as vaidades

Não sei se me perdi
Por ter receios

Não sei se me perdi
Por ter coragem

Não sei se me perdi
Em mil enleios

Ou se me confundi
Com uma imagem

Não sei se me perdi
Se me encontrei

Não sei o que perdi
Ou que ganhei

Só sei que resisti
Que acreditei

E sei quanto senti
Felicidade

Não sei se me perdi
Se estou perdido

Não sei se me perdi
E é verdade

Não sei se me esqueci
De ter vivido

Mas sei que já morri
Por ter saudade.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Não vejo que morreste

Nem sei por que vou por aí
Chove e tenho sono
Estou doente
Não busco nada
Nem luz nem saúde
Nem significado
Devia estar em casa
E estou na rua
Devia estar vivo
E estou a morrer
A passos largos
Para o teatro na escuridão
Devia regressar
Retroceder
Mas não o faço
Nunca o fiz
Como nunca dei valor
A ser feliz
Passo pelos monumentos
E não os vejo
Pelos sítios onde havia monumentos
E não vejo que os tiraram
Pela casa onde moravas
E não vejo que morreste.