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sábado, 25 de janeiro de 2014

A alegria por mais pequenina que seja

Naquela altura
eu não sabia
do futuro
se ninguém sabia 
nem de si 
quanto mais de mim
e do futuro
que nem sequer existia
o que eu queria
era pouco
mas muito 
quase tudo
para mim
cada dia
como o sol queria
uma montanha
para ir subindo
além
eu não seria capaz
de partir 
por nenhuma razão
ninguém me prometeu
ou deu esperanças
nem eu
porque a esperança
não existia
existiam pessoas
como eu
e de esperança
só sentia
que a alegria
por mais pequenina que seja
é mais forte
que a maior desgraça
mas que também 
fraqueja.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Quando olho é como se já não visse


Quando olho é como se já não visse
por ser tão longe e tão profundo
o significado em que tudo o que vejo
se tornou
nesta surpresa que sempre procurei
quando acreditava que o futuro
era o tempo de realizar sonhos
que o presente então
ao meu esforço negou
 eu olhava e era como se não visse
por não ser preciso
mesmo assim eu queria ver
o significado em que tudo se tornaria
o presente me dá quase sem eu querer
quando olho como se já não visse
o que desejava ver.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Tudo está errado

Fui feliz onde vivi 
Cada momento como se não houvesse outro

Olho o que se me oferece
Não escolho ver 
Para além do que conheço 
Contemplo se me apetece
Se não 
Está errado o que existe? 

Está errada a forma 
Como vemos
E como sentimos
E como pensamos
E como vivemos

Salvo erro
Tudo está errado
E é por isso
Que não podemos parar
De corrigir.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Para que não se faça silêncio

Estamos à beira de qualquer coisa que não sabemos o que é
E não é noite
Fitamos o curso da vida e que aprendemos?
Com um sufoco de revolta na garganta 
Não nos abraçamos
Ouvimos o canto dos pássaros
E blasfemamos
Temos as mãos próximas
E não as damos
Porque preferíamos que as estrelas
Não existissem
Tristes muito tristes vamos
Desconfiados das próprias sombras
Se amamos 
Não nos lembramos
Se estamos vivos?
Estejamos 
Porque temos medo
E raiva e ódio e desespero
A morte é pouco menos que isso
E arremessamos palavras
Para que não se faça silêncio.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Conquistador

Recostei-me para pensar
Que os mansos dominarão a terra
E acabei deitado a falar sobre a morte
Para um gravador das câmaras
De vigilância da minha própria solidão
Dúvidas há quanto ao ressonar
Que se confunde com o desumidificador
Mas não quanto ao sonhar 
Como um montanhista que tivesse caído
Pela garganta de um desfiladeiro
Ouvindo o desespero do próprio eco
E chorasse um choro verdadeiro
O momento em que falece
O conquistador
O momento da verdade 
A derrocada estrondosa
De quantos quiseram impor
A sua vontade.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Beijos que te quero dar


Os teus olhos são o riacho emboscado

Onde hortelãs selvagens proliferam
O Verão feliz que não voltei a ter
Os reflexos que me deram
A imagem do que quero ser

Esta cidade não é
O chão luxurioso
De açafrões e margaridas
À espera do vento
Para se polinizarem
Mas a noite é
Desse tempo
De luar e água
Se casarem

Sofri
Mas valeu a pena
Pelos desejos imensos
Que aprendi
A não saciar
Pelos beijos
Que te quero dar.