Hilário: responde-me sem evasivas
Amiga: não sou de evasivas
Hilário: perguntei-te alguma coisa?
Amiga: agora perguntaste se me tinhas perguntado
Hilário: o livre-arbítrio não existe?
Amiga: se as nossas acções e decisões são efeito de partículas que
atravessam o corpo e o cérebro de acordo com as leis da física, que achas?
Hilário: aparentemente são essas partículas que agem e decidem e não nós
Amiga: eu e tu e o universo somos partículas em movimento
Hilário: e as nossas palavras também
Amiga: e os pensamentos e a memória
Hilário: até a anti-matéria e o conhecimento da matéria
Amiga: se calhar o livre-arbítrio só existe para algumas coisas
Hilário: não somos livres de dar verdade a uma falsidade
Amiga: nem és livre de fazer com que esta conversa nunca tenha existido
Hilário: mas foste livre de dizer essas palavras em vez de outras
Amiga: como poderíamos prová-lo?
Hilário: em qualquer caso, lá estariam as partículas a reivindicar que
tinham sido elas
Amiga: ninguém nos pode culpar de nada
Hilário: ou seja, as partículas é que têm a culpa
Amiga: têm tudo, a culpa e a inocência
Hilário: só não têm livre-arbítrio
Amiga: e nós só temos partículas