Blogs Portugal

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A neutralidade da ciência

A neutralidade da ciência não é um ponto fraco nem um defeito ou uma insuficiência da ciência, bem pelo contrário, é uma condição sem a qual o conhecimento ficaria comprometido, quanto à credibilidade e objectividade. Aliás, quando se trata de ciência física dos objectos materiais, a neutralidade não será um problema de maior, porque a determinação e estabelecimento dos factos não dependem muito da neutralidade dos juízos. 

O problema coloca-se principalmente nas ciências humanas, sociais e económicas, na medida em que aí os factos são actos humanos ou uma sucessão desses actos. Aqui, a neutralidade da ciência pode ser mais difícil de conseguir e o próprio estabelecimento dos factos pode não ser possível. E, sem factos apurados, provados, incontroversos e incontrovertíveis, não pode haver juízo de valor, seja ético, jurídico, moral, estético, económico, que mereça concordância e aceitação.

A maior parte da história assentou, e ainda assenta, num conjunto de ficções religiosas, crenças, idolatrias, mentiras reiteradas pelos poderes e pelas ideologias de domínio social que, à míngua de investigação e de conhecimento científico, eram impostas por autoridade como factuais e assim cultivadas e admitidas, sob advertência severa de que não poderiam ser postas em causa.

Assim se prova que se pode viver e construir impérios com base em ficções e mentiras.

Mas eu acredito que é preferível viver com base na verdade e, melhor até, sem construir impérios sobre cadáveres de escravos.