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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Palavras que ofereço


O torturador de palavras
O seguidor de palavras
O escravo das palavras
O senhor das palavras
O amante das palavras
O inimigo das palavras
O sem palavras...

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Para ser científico


Sou contra  todas as tentativas de "imposição" de crenças, religiosas, científicas, filosóficas, ideológicas... Mas o que é mais corrente é isso: todos, desde os ateus aos cépticos, não param de tentar "expandir" a sua fé. 
Na ciência é a mesma diligência. E por aí fora. 
Mas eu sou contra isso, porque sou preguiçoso e não me preocupo com a sorte das pessoas após a vida. 

A brincar que o diga, preocupo-me com a sorte dos vivos, tanto daqueles que são vivos de mais como daqueles que são vivos o suficiente para viverem à custa dos menos vivos, ou dos mortos.
A minha preguiça tem a ver com isso, com a preocupação que tanta gente que me não conhece tem por mim. Eles são escritores, poetas, cientistas, papas, políticos, militares, médicos, professores, juízes, polícias, cantores, construtores de automóveis e de aviões, farmacológicas, etc., etc.. 

Habituado, como estou, desde que nasci, a ver tanta gente envolvida em "guerras" e em "pazes" por minha causa, deixei de me preocupar. Afinal, não preciso de me preocupar. 
Mas preocupo-me porque quero paz e liberdade, não quero que me forcem a ser feliz, não quero que sejam infelizes só porque eu não me vou salvar.
Enfim, a minha preguiça não vai tão longe que eu não queira dialogar. 

Então, sempre que me aparece um artista, um cientista, um "iluminado", um político...que me quer salvar, eu agradeço e peço apenas uma coisa em troca de ouvir: que me deixem falar tanto quanto os ouça. 
E marco no relógio. Para ser científico. 
Assim, eu tenho alguma certeza de estar de igual para igual.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Entre nós


Não há nada 
para decifrar
pergunta nenhuma 
para responder
se a felicidade é 
um não problema
se a competência
para escolher 
o melhor
é uma forma desajeitada
de pensar 
para além de nós.


domingo, 14 de agosto de 2016

Vem


Vem pernoitar no escuro
até onde só eu
te encontre
no silêncio
até onde só tu
me ouças
na doçura
até onde só nós
estejamos
na música
até onde 
só nada ouçamos
na loucura
até onde só nós 
chegamos.


sábado, 9 de julho de 2016

Todos nos lembramos e não sabemos


Todos nos lembramos 
de algum dia salvo
de não ser verdade
que continua a matar-nos
de saudade
na eternidade da espera.


domingo, 19 de junho de 2016

Não há volta a dar



A verdade é esta
a ciência e a tecnologia substituem tudo
com muita velocidade
mas nenhuma ciência restitui a minha vontade
cura a minha melancolia
a minha saudade
nenhuma ciência ou filosofia
me devolve aquele mundo
a minha verdade
de ser feliz
o indescritível prazer
de estar na eternidade
como num quadro emoldurado
de tudo o que é preciso
para que a mudança só acontecesse
a meu gosto
e eu de todos e tudo
dispensasse um juízo
nenhuma ciência filosofia arte
ou religião
nenhum conhecimento ou ação
me devolve a paixão
do que era preciso
para ser feliz
nada agora
olhando com todos os olhos
construídos
de esforços para o merecer
é o que eu queria
tudo me foi sendo negado
em nome de algo
que eu devia
fui sendo educado
e sofria
na promessa de que valia a pena
se valeu para os outros
não valeu para mim.


sábado, 11 de junho de 2016

Parar não é morrer


 Não tombem pássaros
em voo cansado
nem muito ao de leve 
toquem
das ondas frescura
da miragem breve
do velame assombrado
da nau amargura
até passar
o mar
a liberdade
arrebatará 
os mensageiros 
da tarde.


domingo, 5 de junho de 2016

Maldito dever


Acabei por ter de fazer
o que nunca quis
deixar a estrada
o caminho que fiz
a fantasia da natureza
amada
com seus relógios
de sol e de lua
e de água
seus ritmos de frio
calor e chuva
e trovoada
seus perigos selvagens
encantos e miragens
em troca de nada
deixei tudo
que me fazia feliz
porque tinha de ser.
Maldito dever.


domingo, 29 de maio de 2016

Já há muito que não escrevo



Há muito que não escrevo
a folgar do longo tempo
em que escrevia 
para me inventar
na indomável imensidão
das palavras
iluminar a vista
com a visão
que argamassa 
átomos
em sóis sobre as muralhas
de cada dia.


sábado, 23 de abril de 2016

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Vício de errar


Errar quem quer
se todos buscam acerto?
quem quer seguir caminho contrário
para longe
se o que procura
é perto?
quem se anima por ter-se perdido
se queria outro objetivo?
se a experiência ensina
que o erro é caminho
andado
para o acerto
quanto mais viciante é
ao buscar pedra
encontrar ouro
do que ao buscar ouro
encontrar pedra?
então por que o erro está
não em encontrar ouro
mas pedra?



sábado, 9 de abril de 2016

Todas as palavras são inúteis


A atmosfera repousante é o estímulo
que arranca de ti todos os sonhos reprimidos
julgas que já viveste na esperança o suficiente
para saberes
que a vida está do lado de lá de uma cortina
invisível e impalpável
mas que quase se sente
que te separa dos sonhos
menos do que uma linha
imaginária
não mais do que uma sensação incerta
de que tão pouco ou nada mais bastaria
(quando se fala em magia
não há quem não entenda)
tens todas as recordações para seres feliz
para que aconteça a esperança
que nem sequer sabes dizer
porque a esperança não é coisa
que possa ser.


domingo, 20 de março de 2016

Não me ensines a chorar



Tenho um respeito profundo
por quem morre de desgosto
não me ensines a imaginar
como se sobrevive
a tanta tragédia
a solidão tem contornos inimagináveis
nessa parte do mundo
que fica oculta
cá dentro de nós
onde ninguém vê
já me senti perdido
mas a maior tragédia não sei qual é
embora suspeite que seja
a dos outros
dos que morrem
e dos que vivem sós.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Ladrões da alegria


Declinam as horas
e o relógio insone  
às voltas
de olhos fechados 
sem horizontes
os ladrões da alegria 
já estão condenados
os sentidos
o dia
o que sinto
o que existe
a fantasia
o olhar 
de cada ausência 
do que parece
aguardar
surgir 
da sua clausura
como uma prece
com vontade
futura
o silêncio 
em que julgo ouvir
versos 
que não escrevo.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O rosto


De que          falamos 
quando 
                       falamos 
de              amor
de que ponto 
da nossa natureza
                  quando 
o amor fala
estamos 
suspensos de         
que bem
lembrados
de que alianças
e esperanças?



domingo, 3 de janeiro de 2016

O que importa e o que não



Dos olhos inundados
do momento
estremece
pensativa
a profundidade
do mar
na garganta
da vida
a afagar
a saudade.