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domingo, 27 de dezembro de 2015

A danada da poesia


A danada da poesia
(como é danada)
água
(nunca estagnada)
em todo o lugar
tudo cria
(e tudo estraga)
penetra até ao fogo da terra
e queima
sobe até ao frio dos céus
e gela
pelo caminho ameno
anela
e silencia
para que se ouça o acontecer
desta feita 
a poesia
(indisposta com o simulacro)
do Natal
que ama os bons
meteu-se com os que se fazem passar
por bons
(que odeia)
e acha que é imperioso ouvir mais
os outros maus
(que odeia menos que aqueles)
que não querem enganar.


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Se chegares


Porque o amor não é 
a mais vulgar das felicidades
é sobreviver à derrota
e ter alguma ilusão temporária
do perpétuo
o que sabemos é uma fonte
e o que temos
um baralho
de máquinas ruidosas
que destroem 
vertiginosamente
para serem úteis 
aos mortos que não pensam
nem sentem
porque o amor é 
a incompreensível verdade
que nos desgosta 
tanto
que nos mata 
de saudade
sem esperança
a mais vulgar das felicidades
não existe.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

sábado, 7 de novembro de 2015

Não sou daqui


Quando morro
nunca 
é para sempre
já morri mil vezes
mil
e o que me liberta
é sempre
 a mais insuspeita
das insignificâncias
talvez a foz de um rio
onde há um porto
que é lisboa
em mim
a partir
de antigamente
para sempre
porque sim.


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Sentirás

O sol tem um caminho
o poeta não
vai à aventura
e quando a memória
não ajuda
pede ao futuro
que  não se repita
a história
o poeta dá
ao presente
a voz
de quem não grita
mas sente
a razão
mais que a dor
dos nós
da mentira
o tempo silencia
mas o poeta
canta
o amor
que levanta
maior
mais que grande
o poeta
expande
bem de todos
a força da palavra
que a todos aproveita.

sábado, 3 de outubro de 2015

Tanto tanto doer


Me dói esta voz
de tanto cantar
as mãos e os dedos

de tanto tocar
me dói a guitarra
de tanto agarrar

a vida me dói
de tanto morrer
me dói o silêncio

de tanto escutar
o tempo e a cabeça
de tanto pensar

me dói o sonho
de tanto acordar
tudo me dói

de tanto não ser
me dói o que é bom
de tanto esperar

me dói a promessa
de tanto fazer
me dói o gosto

de tanto provar
me dói o prazer
de tanto viver

me dói o dia
de tanto nascer
me dói os rios

de tanto mar
me dói o céu
de tanto olhar

me dói dizer
de tanto calar
me dói ser

de tanto amar
me dói querer
de tanto ser

me dói não ter
o prazer de te comer.

sábado, 29 de agosto de 2015

Palavras de amor


Escrevo à viva força
que as palavras não me obedecem
e sem eu querer por vezes
florescem
bem mais do que confio
que frutos dessem
o poema
acaba sempre por ser
o que não quero
uma verdade
mas
que não me agrada
uma palavra que
para desespero
se atravessa
e quebra a toada
o poema
fica
sempre fora de mim
a fazer-me sentir
prisioneiro
da própria liberdade
o mundo não é
lugar recomendável
para quem sonha
há inquietação até
na alegria
como se não houvesse
inocência
nem nos sacrifícios
para deixar de ser
atormentado
pelo mundo demónio
e carne
quando me abandonaram
senti que estava finalmente
livre
mas não supus
nem imaginei
sequer por um momento
que estivesse só
com o silêncio dos meus passos
numa visão irreversível
do mundo vazio
sem ti.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Estás a ouvir


Os nossos pensamentos nada podem
nada são
as possíveis palavras
num deserto
sem bússola
beija-me
precisamos mais do que palavras
para sairmos da prisão
de palavras.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Sentir cansa


Cada vez sinto menos
Tanto menos
Quanto mais
Penso
Cada vez penso mais
Tanto mais
Quanto menos
Sinto
Sentir cansa
Sentir muito cansa
Imenso
E para aliviar
Penso
Sem descanso.


sábado, 23 de maio de 2015

A luz

A luz é diáfana
a manhã sinto-a
minha
o ar
pela primeira vez penso-o
mais íntimo do que nunca
Esta relação química literalmente
com o mundo
é a mais encantadora das histórias
das mais imaginárias
e não menos destituídas de fantasia
A minha atenção vibra com o que me envolve
O pior é a carga dos pensamentos
A agenda e não só
Tenho compromissos
E o menor deles não é o compromisso que tenho com a verdade
Para onde quer que vá
não consigo escapar a mim mesmo. 


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Morrer de amores


O que sobrevive 
à pré-história do amor 
o amor
a história do amor
ou as razões para morrer 
de amores?




sexta-feira, 1 de maio de 2015

Como nunca


O mais difícil  
são as distâncias
de impossíveis palavras 
no lugar do que é dito
escutar fonemas
como outras águas
brotando 
de um invólucro fissurado 
ver que há o fora das coisas
e que não é possível
falar das coisas por dentro
por não terem lá nada
ou nada mais
que o nosso pensamento
de ausências
difíceis.

sábado, 28 de março de 2015

O poema


Independentemente dos significados, que em poesia pode ser o menos importante ou o menos interessante, o poema toma o leitor por alguém que se vê, inopinadamente, diante de verdades e cenários que se lhe escondiam e que ele, em sonhos, sempre soube que existiam. 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Olhos de ver

Não vou entregar-me 
à tristeza
ela é asa 
cansada 
sobre o mar
seduz
a certeza do vento 
sopra
um mistério
empedernido 
não vou sequer escutar
não vou ter o prazer
da música
dos abismos
vou resistir 
ao apelo da tristeza
como quem resiste
ao adeus
e fica triste.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Podia ser
um laivo
do que nasce

a palavra
como o sol
nascente

a memória
confusa
iluminasse
o presente
podia ser
um laivo
de saudade.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Ficar no poema


Dói não poder 

ficar no poema
se fica num tempo 
inexplicável
como uma paisagem 
se nos depara
nos prende
numa viagem
que ainda não é de regresso.