tag:blogger.com,1999:blog-76512563479174129562024-03-16T23:27:10.105+00:00JÁ AGORA Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.comBlogger620125tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-40451649908825904732024-03-16T23:25:00.002+00:002024-03-16T23:26:38.426+00:00Do mundo ilusório dos desejos<div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">A educação tornou-se um assunto demasiado importante e demasiado sério, a par do ensino, para ser deixada ao acaso e à sorte das ondas e das correntes e dos interesses particulares. Ainda há poucas décadas, em Portugal, não havia educação, nem ensino, propriamente dito. A maioria das pessoas não ia a uma escola. A única escola, quando disponível, era a catequese papagueada por catequistas analfabetas e a igreja que, ainda por cima, falava latim. As comarcas contavam ainda com um tribunal que muito poucos sabiam como funcionava e que persistia em fazer-se representar por figuras e simbologias do tempo dos romanos. E isto era em Portugal, quatrocentos anos depois de terem dado voltas ao mundo, guiados pelas estrelas, nem sempre disponíveis, sem consumirem um côvado de combustível.<br /></span><span style="font-size: medium;">Sem consciência das realidades somos cegos ou, o que é pior, sonâmbulos perigosos e irresponsáveis. A educação e o ensino não são fins em si mesmos e é mais do que tempo para os especialistas em educação e ensino dizerem de sua justiça. O que faz com que muitas pessoas, que não são especialistas num assunto importante para elas, questionem e falem dele e tomem posição, não raro, tem a ver com a falta ou o vazio de soluções. <br /></span><span style="font-size: medium;">Aconteceu isso com a metafísica e as teodiceias e as teologias, mas foi preciso construir catedrais para dinamizar a economia e impulsionar o desenvolvimento em geral. É fundamental sobretudo dar sentido ao que se faz, se produz e se constrói. É para isso que também serve a educação e temos visto que, de vários modos, mais ou menos imprevistos e incontroláveis nas suas causas, fomos traídos pelo rumo que o progresso tomou. <br /></span><span style="font-size: medium;">O empoderamento garboso e triunfante de determinadas elites financeiras e políticas, e mesmo científicas e culturais, como se tudo a elas e só a elas se devesse, excepto as externalidades negativas, era aquilo de que não precisávamos mas que, se o tivéssemos previsto, nem por isso teríamos podido evitar. <br /></span><span style="font-size: medium;">Qualquer rumo, qualquer projecto, na educação e na política, em geral, começa com objectivos e propósitos cujos pressupostos de realização e de sucesso, em grande parte, são uma incógnita que se projecta num futuro incerto e ameaçador. Por mais que o saibamos, não temos como evitar esta exposição aos efeitos imprevisíveis e incontroláveis. <br /></span><span style="font-size: medium;">De um momento em que a educação é projectada em contextos de paz, de benevolência e entusiasmo, para dinâmicas e fins pacíficos, depressa se cai numa situação brutal de guerra, que nos faz sentir ingénuos e desprevenidos, ou incautos, culpados, ainda que arrependidos, de o termos sido, de termos confiado de mais na bondade e na alegria de construir pontes e edifícios e paraísos, que outros se comprazem em destruir e conspurcar. E isto é uma lição, mas também é um choque e uma condição que determina mudanças de rumo. É que, nem a educação, nem a economia, nem a política, nem a vida em geral, se deixam conduzir dócil e garantidamente, a partir de modelos, de verdades prévias, de futuros antecipados, e de boas intenções. Mesmo aqueles objectivos que temos por mais valiosos e justificáveis do esforço construtivo da sociedade, sem que o queiramos, podem ter que ser substituídos e adaptados a esforços bélicos, armamentistas e militares, numa tentativa de, pelo menos, salvar o que for possível daquilo que se andou a construir com tanto labor e sacrifício. <br /></span><span style="font-size: medium;">O mundo ilusório deixou de o ser apenas para os poetas. Até para estes as prioridades passam a ser outras, no campo de batalha os jovens precisam de saber trabalhar e sonhar com armas tecnológicas e com sistemas de comunicação e isso não se aprende numa recruta de três meses, como era há uns anos. É uma ironia trágica que os jogos de guerra das consolas das crianças, que tanto criticamos, se tenham tornado uma mais valia, como se já estivessem a antecipar o futuro. <br /></span><span style="font-size: medium;">A educação e o ensino serão aquilo que desejamos, se as circunstâncias e as condições o permitirem e nos deixarem. Esta consciência da realidade ajudará a ver as coisas mais em função daquilo que devem ser, protegendo-nos da frustração e do desaire de não serem como desejamos.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #c6dafc; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-28554810661141022472024-03-02T14:14:00.002+00:002024-03-02T16:33:06.940+00:00Ser ou não ser humanista<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Independentemente de serem ou não serem conciliáveis dogmas ou discursos religiosos com outros discursos ou mesmo com dados da experiência, o que não vou discutir,
por serem irrelevantes para a minha questão quanto ao humanismo e às publicações de um grupo de humanistas, quando penso em humanismo tenho sobretudo em mente que é o homem e apenas o homem
que dá significado e atribui sentido a tudo, incluindo o próprio homem e quaisquer noções de humanismo.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Partir desta simples constatação de facto é fundamental para entendermos a autoria do ser humano em tudo o que podemos reconhecer como cultura e reconhecermos que,
fora do ser humano, do indivíduo humano, há aquilo que não foi criado, nem produzido por ele e que, comummente, se designa de natureza, por oposição a cultura. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Esta constatação é fundamental ainda para definir a esfera do humano relativamente àquilo que não é humano. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Para ser humanista não basta ser contra tudo o que seja contra o homem, é ainda necessário ser a favor e promover tudo o que for favorável à sua realização.
Mas é ainda necessária uma condição sem a qual aquelas duas posições colapsam: reconhecer e respeitar a igualdade de direitos e liberdades de todos os indivíduos humanos (não
apenas quem nos apetece) e, no limite desta lógica, de todos os outros seres vivos e da natureza, porque a razão pela qual o ser humano deve ser respeitado e promovido é a mesma pela qual tudo o que não
é humano também o deve ser. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">E, quanto à liberdade de cada um agir sobre os outros seres vivos e sobre a natureza, ela só tem razão de ser na necessidade de sobrevivência à custa
deles. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Basicamente, o direito dos humanos relativamente aos outros humanos, numa simples lógica de igualdade, autonomia, liberdade e reciprocidade, é o direito de não ser
prejudicado por eles. Relativamente aos outros elementos da natureza, incluindo seres vivos, aplica-se o mesmo princípio. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Pensar em humanismo não pode passar ao lado destas considerações (humanas) de que o “tu” não é apenas o humano que eu reconheço
como tal é também o que, reciprocamente, me reconhece a mim. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Nas relações com a outra natureza, seres vivos incluídos, não posso esperar senão que me reconheçam em função das suas aptidões
e dinâmicas de interação física e bioquímica, mas não tenho um direito de disposição sobre eles para além das minhas necessidades de sobrevivência e, nas
disputas humanas que sobre eles houver, todo o abuso e dano carece de justificação. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Por aqui se vê quanto estamos longe de sermos humanistas que colocam o indivíduo humano no topo dos valores e, justamente por este ser o autor, a fonte e intérprete
dos mesmos, também o único responsável.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Nenhuma ideia deve ser, nem merece ser defendida contra um direito do homem, do ser humano, que o ponha em causa. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">As ideias, a maior parte das vezes, prestam-se ao papel de armadilhas poderosas para capturar e neutralizar, ou anular determinados homens. Mas não devem servir para isso, até
porque, se servem para capturar uns, também podem servir para capturar os outros. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Nesta ordem de ideias, mitos, deuses, religiões, filosofias, ciência, paganismo, judaísmo, cristianismo, islamismo, humanismo, enfim, toda a cultura, não são
mais ou menos racionais, são racionais, o mais e o menos não são atributos da racionalidade e os atos são racionais, as manifestações de cultura são atos, são racionais.
</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">É desta faculdade que, nos humanos, por efeito de uma necessidade de verdade (ter razão, estar certo), de direito (de acordo com a razão), moral, a que chamaria
instância de dever-ser, em função da ética, decorre aquilo que, vulgarmente, se designa por progresso. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Na minha teoria o progresso é uma consequência, efeito, resultado, das escolhas ditadas em função daquele dever-ser. Mesmo que não fosse assumido como
um programa e como objetivo, o progresso só poderá ser impedido, ou travado, por força das circunstâncias imprevistas, ou inelutáveis. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">O mecanismo que criou deuses e demónios é o mesmo que criou o humanismo e as tecnologias.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Ao dizer que não há racionalidade mais ou menos racional não estou a significar, nem a querer dizer, que todos os indivíduos pensam sobre os mesmos termos
com idêntico grau de consciência e de avaliação das possibilidades. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Cada indivíduo desenvolve mais ou menos atividade mental, intelectual, dentro de condições próprias, endógenas e exógenas, de acordo com situações
e contextos, mais ou menos acidentais, mais ou menos voluntários e premeditados, dirigidos ou preparados para o trabalho de pensar. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Assim, por exemplo, o labor intelectual subjacente à elaboração e escrita deste artigo, envolve mais atos de racionalidade e de conexão entre memórias,
onde a intuição opera e promove também memórias de conexões de memórias, do que se estivesse displicentemente a conversar, por exemplo, sobre o frio que faz hoje, mas a faculdade de
racionalidade é a mesma. E, por outro lado, há efetivamente um conjunto de conclusões e uma sistematização de informação, a par de um processamento de conhecimento daí
derivado, que é algo do mundo do pensado, inteligível, da linguagem, da codificação, mas que não deve considerar-se do mundo do sensível, da experiência. Não seria capaz
e não me parece que seja possível, por exemplo, transmitir estas ideias através de sensações não codificadas. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">E mesmo assim, codificadas, não posso ter certezas sobre a descodificação, por causa da subjetividade funcional e interpretativa do descodificador.</span></span></p><p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="background-color: #c6dafc;">Carlos Ricardo Soares</span></span></p>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-10724145032944463352024-02-24T00:47:00.000+00:002024-02-24T00:47:03.967+00:00Malfeitores<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Os sonhos eram feitos a partir</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">De imagens do que víamos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">E partilhávamos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Mas os nossos pensamentos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Inquietavam-nos com algo</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Que não sabíamos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Quando mais tarde recordávamos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Todas aquelas imagens</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Do mundo à nossa volta</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Eram as imagens que depois</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Abandonávamos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">E esquecíamos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Embora mais tarde nos surpreendam</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">E façam sentir saudade</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Inexplicável saudade</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Mas agora sabemos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Que a vida </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">É esta imparável mobilização</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">De insatisfações </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">De ânimos solidários </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">De sonhos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">E de pensamentos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">A desbravar espaços</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">A reclamar justiça</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">A exigir liberdade</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">A condenar malfeitores</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">A proclamar a verdade.</span></span></h4>
<p class="Normal"><span style="font-size: medium;"> Carlos Ricardo Soares</span></p>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-71681219626603613942024-02-17T00:09:00.005+00:002024-02-17T00:10:47.093+00:00Aproximações à verdade XXIV<div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm7"><br /></span><span class="tm7">Hilário: boas memórias?<br /></span><span class="tm7">Amiga: se tivesses que lembrar, em duas palavras, sem hesitar?<br /></span><span class="tm7">Hilário: uma inexplicável gratidão por todas as mulheres que me compreenderam<br /></span><span class="tm7">Amiga: e memórias más, ou menos boas?<br /></span><span class="tm7">Hilário: desculpa? não percebi. Ah, sim, o contrário?<br /></span><span class="tm7">Amiga: a vida também é feita de coisas desagradáveis<br /></span><span class="tm7">Hilário: nessas só penso quando algo me diz que já passei por isso e não gostei<br /></span><span class="tm7">Amiga: estávamos a falar de mulheres<br /></span><span class="tm7">Hilário: acredito num poder intuitivo para curto-circuitar mal entendidos<br /></span><span class="tm7">Amiga: como galã és um fracasso<br /></span><span class="tm7">Hilário: olhando para trás, diria um desastre<br /></span><span class="tm7">Amiga: mas houve mulheres que te compreenderam</span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm7"><br /></span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm7">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>
Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-54715979350676655902024-02-10T11:38:00.002+00:002024-02-10T11:38:38.527+00:00Imperativo de verdade, imperativo moral e imperativo ético-jurídico<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">A ética da responsabilidade é uma redundância que se justifica pela necessidade de enfatizar o dever. Eu diria que a fonte do dever é a função
de verdade inerente ao inseparável binómio consciência/racionalidade. O humano é a fonte de verdade e de falsidade, de mal e de bem, além de ser produtor de causas, mas não de efeitos.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">O sentido do dever e o sentido do direito são correlativos, de um ponto de vista lógico, mas não percepcionados, ou nem sempre percepcionados como tais, ou seja,
quando falamos de direitos do indivíduo, afirmar um direito da pessoa humana é, implicitamente, ou correlativamente, ou consequentemente, afirmar o dever de respeitar esse direito. Mas a afirmação
e prescrição de um dever, na prática, revela-se algo mais difícil de aceitar e de sustentar e de legitimar do que afirmar e prescrever um direito. Este é entendido como uma conquista natural,
como algo devido, enquanto que aquele não, antes pelo contrário, por hábito e tradição, tem havido deveres a que não correspondem direitos positivos, sobretudo para quem está
numa posição de sujeição ou escravatura, e situações de direitos e privilégios a que não correspondem deveres.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Normalmente, as declarações de direitos fundamentais do homem são declarações de direitos e não de deveres, como se bastasse aquela. Talvez
por serem declarações originadas de revoluções político-sociais, reivindicativas, de libertação, a tónica nos direitos pareceria, à primeira vista, ser mais favorável,
evidenciando a conquista desse estatuto.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Se, de um ponto de vista lógico, parece não fazer diferença entre declaração de direitos e declaração de deveres, uma vez que a um direito
corresponde um dever, o meu direito à vida implica o meu dever de respeito pela vida dos outros, na prática, é muito diferente para as pessoas dizer que têm direito, ou que têm o dever. Assim,
enquanto o dever é mais expressamente prescritivo de ação, por exemplo, quando diz “deves circular pela direita”, em vez de “tens o direito de circular e de ultrapassar pela esquerda”,
ou, “é proibido circular pela esquerda da faixa de rodagem”, já o direito é muito menos enfático e expressamente prescritivo. Assim, o meu direito à vida significa sobretudo que
todos, incluindo eu, se devem abster de desrespeitar, violar, aquele direito. No fundo, é um dever de omissão, de proibição de uma ação censurável. Ou seja, não envolve
nenhum imperativo, ou ordem, de preocupação ou responsabilidade pela vida do outro. Se em vez de dizermos a um rico poderoso que ele tem direitos fundamentais, lhe disséssemos que ele tem deveres fundamentais,
o sentido e eficácia dessas prescrições poderiam ser maiores. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Diria que, desta forma, os direitos são definidos pelo mínimo de quem não pode e pelo máximo de quem pode mais, sendo que o dever também é pelo
mínimo. O direito à liberdade de um carenciado, sem poder, não lhe assegura as mesmas condições do direito à liberdade de um rico e poderoso. E não impõe nenhuma obrigação
específica ao rico e poderoso. Ou seja, são iguais quanto aos deveres que supõem, ou implicam, mas diferentes quanto aos direitos efetivos que envolvem. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Talvez devêssemos pensar um pouco mais no caso do código da estrada, que afirma, predominantemente, deveres e proibições, em vez de direitos e faculdades. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Não vou ao ponto de defender que, por defeito, ou como regra, o ordenamento jurídico definisse deveres e só por excepção direitos, à semelhança
do direito fiscal, em que o caráter unilateral do dever é muito acentuado, mas talvez se pudesse pensar numa solução em que a afirmação geral e abstrata de um direito civil não
se traduzisse, na prática, numa vantagem para os favorecidos, que não têm nenhuma obrigação ativa, e numa desvantagem para os desfavorecidos, para quem o direito se revela, praticamente, vazio
de efeitos.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Quanto aos direitos fundamentais constitucionais e à declaração universal dos direitos do homem, o serem estabelecidos pelos direitos e não pelos deveres
parece-me bem e está em consonância com serem declarações de direitos face aos poderes, nomeadamente políticos, do Estado. </span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Numa perspetiva mais civilística da ordem jurídica, há sempre quem entenda que o seu direito à vida é inviolável, mas não pense que o
direito à vida dos outros o é igualmente. Para quem assim pensa poderia ser mais pedagógico prescrever o dever de respeitar o direito à vida, colocando a tónica do direito no outro e o ónus
no eu. Até em tribunal, poderia ser mais fácil invocar e arguir o dignificante e nobre dever de respeitar do que o “penitente” e humilhado direito de ser respeitado.</span></span></p>
<p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Se há um imperativo categórico, ele há-de ser categórico para ser imperativo e não o contrário. E há-de ser categórico por força
da necessidade moral, resultante da lógica de identidade e de não contradição, da função de verdade que rege o processo de pensamento consciente. É no domínio da consciência
e do conhecimento, da ciência, que reside a esperança, não propriamente numa responsabilidade/responsabilização, mas numa humanidade que faz boas escolhas. Também faz falta enfatizar
uma ética da responsabilidade por boas escolhas, embora seja mais popular e bem aceite punir do que sancionar positivamente. A punição não é vista como discriminação, enquanto
que o reconhecimento tende a ser uma forma de desvalorizar, ainda que indiretamente, os não contemplados.<br />Uma das dificuldades dos humanos em conhecer a realidade está no facto de termos uma percepção
qualitativa da realidade. Como organismos vivos, essa percepção é fundamental e até dispensa o conhecimento. O que eu designo de imperativo de verdade, ou simplesmente função de verdade,
como necessidade lógica, princípio do pensamento lógico, ou inerente ao princípio de identidade e de não contradição, por ser meramente teórico-abstrato, e resultar de
uma faculdade intelectual, de exercício, em vez de uma determinante necessidade natural inelutável, mesmo quando é ativado e exercido pelo indivíduo, tende a ceder aos reflexos de sobrevivência
e a toda a cultura acomodatícia do interesse, individual e de grupos, ao ponto de ser corrente que, na maioria das situações, as pessoas só considerem verdadeiro, justo, o que lhes for favorável,
ou concordante, não propriamente com o que pensam, mas com os seus interesses. O imperativo de verdade opera numa instância logico-quantitativa das representações mentais, enquanto que as percepções
humanas são percepções qualitativas da realidade. Estas são fundamentais para a sobrevivência e até dispensam aquela função de verdade, que é normalmente a fonte
de todos os problemas sociais. É ela que coloca em confronto os egoísmos e as subjetividades e não dá tréguas.</span></span></p><p class="Normal tm5"><span class="tm6"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></p>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-21684277133405511752024-02-05T23:49:00.002+00:002024-02-05T23:49:57.651+00:00O ópio do povo<div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm7">Karl Marx, talvez a pensar que estava a fazer uma crítica severa à religião, com a frase </span><span class="tm8">"A religião é o ópio do povo"</span>, <span class="tm7">talvez não tenha pensado que dificilmente lhe faria melhor elogio. Assim o merecesse a religião. Haver algo
que, sem ter os efeitos secundários, intelectual e fisicamente devastadores, sem as náuseas, vómitos, ansiedade, tonturas e falta de ar, de uma droga como o ópio, tivesse apenas os efeitos de alívio
da dor e da ansiedade, diminuição do sentimento de desconfiança, euforia, flash, sensação de bem-estar, tranquilidade, letargia, sonolência, seria uma solução provavelmente
preferível à luta de classes.<br /></span></span><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Mas eu não queria ir por aí. O que faria arrepiar Dante Alighieri, duvido que mentes nadas e criadas em ambiente de vedetismo pimba e fervor futebolístico clubopartidário, que induzem ardilosamente um farrapo, passe a expressão, sem
intenção depreciativa, a sentir-se e a comportar-se como um rei, passe a expressão, sem intenção apreciativa, tenham alguma possibilidade de serem resgatadas porque, infelizmente, julgo eu,
se houvesse forma de o fazer, e outro mundo para oferecer, elas lutariam até à morte para ficarem no mundo que é o delas, até porque teriam que reaprender tudo.<br /></span></span><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Por outro lado, por mais que se promiscuam e se interpenetrem, os poderes alimentam-se uns dos outros e uns aos outros. O jogo nunca está ausente e as bancadas também
fazem parte do jogo. Os espectadores, cada vez mais fazem parte do espectáculo, sobretudo se forem espectadores qualificados. Existe um efeito de comprometimento, por exemplo, entre políticos e agentes do futebol,
que é mais um ingrediente a adensar as tensões. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">No turbilhão e na barafunda, todos credibilizam todos e ninguém credibiliza ninguém. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">É tudo ao molho e fé em Deus. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Até
Deus tem de estar lá e, se possível, em destaque, com a devida veneração.<br /></span></span><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">A sensação que tenho é que ninguém escapa a este espectáculo total e não há instância onde possa apresentar queixa de o mundo
ser tão triste assim. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Assim, à semelhança do reino dos corruptos, traficantes e contrabandistas que zombam das alfândegas da lei e da fé. Assim, à semelhança dos que apostam
na visibilidade e têm prejuízo nisso. Porque é preciso dar palco a toda a gente se se pretende conhecer a gente, dar liberdade para ser e se mostrar quem é para se poder agir em conformidade. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">No
futebol, na religião, na guerra, na política, para só falar em áreas competitivas tradicionalmente conflituosas e devastadoras, em contraste com as ciências, a filosofia, as artes, a literatura,
que podem ter a plumagem e os tiques daquelas, mas não têm as garras, nem o dinheiro, as insígnias, as bandeiras, os hinos, os espíritos (desportivo e outros) são o piloto, a razão
e o princípio que todos esperam que prevaleça, contra tudo e contra todos. Todos esperam que, a cada momento, o seu rei seja rei para si como para os outros. E esta condição das massas, a necessidade
de alguém, ou de algum fantoche, que exerça a autoridade, que se imponha a todos e não apenas a uns quantos, ainda é mais preocupante e triste se for uma fatalidade.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></div>
Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-55280641850097354672024-01-28T23:30:00.002+00:002024-01-28T23:31:18.914+00:00Destinos<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Senti que era ali o fim</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">da terra</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que o mar já eras tu</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">o sol brilhava</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">como eu via os teus olhos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">os horizontes</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">destinos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">sem nenhuma tempestade</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">anunciada.</span></span></h4><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-36986180993685069022024-01-20T23:47:00.003+00:002024-01-23T14:55:20.386+00:00O lado de fora e o lado de dentro das grades<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8"><br /></span></h4><h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Um fado demencial</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">cantado ao ritmo metalúrgico</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de guitarras enlouquecidas</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">por lagartas de blindados</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">numa invasão</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">podia ser evasão</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">mas grades intangíveis</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">só têm um lado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">o da prisão</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">o lado de dentro.</span></span></h4><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-17246039161093053932024-01-13T22:15:00.002+00:002024-01-20T23:43:28.952+00:00Deus não fala<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Aquele é um lugar de silêncio</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Deus não fala</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">a possíveis perguntas</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">todas as respostas estão dadas</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">em grandes abstrações</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">na semiobscuridade</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">os visitantes ajoelham</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">diante do crucificado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">ainda antes de confessarem</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">a sua humilde condição de pecadores</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">contritos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de mostrarem arrependimento</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e de pedirem perdão</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">sabem que estão absolvidos </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">pela lei do amor </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">antes de serem julgados</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">pelo supremo juiz</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">infinitamente bom</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">misericordioso e abstrato</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">em troca de um propósito firme</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de emenda</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e de penitência orando</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">serão redimidos </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">pela prática da virtude</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e pela fé na adoração </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e com o conforto que sentem</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">do dever cumprido</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">levantam-se e saem </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">para o bulício exterior</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">com a luz </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">a bater-lhes nos olhos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">lembram da realidade da vida </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e do que há a fazer.</span></span></h4>
<div style="text-align: left;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: large;">Carlos Ricardo Soares</span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-36878787195760954502024-01-07T22:36:00.002+00:002024-01-07T22:36:40.131+00:00Absolutamente<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">São demasiados rios</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">para tão poucas margens de erro</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">demasiadas tempestades</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">para tão frágeis pontes</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">insustentáveis pontos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de vista alegre</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">inconsistentes margens </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">na fluidez</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">das miragens</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">da solidão</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">qualquer coisa de</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">absolutamente.</span></span></h4><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-21705958205376934952023-12-30T21:43:00.006+00:002024-01-20T00:10:13.933+00:00De ti<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Havia a rua </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">quase no fim</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">o aqueduto </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">à esquerda</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">pelo botânico</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">passo a passo</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">se me esperasses </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">no jardim </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de plantas exóticas</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de ultramares só meus</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">intermináveis enfim</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">sem cansaço</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">ao adeus</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">os meus olhos erguiam </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">árvores de respiração </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">da formosura que vi</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">tudo me lembras</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e tudo me lembra</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de ti.</span></span></h4><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>
<p class="Normal"> </p>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-84072091570107641782023-12-09T16:21:00.002+00:002023-12-09T16:23:00.953+00:00Se não podes lutar, nem fugir, resta o SOS<div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Perturbador e desmoralizante é percebermos que para onde quer que fujamos, para onde quer que dirijamos as nossas queixas, lá está mais um partido, ou
sindicato, ou ordem, ou exército (angariador de angustiados e perseguidos, a firmar contrato com uma máfia certificada pela democracia, ou por outra merda qualquer, para expatriados à força) a alistar-nos
nas suas falanges. <br /></span><span class="tm8">Foges de um partido, entregas-te nos braços de outro. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Foges dos partidos entregas-te nos braços dos bancos e dos sindicatos. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Tens de vender o que vales e há sempre uma missão
de rua, caridosa, que aceita os teus despojos e a tua revolta, se a tiveres, para lhe atribuir um valor simbólico. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Queixamo-nos de que as instituições falharam e nos traíram, e hoje sabemos que
o fazem impunemente, mas na realidade nós nunca fizemos qualquer acordo com elas, caímos nas mãos delas e foram elas que prometeram, umas às outras (nem foi a nós) e ao mundo e aos melhores
deuses do olimpo, fazer por nós algo que, sinceramente, nunca acreditamos que quisessem fazer. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Mas como vinculá-las e obrigá-las a cumprir as suas promessas?</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-86970799285203219972023-12-02T12:02:00.003+00:002023-12-02T12:03:32.349+00:00Saia Sete-Estrelo<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Se houvesse outro azul</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">outro mar outro céu</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">se as palavras dissessem por mim</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e eu só as ouvisse</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e logo entendesse tudo</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">se não fosse eu a dizer por palavras</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que a mim mesmo digo</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">ainda assim</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">a tua saia de sete-estrelo</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">seria inconfundível ao crepúsculo</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">mas é muita sorte descrevermos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">aquilo que ambos vemos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e pensarmos que nos entendemos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">porque realmente </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">não se trata de um jogo.</span></span></h4><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="background-color: #d9ead3; font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-3480465399825482622023-11-26T22:38:00.005+00:002023-11-26T22:39:17.288+00:00O presente é a única forma de estar no tempo<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">O presente é a única forma </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de estar no futuro</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e no passado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">é a única forma de estar</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">no tempo</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">aqui</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">ou em qualquer lado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">enquanto me distraio</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">com o diferido</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">sou ultrapassado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">por ter vivido</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">numa lua cheia.</span></span></h4><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-87796928067662635612023-11-21T22:20:00.002+00:002023-11-21T22:20:50.948+00:00Castro Laboreiro<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Por Castro Laboreiro</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">um intruso</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que caminha </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">milhares de anos</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">até chegar aqui</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">ao refúgio dos lobos </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que me seguem</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e já os pressenti </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">na sombra dos carvalhais</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">pelos bosques </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">tropeço em calhaus </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">no mato molhado almejo </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">por vales e corgas</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">ao fundo um prado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">batido pelo sol </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">inspiro o ar almiscarado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e lá no alto azul</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">com asas colossais</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">águias dão voltas </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">tão suaves</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que nem parecem reais</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">como este riacho</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">a cortar a passagem </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e mais abaixo defronte</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de bela arcada uma ponte </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de pedra tão antiga</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que parece segura </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de sempre ter estado ali </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">erguida</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">sobre a verdura espessa</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que abriga lontras e rãs</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">e o mesmo se diga</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de árvores tombadas</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">no ervaçal de hortelãs</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">donde salta em alvoroço </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">natural</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">um corço assustado </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">como se fugisse</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">de um caçador feudal</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">fico arrepiado</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">com tal beleza</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que nem penso </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">que outras passaram</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">afinal</span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">onde está aquela ponte </span></span></h4>
<h4 class="tm6 tm7"><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">outras pontes desabaram.</span></span></h4><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div><span class="tm8" style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-11459253973290736412023-11-14T22:24:00.007+00:002024-02-16T22:16:32.040+00:00Aproximações à verdade XXIII<div class="xdj266r x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs x126k92a" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Hilário: elas são tão irreprimíveis nos seus contornos</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Amiga: como os sonhos não deviam acabar</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Hilário: tão possíveis como os subornos </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Amiga: podem escaldar</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Hilário: tão soberanas nas formas</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span>Amiga: como os instintos obedecem</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Hilário: tão insondáveis no sentir</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Amiga: quanto mais parecem.</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-size: medium;">Carlos Ricardo Soares</span></div></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-35624239153128095922023-11-04T22:42:00.004+00:002023-11-04T22:51:12.119+00:00A racionalidade, de mecanismo básico de sobrevivência a faculdade de pensamento e inteligência<h2 style="text-align: left;"><span><span class="tm9"><span style="font-size: medium;"><h2 style="text-align: left;"><span style="font-size: medium; font-weight: normal;"><span class="tm7">Darei por muito bem aplicado o meu propósito de contribuir com algumas notas relativas ao que penso sobre os temas da racionalidade e da liberdade, da racionalidade como faculdade
humana de sobrevivência, de conhecimento e de inventividade, e da liberdade como exercício de racionalidade.<br /></span><span class="tm7">São temas charneira do meu pensamento sobre o que é “ser humano”. Distinto deste é o problema de saber o que é “o ser humano”.<br /></span><span class="tm7">A
minha tese é que a racionalidade é um mecanismo básico de sobrevivência, que os humanos aplicam a uma vastíssima gama de situações, muitas das quais não têm a ver
com a sobrevivência, mas resultam de fatores culturais.<br /></span><span class="tm7">Um indivíduo humano que não tenha a faculdade de racionalidade, dificilmente sobreviverá sem a ajuda dos outros. E, se for um indivíduo
de outra espécie não conseguirá sobreviver.<br /></span><span class="tm7">A consciência da racionalidade permite aplicá-la a todo o tipo de situações, concretas ou ficcionadas, seja através de
imagens, palavras, números, enfim, a racionalidade pode transformar tudo em linguagem e a linguagem, em praticamente tudo.<br /> </span><span class="tm7">Pode multiplicar e desmultiplicar mundos e visões.<br /></span><span class="tm7">A racionalidade permite-nos escolher, dentro dos limites das possibilidades e estas variam muito de indivíduo para
indivíduo, por fatores individuais endógenos e exógenos.<br /> </span><span class="tm7">A liberdade é um exercício de racionalidade. Dizemos que não temos liberdade quando não podemos escolher. Esta falta de liberdade pode ser total, ou absoluta,
quando não podemos escolher de todo, ou parcial, quando temos um leque de opções, mais ou menos extenso e variado.<br /></span><span class="tm7">Se os limites nos são impostos naturalmente, isso é um constrangimento
natural, se nos forem impostos por outros indivíduos, ou pela sociedade, isso é um constrangimento social, político, cultural, ético, jurídico. Os limites morais são os que o indivíduo
estabelece para si mesmo.<br /></span><span class="tm7">A questão dos limites morais coloca-se quando existe possibilidade de não respeitar os limites parciais ou relativos que são impostos pela sociedade, ou por outros indivíduos.<br /></span><span class="tm7">A
racionalidade exerce-se, ou opera sobre dados, ou termos discerníveis. Podem ser sons, números, volumes, palavras, sinais, quantidades, qualidades, enfim, tudo o que conhecemos e tudo o que se possa imaginar.
Esta liberdade de pensamento é ilimitada, no sentido em que só tem como limite a capacidade de estabelecer relações.<br /></span><span class="tm7">A racionalidade é pensamento e, como o pensamento, também
é ilimitada quanto ao campo da sua aplicação, exercício, ou operação.<br /></span><span class="tm7">A liberdade é uma condição biológica, viva, concreta, física, que pode
ser ilimitada quanto ao pensamento, mas é limitada por fatores endógenos e exógenos que podem assumir natureza física, mais ou menos inelutável, como já referi.<br /></span><span class="tm7">A faculdade de racionalidade, que permite distinguir e estabelecer relações entre coisas, ideias, enfim, tudo o que seja suscetível de ser
percecionado, pensado ou ter significado, nos humanos, pode operar sobre vastíssimos domínios, ou objetos, não apenas da experiência direta dos sentidos periféricos, mas também da experiência
indireta das representações mentais, das ideias, dos números, das formas, dos conceitos, das teorias, das crenças, dos interesses, dos valores, dos sentimentos, dos significados e dos sentidos que
se dão.<br /></span><span class="tm7">Certamente que essa faculdade não é conhecimento, nem resolução de problemas, mas não há conhecimento, ou seja, ninguém poderá ter a experiência
de conhecimento, se não tiver a aptidão, ou estiver impedido, de usar a faculdade de racionalidade.<br /></span><span class="tm7">O uso que se faz dos termos racionalidade e irracionalidade é tão amplo e, por vezes, tão
contraditório, que apresenta a racionalidade como boa e a irracionalidade como nefasta, sendo esta, tantas vezes, acusada de todos os males que se poderiam imputar aos humanos.<br /></span><span class="tm7">Encontro uma justificação
plausível para este entendimento. Em geral, confunde-se racionalidade com verdade, com o que está certo, com retidão, com direito, com ciência, com aquilo que resolve problemas, que tudo devia, ou
deve ser. Irracional é o resto, o que está errado, que é nocivo, que é perigoso, que causa problemas, que é injustificado, independentemente de ser censurável ou não.<br /></span><span class="tm7">Este
uso, tão arreigado nos nossos hábitos de comunicação e de linguagem corrente, dificulta, se é que não impede, que vejamos a racionalidade com outros olhos, ou seja, que entendamos
a racionalidade como a faculdade humana que está presente em toda a ação dos indivíduos, de tal modo que muito daquilo que designamos como irracional, de facto é tão racional como
aquilo que designamos propriamente de racional.<br /></span><span class="tm7">O cerne dos problemas da humanidade, resultantes dos seus comportamentos ou produzidos por estes, não está no serem estes racionais ou não, está
no serem problemas.<br /></span><span><span class="tm7"><span>Carlos Ricardo Soares</span></span></span></span></h2>
<p class="Normal tm6" style="font-weight: normal;"><span class="tm7"></span></p></span></span></span></h2><div><br /></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-84377258246342231532023-10-27T21:35:00.002+01:002023-11-12T23:30:47.806+00:00O Direito é o limite<span style="background-color: #d9ead3; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Partilho da tese de que o homem é um estado da natureza em que esta adquire certa consciência e a faculdade de racionalidade e a capacidade de operar na natureza, num âmbito mais sofisticado (sem deixar de ser natural, embora cultural) do que aquele em que operam os elementos físicos que, culturalmente, distinguimos de nós, humanos. </span></span><div><span style="background-color: #d9ead3; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Diria que o ser humano acrescentou à tabela periódica alguns elementos que agem e reagem com aqueles de uma forma brutal e nunca vista antes. Nada disto é mais do que a natureza a funcionar. Nem acredito que haja nada fora da natureza. </span></span></div><div><span style="background-color: #d9ead3; font-size: medium;"><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">O que acredito, e parece constatar-se, é que a natureza (o homem) criou a cultura e criou deuses, e criou Deus e criou as bombas e faz as guerras, as leis, a ética, a moral, o direito, a concordância, a ordem e o caos, a vida e a morte. Realmente, podemos acusar a natureza de tudo, mas só estaremos a acusar-nos a nós próprios; como podemos desculpar a natureza de tudo, para nos desculparmos. Qual é a parte da natureza que não é a voz da natureza? Que não é a consciência em que a natureza culminou? Que não tem responsabilidade? A natureza cindiu-se em partes distintas? Deixou de ser uma e passou a ser múltiplas? Quantas natureza existem? E o que têm de comum entre elas? O que é que na natureza, senão o homem, pode colocar estas questões, dar-lhes sentido e tentar responder-lhes?</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">Se a humanidade se autodestruir e destruir o mundo que criou, podemos dizer que será a natureza a fazê-lo e nem ficará natureza que possa lamentar isso ou acusar alguma natureza disso, admitindo nós que o homem é o tal expoente da natureza capaz de fazer essa avaliação.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">O ser humano não tem as faculdades e as liberdades e as capacidades de outros elementos da natureza, mas tem algumas que são únicas e que são incomparáveis, como a consciência, a racionalidade e a liberdade de escolha (dentro das possibilidades). Não temos o poder de um vulcão, ou de um tornado, ou de uma estrela que explode, mas temos a capacidade de usar ou não a bomba atómica. </span></span></div><div><span style="background-color: #d9ead3; font-size: medium;"><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">O quadro de possibilidades de escolha que fomos capazes de proporcionar-nos ao longo da história, não tem paralelo com o quadro, praticamente fixo, com que se deparam os outros animais.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">Se não soubermos reconhecer até que ponto está nas nossas mãos preservar, não a nossa natureza geral que, independentemente da nossa vontade, será sempre transformada numa massa natural, como já agora é quando morremos, mas a nossa natureza particular de seres vivos conscientes, racionais, livres, podemos deitar a perder aquilo que, pela própria natureza das coisas e da racionalidade, teremos o poder, mas não o direito de fazer.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">O Direito é a fronteira que o homem não pode ultrapassar, que o separa da sua própria natureza, sob pena de se negar a si mesmo.</span></span></div><div><span style="background-color: #d9ead3; font-size: medium;"><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;"><h2 style="color: black; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 22px; margin: 0px; position: relative; text-align: left;"><span style="font-size: medium; font-weight: normal;">Carlos Ricardo Soares</span></h2></span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-72930512916016133882023-10-24T20:39:00.006+01:002023-11-12T23:31:25.763+00:00A tirania do mérito e a meritocracia<span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">Não resisto a dizer umas coisas sobre a tirania do mérito e a meritocracia.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">É da máxima importância que os poderes políticos, a quem cabe a governação e a implementação de mecanismos de incentivo ao desenvolvimento, porque é incontestável que este pode e deve ser promovido pelo Estado, assumam as questões do mérito num plano em que o mérito é das variáveis em que o poder político terá mais hipóteses de contribuir para a realização dos seus objetivos de boa governação, de promoção da ciência, tecnologia e cultura para o desenvolvimento do país.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">O próprio conceito de mérito é rebelde às tentativas de o reduzirmos à ideia de merecimento pelo esforço, pela dedicação, ou pelo trabalho. Nesta perspetiva, o mérito de um perdedor numa competição pode ser maior do que o do vencedor.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">Nas sociedades liberais, e nas outras não será muito diferente, o resultado, o produto, a mais-valia, a virtude, e o próprio talento individual, tendem a ser critério de mérito daqueles a quem sejam devidamente imputados. Normalmente é o mercado que trata disso. E como nem todo o resultado, ou produto, ou atividade, têm o mesmo valor, num determinado momento, ter mérito não significa a mesma coisa para duas situações diferentes.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">O mérito do marcador do golo não tem o mesmo valor do mérito do colega que lhe passou a bola para ele marcar. No entanto, mesmo nestes casos do desporto, o mérito de quem passou a bola pode ser reconhecido por toda a gente como muito superior ao de quem marcou. Neste exemplo, e noutros, o mercado não reconhece o mérito pelo valor funcional, pessoal, social, estético, ou mesmo ético. O mercado é cego relativamente a isso.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">O mercado só tem olhos para o valor de mercado, ou seja, que se exprime em unidades monetárias. E não será porque se apele à boa vontade dos agentes económicos que estes passarão a atribuir mais valor monetário a alguém pelo mérito (não monetário) de algo que faça.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">Assim, temos um desencontro, muito inconveniente para a sociedade e para a promoção dos seus pilares de sustentação e de desenvolvimento, entre aquilo que, sendo de reconhecido mérito, humano, social, cultural, científico, estético, ético, o não é efetivamente no plano do reconhecimento económico.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">Por outro lado, este desencontro vai-se exacerbando à medida que contribui para reforçar os investimentos e as atenções e as expectativas, não tanto naqueles méritos, que o são reconhecidamente como vitais, mas preferencialmente nos outros.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">As implicações negativas, para a economia e para o desenvolvimento social, deste fomento induzido pelo mercado, podem e devem ser contrariadas pela ação e pela intervenção do Estado, nomeadamente, através de políticas de incentivo e apoio, através do reconhecimento pessoal e patrimonial do mérito.</span><br style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;" /><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;">De preferência, passe o sarcasmo, que não se limitasse a atribuir medalhas de mérito, ou de mérito póstumo e que não fossem para quem já teve o seu mérito reconhecido.</span></span></span><div><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; text-align: justify;"><h2 style="color: black; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 22px; margin: 0px; position: relative; text-align: left;"><span style="font-size: medium; font-weight: normal;">Carlos Ricardo Soares</span></h2></span></span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-49930344262114059752023-10-12T11:20:00.002+01:002023-10-12T22:04:36.897+01:00Aproximações à verdade XXII<p class="Normal tm5 tm6"><span style="font-size: medium;">Hilário: amar é pelo bem que sabe, pelo gosto que dá</span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: e o sabor que tem</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: pela vontade que há, pela ideia que se faz do que é</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: que será</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: pela falta que faz o bem desejado</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: pela dor persistente do amor ausente</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: amar é pelo próprio poder de escolher</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: pela liberdade de fazer</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: pelo prazer de dar prazer</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: ser amado é ser escolhido</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: ninguém pode escolher ser amado</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: quem quer ama</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: não é amado quem quer</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: ninguém tem esse poder</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: ninguém tem o direito de ser amado</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: mas temos o dever de amar</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: e, se não amares, que te pode acontecer?</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: sabes a resposta ou perguntas para saber?</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: sempre amei, não sei o que é não amar</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: o mesmo digo eu, tenho experiência de amar e de odiar, mas não isso de não amar</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: no entanto, há muitas pessoas que não amas nem odeias</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: há, haverá e sempre houve, podemos amar quem não conhecemos?</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: isso do conhecer é muito relativo, até que ponto se pode conhecer alguém?</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: voltando ao dever de amar, em que é que consiste, se é que existe?</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: nem as autoridades, nem a polícia, te perguntam se amas ou deixas de amar e não há sanções para isso</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: não perguntam, nem estão autorizadas a fazê-lo, até o tribunal está inibido de se meter nesses assuntos, porque não há leis
sobre o direito e o dever de amar e o tribunal trata de leis</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: nunca ouviste falar na lei do amor?</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: já estava à espera dessa, do dever de amar a Deus sobre todas coisas</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Hilário: e ao próximo, como a si mesmo</span></span></p>
<p class="Normal tm5 tm6"><span class="tm7"><span style="font-size: medium;">Amiga: acreditas nessa lei? Que tens esse dever e que, se tens esse dever, então toda a gente tem ou que, se toda a gente tem esse dever, então tu também tens?</span></span></p>
<p class="Normal"> <span face=""Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: #d9ead3; color: #050505; white-space-collapse: preserve;"> Carlos Ricardo Soares</span></p>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-60303860428595465782023-10-10T16:12:00.004+01:002023-10-12T11:23:17.334+01:00Os humanos são incorrigíveis?<p class="Normal tm6 tm7"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8"></span><span class="tm8">É com grande amargura e desgosto que penso que as guerras têm de ser encaradas como uma fatalidade, pelo menos, depois de começarem.
São como as catástrofes que não somos capazes de evitar. No caso das guerras a catástrofe é o próprio “elemento” humano. Não é uma catástrofe como
as naturais, que são desencadeadas por ocorrências físicas meramente mecânico-causais. No caso das guerras, a catástrofe não é apenas uma consequência da acção
humana, é um objectivo clara e expressamente assumido.<br />Os que se preparam para a guerra e a desencadeiam nem sequer o fazem em segredo, porque antes de acontecer ela se anuncia, de variadas formas que os especialistas
não podem ignorar. Dir-se-ia que a guerra começa muito antes de acontecer, como todas as catástrofes. Quem desencadeia uma guerra, sobretudo se é uma grande potência no xadrez internacional,
sabe o que lhe pode acontecer e sabe o que lhe vai acontecer, porque o que puder acontecer-lhe vai acontecer-lhe e ela sabe. As catástrofes não duram sempre. Uma catástrofe não é um triunfo
sobre nada, nem ninguém. No fim da catástrofe, triunfam os que sobrevivem.<br />Quem desencadeia uma guerra sabe que não sobreviverá a essa catástrofe, que vai ser derrotado e aniquilado
pela derrocada dos explosivos que activou. As guerras, ainda antes de começarem verdadeiramente, já o são como ameaças das consequências que virão a ter. O amor, pelo contrário,
quando começa não ameaça nada. Sabendo disto, os profissionais da guerra deviam evitar, até por dever profissional, promover condições que se tornarão trágicas para os
outros, para aqueles que não gostam, nem precisam de guerras, porque viver e deixar viver é melhor do que impedir de viver.<br />Para fazer guerra, ou melhor, para desencadear uma guerra, é preciso mais,
muito mais do que animalidade, ou instinto de sobrevivência. E é preciso mais, muito mais, do que racionalidade ou sentimentos.<br />A hostilidade, o ódio, o medo galvanizador, o calculismo e o ressentimento
promovido e alimentado por narrativas delirantes, ou pelo delírio narrado, prefiguram de tal modo as ameaças do abismo, que a dinâmica política, militar e social é contaminada e arrastada
pelo desespero de causa. A serenidade e a frieza tornam-se impossíveis no momento em que mais vantagem podiam ter e mais falta fazem.<br />Uma guerra não começa se não houver contendores, partidos,
rituais, gregarismo, armas, embriaguez, crença nas representações das hostes, do inimigo e, se não houver um desejo de vitória pela força, há certamente um furor orquestrado
para infligir dor e sofrimento.<br />Depois de começar, uma guerra é um monstro que não precisa de mais nada que o desejo de vingança, e esse vai crescendo sempre, nos beligerantes.<br />A guerra
é humana. Paradoxalmente, é desumana. Por ser tão temível e tão horrível é que os humanos acreditam no poder da guerra.<br />Os humanos têm-se revelado incorrigíveis,
ao longo da história, comportando-se como se estivesse nas suas mãos fazer a guerra, mas não a paz.</span></span></p><p class="Normal tm6 tm7"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8"><span style="background-color: #d9ead3; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: medium; white-space-collapse: preserve;"> Carlos Ricardo Soares</span></span></span></p>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-69547154002186087752023-09-28T22:44:00.002+01:002023-09-28T22:45:31.713+01:00Paraíso sem deuses<div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">Olhamos o musgo no rochedo milenar</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">e precisamos de um silêncio suplementar</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">de uma imunidade profunda</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">que nos proteja das contabilidades</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">para podermos sentir </span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">a <span style="font-family: inherit;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span>sombra envolvente</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">e os murmúrios das águas resilientes</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">nessa ilusão de paraíso</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">sem deuses</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">a quem seja dado contemplar belezas</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">tão antigas </span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;">que os químicos matarão ao batizar.</span></span></div><div dir="auto" style="color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="background-color: #d9ead3;"><span style="font-size: medium;"> Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-57043536446579681482023-09-21T23:25:00.003+01:002023-09-22T00:04:50.238+01:00A vida o sentido da vida e o sentido das questões<div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">A questão do sentido da vida, do bem e do mal, do universo, das coisas, do sentido (do sentido do sentido) não se coloca a toda a gente, ou,
por outras palavras, nem toda a gente a coloca, ou se coloca essa questão.<br /></span><span class="tm8">Como quase todas as questões, não é necessária. E as questões que não são necessárias
são vistas como inúteis e ociosas. Só poetas e filósofos tentam por todos os meios fazer com que sejam questões com sentido.<br /></span><span class="tm8">A questão do sentido da vida, os filósofos.
A questão da vida, do sentimento da vida, os poetas.<br /></span><span class="tm8">Mas, para que essa questão do sentido da vida seja uma questão com sentido (não uma questão com resposta ou solução),
já se ocupam, cada vez mais pensadores, a questionar a vida e a história, o desenvolvimento tecnológico e, sobretudo, a vida que as pessoas fazem, o modelo económico e o estilo de vida herdados
da revolução industrial e que sobreviveram às I e II guerras mundiais que, aliás, tiveram efeitos aceleradores e propulsores, com as consequências que estamos a ver. Sobre as possibilidades
de sobrevivência num mundo organizado segundo o modelo actual (falacioso e inexequível) de abundância para todos, ou, teoricamente, de riqueza para todos, casa, piscina e carro para todos, nem é uma
questão de sentido, mas de contabilidade. Questão de sentido já pode ser: porque é que os responsáveis políticos continuam a apostar nesse modelo e a ganhar eleições
defendendo-o, na China, na Índia, no Brasil, nos EUA, na UE, na Rússia, quando todos sabem que estão a vender uma falácia, ou seja, uma verdade que é mentira.<br /></span><span class="tm8">Verdade/mentira: pode-se
ser o mais rico, ninguém, teoricamente, está excluído, à partida, do acesso ao topo da pirâmide, nem que seja por génio. /Dois biliões, ou três, ou mais, de seres humanos,
porque têm direito, podem esperar e confiar que terão uma casa, alimentação, educação, lazer, uma vida digna, serviços de saúde, direito ao trabalho, à justiça
e à paz.<br /></span><span class="tm8">Se um indivíduo nas suas lucubrações conclui que a vida não faz sentido, o universo não faz sentido, as suas palavras não fazem sentido, nada faz sentido, quem
se sente no direito de o contrariar? Se um outro indivíduo pensa que a vida faz sentido, que tudo faz sentido, mesmo aquele indivíduo para quem nada faz sentido, quem se sente no dever de o contrariar? Ambos
têm um sentido.<br /></span><span class="tm8">Se, porventura, alguma instância judicativa suprema e irrecorrível, ditadora de sentido, o ditasse, nada mudaria quanto à questão do sentido da vida que cada um adopta,
ou adoptar.<br /></span><span class="tm8">Na realidade, a questão do sentido da vida é apenas uma questão, como tantas outras, não obstante, a resposta que alguém der a essa questão não deixará
de ter repercussões na vida e nas vidas. É como responder a um teste na escola. Embora na escola os testes sejam sobre questões das quais já se presume saber a resposta (o que é extremamente
limitativo e empobrecedor), todos os que fomos estudantes sabemos que as respostas que demos tiveram repercussões na nossa vida e na dos outros.<br /></span><span class="tm8">A tónica dominante, passe a redundância, é, continua
a ser, o paradigma do puzzle, a realidade recortada de uma certa forma e, para a reconhecer, há que encaixar as peças, tal e qual como fizeram os sábios e os sacerdotes, de antanho, detentores das respostas
e dos sentidos.<br /></span><span class="tm8">Num passado mais próximo, com todos os defeitos inerentes às enciclopédias, deu-se um passo em frente e, em vez de termos a resposta num livro sagrado, passamos a tê-la nas enciclopédias.
Nada mau.<br /></span><span class="tm8">O que é difícil de aceitar e de vulgarizar é que, qualquer que seja a resposta que encontremos, seja em pedra lapidada, ou escrita na água, ela é uma construção
operada por cada um de nós, boa ou má, certa ou errada, e não temos e não há outro remédio. Quem não gostar do termo construção, que parece muito braçal
e indiferenciado, pode escolher outro, que pareça mais elegante e ajanotado.<br /></span>Se um amigo me dissesse que a vida dele tem sentido, embora nem sempre e, passado um tempo, reconhecesse que, afinal, tinha perdido o sentido, eu diria que
tudo isso faz sentido. Há imensas coisas falsas que fazem sentido.<br /><span class="tm8">Qualquer mentira faz sentido.<br /></span><span class="tm8">A esse amigo, eu era capaz de propor que, se precisava de um sentido, que escolhesse, que criasse o sentido
que mais lhe agradasse, como se deve fazer quando se lê poemas. Se não precisasse de um sentido, que não se preocupasse, porque uma necessidade de sentido, em termos existenciais, ou económicos,
não pode ser colmatada, ou satisfeita, com qualquer sentido imaginário, hipotético, ou sem sentido, a não ser que isso fosse uma arte ou uma filosofia criativas.</span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8"><span style="background-color: #d9ead3; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: medium;"> Carlos Ricardo Soares</span></span></span></div><p class="Normal tm6 tm7"><span class="tm8"></span></p>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-10808294084697873552023-09-19T23:09:00.005+01:002023-09-19T23:09:51.423+01:00Que seria o mundo sem filosofia?<div style="text-align: left;"><span class="tm8"><span style="font-size: medium;">Não temos forma de saber o que seria o mundo sem a filosofia, mas podemos tentar saber o que é o mundo com a filosofia, qual o seu papel e influência. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm8"><span style="font-size: medium;">Na minha
opinião, tem um papel e uma influência decisivos, em todos os domínios, mas para termos a noção disso, é preciso muita filosofia. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm8"><span style="font-size: medium;">A filosofia sempre se assumiu e continua a assumir-se
como fonte de conhecimento e critério de conhecimento, ou, mais em geral, fonte de sabedoria e critério de sabedoria. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm8"><span style="font-size: medium;">Nada lhe escapa, nada lhe é estranho, de nada é excluída. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm8"><span style="font-size: medium;">Não
há matéria ou assunto que lhe sejam vedados. </span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm8"><span style="font-size: medium;">O único limite está na capacidade e na competência do filósofo.</span></span></div><div style="text-align: left;"><span class="tm8"><span style="font-size: medium;"> Carlos Ricardo Soares</span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7651256347917412956.post-84247270744498205212023-09-15T11:51:00.007+01:002023-09-22T00:05:30.656+01:00Demónios, deuses, humanos e outras formas de vida<div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Carl Sagan explicou muito bem o problema em que estamos envolvidos: o mundo está infestado de demónios.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Vou “inspirar-me” neste
excelente contributo para rir-me dos demónios e dos deuses.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Na situação atual, receio muito que os deuses já tenham perdido a guerra porque, para os deuses vencerem os demónios,
é necessário algo mais do que palavras e água benta, num campo de confrontos em que tudo é feito à custa do ambiente. Nada se faz que não seja à custa do ambiente.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">As vítimas
são a vida, humana e das outras espécies. Os demónios não sabem trabalhar sem acabar com isso tudo. O trabalho deles parece que não é outro. Vivem disso. São como as bactérias
e os vírus mas, diferentemente destes, os demónios dominam a tecnologia e usam a ciência para transformar a natureza em poder sobre a natureza, mormente a natureza humana, tão propensa a ouvir os
demónios e a ser surda aos deuses, ao ponto de ser tradicional haver necessidade de fazer ouvir os deuses e nunca ter havido sequer a veleidade de querer ouvir os demónios, que esses, de resto, são a outra
face da natureza humana, que é preciso abafar e calar.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Os deuses não precisam de tecnologia, nem de ciência, mas os demónios não passam sem elas, aliás, nada seriam sem elas.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Os
deuses não poluem, não agridem o ambiente, não constroem, nem desvastam florestas, não queimam combustíveis, nem erguem barragens, não têm fábricas, nem rasgam campos
de futebol, não esventram montanhas, nem abrem autoestradas, e não cultivam, nem criam gado. Os deuses não precisam de comer, não respiram e não morrem.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">O mundo está mesmo infestado
de demónios e estes acabarão por ter aquilo que querem. Pode não ser o que os deuses querem para si, mas será, certamente, o que os deuses querem para os demónios. E, na verdade, os demónios
não merecem nada, nem a simpatia dos deuses, nem a sua preocupação. Têm o que merecem. Demónio é demónio. Os deuses passam tão perfeitamente sem eles, como passam sem
as espécies vivas da natureza.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Mas é a “espécie” dos demónios que extermina as outras espécies vivas da natureza.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Os demónios não se contentam com o método
científico, porque eles pensam que a realidade é o que é, como já era, antes do método científico. O que eles querem, e nisso são imbatíveis, é o poder de transformar
as coisas noutras coisas, até onde puderem. Por isso é que são demónios. Quando deixarem de ter esse poder, estarão mortos, deixarão de ser demónios.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Essa “espécie”
de feiticeiros sabe que o feitiço tem uma probabilidade enorme de se virar contra o feiticeiro. É como dizer que “a certeza absoluta nos escapará sempre”, ou seja, não sabemos que nos
escapará sempre, se não há certeza absoluta.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Ou, ainda, proclamar “Não acredites na palavra”. Se os demónios acreditarem nesta forma de imperativo, não o tomam a sério;
se o tomarem a sério, não acreditam nele e isso equivale a que acreditam na palavra. Não necessariamente em todas as palavras, como essas “Não acredites na palavra”, mas provavelmente
naquelas que lhes interessam, pelas mais variadas razões.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Se eles não acreditarem nas palavras, inclusive nas do Carl Sagan, vão acreditar em quê? No que veem? E se forem cegos(como parece que
são)?<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Tudo serve aos demónios para atingir os seus objectivos, para realizar os seus interesses, os quais, normalmente, coincidem com os dos humanos, em geral. As palavras são dos instrumentos mais
poderosos, como acabamos de ver. Em ditadura e em democracia, os demónios nem precisam de ser letrados, basta que usem as palavras com o sentido que mais lhes interessa e lhes convém. As palavras são mais
submissas do que os cães, mas não tão fiéis, nem aliadas.<br /></span></span><span style="font-size: medium;"><span class="tm8">Talvez por isso os deuses sempre, e em tudo, se abstiveram de falar, para não serem traídos.</span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span class="tm8"><span style="background-color: #d9ead3; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: medium;"> Carlos Ricardo Soares</span></span></span></div>Carlos Ricardo Soareshttp://www.blogger.com/profile/03079231328814280040noreply@blogger.com0