Blogs Portugal

terça-feira, 30 de novembro de 2010

As coisas excedem a vida

 
As coisas excedem a vida
Por onde vou
Pela cidade desde sempre prometida
Eu passo
A vida excede as coisas
E o meu passo
Não basta à vida
Tudo o que faço
A vida excede largamente
O que não faço.



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os aniversários das estrelas


Quando pelas noites de verão
Sem iguais
Caminhava olhando para o firmamento
Ouvia no escuro dos matagais
Silêncios entrecortados
Pelo meu pensamento
Criança como era
Porém sem medo
Fantasiava o céu
Sentia já a aurora
Na aragem que agitava o arvoredo
Nenhum espectáculo a esse
Se compara
Digam o que disserem
Coisa rara
As estrelas sabiam
Que eu não tinha idade.

sábado, 20 de novembro de 2010

Herói de mim




Viagem de imaginar
A vida
Do estreito recomeço
Ao cabo esqueço
Em_____barco  
Nave despojada
Em qualquer sítio
O mar
Se for embora
Os piratas também
Espectro das descobertas
Descobrir o além
Do fim
E ser herói
De mim.



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Lembrança de ti

Do meu coração
Palavras vivas

Canção às janelas
Flor dos olhos

Vi ruir
Sob o peso do último sonho
Ou da lembrança de ti

O entendimento perdido
Da nossa história feliz

Suaviza o fel
Do tempo a fluir.


sábado, 13 de novembro de 2010

Momento único



As aves chegaram
Em bandos
Ou é o mar
Alçando voo
Sobre as iras 
A eternidade
Não espera
Não sonha
Nem se vai embora
 Não esquece
Quem não tem memória
Esquecer é humano
É história
Um piano fechado
Pode ser
Um desejo atroz
De transformar
O silêncio
Num momento único. 



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

De ancestral



Hoje as vinhas pareceram maiores
O sol mais lento
O céu mais azul e mais perto
E o vento
Para me entristecer
Cheirava a deserto

As folhas secas
Sem piedade
Voavam
Tordos escondidos
Detrás da cortina da tarde
Espiavam
E piavam
Pios de saudade

Hoje tudo era meu
Como era minha
A tristeza
De ir só
E o rio
Se mais não era
Parecia um lago
Lá ao fundo
 À minha espera
No outro mundo.


sábado, 6 de novembro de 2010

Idade média

A idade e o tempo deitam-se na mesma água
E acordam longe de tudo o que faz o encanto
De dois rios que se atravessam
Seguindo em direcções diferentes
A caminho do mesmo espanto
Cada vez mais distantes
As idades iniciais
Médias
Finais
São tão diferentes disso
Que as acho iguais.


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Este morto



Os milénios os séculos as décadas
Os anos os meses os dias as horas
São tão dignos de atenção
Que não temos vida para compreender
O tempo que vivemos
Este morto
Já não vive
Já não lhe digo tu
Não deixes que te matem
O sol e o mar ao largo
Vemos
Deste cemitério
De uma das mais de cem
Cidades
Sempre nos perdemos
Como perde quem
É a ponte mas não sabe
Entre eras e idades
Este morto
Não fala
Fria fronte
Face desentendida
Já não lhe dizem tu
O destino
A nós se reserva.