Em algum recanto obscuro
Lá muito atrás no tempo
Perdemos a memória
O nosso amor e a nossa paz
Perturbados pela surpresa
De um mundo inesperado de hostilidades
Engendrado pela nossa frustração
E pelo alerta
Pela desconfiança das plantas
E animais
E restantes elementos naturais
Que no nosso âmago
Amamos
E pela decepção de sermos repelidos
E mordidos
Envenenados acossados infectados
Feridos
Esmagados afogados queimados
Em cenários de acidente
Tempestade ou guerra
Ou simplesmente
Na tragédia silenciosa
Na doença
E pela descoberta de que éramos
Quase só fragilidades
E a necessidade de nos rodearmos
Da atenção e do carinho
Uns dos outros
Para nossa protecção
E para sermos mais fortes
No desgosto de não podermos abraçar
Sem medo e precaução
Todos os seres
Vivos e os demais
Que amamos à nossa maneira
Talvez errada
Por não ser mais.