O maior erro humano, desde sempre, que sobreleva, hoje não menos do que antigamente, sobre todos os erros (não esqueçamos que errar é humano) é que não há erro humano, o que há é homens que erram. Quando alguém erra, não é a humanidade que erra.
A humanidade nunca erra. Porquê? O que é a humanidade?
Só os indivíduos é que erram.
Vai ser revolucionário admitir que, uma vez que as teorias da verdade, do conhecimento, doutrinas da salvação, da felicidade e do prazer, da sabedoria e do estoicismo, não foram capazes de resolver os problemas de sempre, nem, vistas bem as coisas, identificar esses problemas, vai ser revolucionário admitir que, dizia, a aposta deve ser na teoria do erro, em sentido amplo, de modo a incluir a mentira, a falsidade, enfim, todos os vícios humanos, e não apenas a condição de ignorância e a estupidez e, tentar substituir ou, talvez, converter as teorias do conhecimento em teorias da ignorância e do erro, ou do desconhecimento. Fará toda a diferença.
Talvez começássemos a compreender que as razões pelas quais se busca ou deixa de buscar o conhecimento e a formação e os saberes não são as melhores razões mas aquelas que, desde sempre, se apresentam como tais, ao colocarem o homem contra o homem e a humanidade contra a humanidade.
Actualmente, já há sinais, que muitos percebem como enigmáticos, de reconhecimento de que o homem, individualmente considerado, é o único e verdadeiro centro de conhecimento, de sentido, de dignidade e de valor.
Nada, nem ninguém, transcende este imperativo.
Aliás, é por ser transcendente que este imperativo demora tanto a
ser entendido e continua a ser confundido com o “inimigo”, na concepção do
homem lobo do homem. Qualquer indivíduo que se atribua uma dignidade e direitos
naturais que não esteja disposto a atribuir e não atribua de facto aos outros,
quaisquer que sejam as determinações sociais relativamente a isso, não poderá
deixar de admitir que os outros se atribuam a si mesmos nessa medida. Mas isto
é um erro. E é para nos defendermos dos indivíduos que erram que a civilização
faz sentido e o conhecimento é tão importante.