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quarta-feira, 16 de junho de 2021

A natureza não erra?

O maior erro humano, desde sempre, que sobreleva, hoje não menos do que antigamente, sobre todos os erros (não esqueçamos que errar é humano) é que não há erro humano, o que há é homens que erram. Quando alguém erra, não é a humanidade que erra. 

A humanidade nunca erra. Porquê? O que é a humanidade? 

Só os indivíduos é que erram. 

Vai ser revolucionário admitir que, uma vez que as teorias da verdade, do conhecimento, doutrinas da salvação, da felicidade e do prazer, da sabedoria e do estoicismo, não foram capazes de resolver os problemas de sempre, nem, vistas bem as coisas, identificar esses problemas, vai ser revolucionário admitir que, dizia, a aposta deve ser na teoria do erro, em sentido amplo, de modo a incluir a mentira, a falsidade, enfim, todos os vícios humanos, e não apenas a condição de ignorância e a estupidez e, tentar substituir ou, talvez, converter as teorias do conhecimento em teorias da ignorância e do erro, ou do desconhecimento. Fará toda a diferença. 

Talvez começássemos a compreender que as razões pelas quais se busca ou deixa de buscar o conhecimento e a formação e os saberes não são as melhores razões mas aquelas que, desde sempre, se apresentam como tais, ao colocarem o homem contra o homem e a humanidade contra a humanidade. 

Actualmente, já há sinais, que muitos percebem como enigmáticos, de reconhecimento de que o homem, individualmente considerado, é o único e verdadeiro centro de conhecimento, de sentido, de dignidade e de valor. 

Nada, nem ninguém, transcende este imperativo. 

Aliás, é por ser transcendente que este imperativo demora tanto a ser entendido e continua a ser confundido com o “inimigo”, na concepção do homem lobo do homem. Qualquer indivíduo que se atribua uma dignidade e direitos naturais que não esteja disposto a atribuir e não atribua de facto aos outros, quaisquer que sejam as determinações sociais relativamente a isso, não poderá deixar de admitir que os outros se atribuam a si mesmos nessa medida. Mas isto é um erro. E é para nos defendermos dos indivíduos que erram que a civilização faz sentido e o conhecimento é tão importante.