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terça-feira, 4 de setembro de 2018

O inimaginável


Ninguém conseguiria imaginar uma rua como a minha, nem eu. 
O inimaginável exerce sobre mim uma atracção quase irresistível, mas tem, à partida, uma garantia de insucesso que desencoraja até o mais louco e imprudente dos aventureiros. 
Nada mais desafiante, portanto.
O pior de tudo é que a rua não existe. 
Podemos procurá-la por todo o lado. 
Tão pouco existe na minha cabeça. 
Tão pouco existe nas palavras que escrever sobre ela. 
Mas é uma rua muito interessante e muito antiga.
O que não existe pode ser muito interessante, muito mais interessante do que aquilo que existe. 
A maior parte do que não existe, se existisse, perderia o interesse. 
Ou talvez não.
Não é uma rua direita e sabe-se lá as razões e os sonhos que moldaram as pedras de cada esquina e as fechaduras de cada porta, quantos cavalos, com o barulho dos suas ferraduras na calçada, foram o despertador impiedoso de gente que, de outro modo, nunca teria acordado...
O que é certo é que não há ninguém que se lembre dessa rua movimentada, nem eu. 
Não há vestígios dela.
E isto é muito triste.
Nessa rua ninguém passa, nem passo eu. 
É uma rua habitada pelos fantasmas dos que viveram na esperança de que alguém os inventasse.