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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O ensino ao ritmo humano

Ao ensino importa adoptar as melhores estratégias e instrumentos possíveis, para ser eficaz, na perspectiva dos objectivos e finalidades pretendidas. Isto envolve a necessidade de conhecer quando, como, para quê e quem aprende o quê.
Não me parece que o sucesso/eficácia do ensino seja uma variável independente do quando, como, para quê, quem aprende o quê. E vice-versa.
Não obstante, no binómio ensino aprendizagem, se é relativamente controlável, por parte dos professores, o elemento ensino, já a aprendizagem é muito difícil e, em certos casos, praticamente impossível de controlar. E, sendo tarefa e função do aluno, ela varia imenso de aluno para aluno.
O ensino tem que se preocupar se os alunos aprendem depressa ou devagar na medida em que deve permitir que cada um possa aprender do modo que lhe der mais jeito.
Quanto à avaliação das aprendizagens, o problema está em reconhecer e classificar o trabalho desenvolvido e realizado, num determinado período de tempo.
É na avaliação e nos seus efeitos práticos que a escola não tem grande forma de evitar discriminações.
É sabido que, até nos casos em que dois alunos obtêm, ou lhes é atribuída igual classificação, isso pode estar muito longe de significar que ambos aprenderam ou sabem o mesmo. E não há uma relação muito directa entre o que é ensinado e o que é aprendido. Diria que esta relação é muito complexa e também fica largamente fora de controlo.
É preciso deixar que aprenda depressa quem quer e pode aprender depressa, não se deve impedir isso.
Quanto às questões da profundidade das aprendizagens e do pensamento, sem dúvida que elas requerem tempo de maturação, reflexão, experiência, prova, crítica, treino, domínio. Haverá quem se ocupe disso, uns mais outros menos. Aliás, também aqui, cada pessoa é um caso, cada curso é um caso e cada profissão... A maior parte do ensino, se não está pensada para uma aprendizagem "na óptica do utilizador", está estruturada e funciona assim.
A própria divisão por disciplinas e por especialidades também.
As pessoas, desde cedo, vão sendo induzidas a "habitar casulos de significado e de sentido" e constroem a sua racionalidade com os materiais disponíveis e segundo soluções disponíveis.
É-lhes fornecida uma proposta de aprendizagem que envolve algum tipo de problema, prático ou teórico, para resolver e que, muitas vezes, é um problema de linguagem, dá-se-lhes a resolução do problema, para aprenderem ou conferirem a resposta que encontraram e o resto fica ao sabor da criatividade, imaginação, solicitações, desafios, curiosidade, interesse, gosto, circunstâncias, de cada um.
De resto, para conduzir um veículo, usar um televisor, tomar um medicamento, aplicar uma lei, obter o perdão dos pecados, o utilizador só precisa de saber um restrito conjunto de coisas.
A esmagadora maioria da população não aspira a mais, nem sente necessidade de mais. E não seria viável, nem faria muito sentido, pretender fazer de cada indivíduo um engenheiro de automóveis, ou de electrónica, etc. e, menos ainda, porque seria absurdo, pretender que todo o indivíduo fosse competente em todas as áreas teóricas e práticas do conhecimento.
Os problemas são tantos e o trabalho a fazer é tanto, para uma vida tão curta e tão chata que, se cada um for fazendo aquela parte que lhe agrada mais ou lhe desagrada menos, em função dos incentivos e gratificações disponíveis, já é animador.