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sábado, 28 de novembro de 2020

Futurologia

Podemos fazer futurologia em muitos domínios. Não que possamos garantir que algo vai acontecer. Nem sequer que vamos morrer. A este propósito, o cristianismo capitalizou uma brecha lógica na causalidade, como uma esperança ou uma maldição, ao proclamar que Cristo, de novo, há-de vir, para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim, deixando aos crentes a esperança de que, se se portarem bem, até poderão ter a sorte de não morrer, assistindo a essa vinda redentora, que ninguém sabe quando será.

Por outro lado, a ciência é uma constatação de que, se produzirmos uma determinada causa, podemos esperar um determinado efeito, mas não podemos dar esse efeito como certo, enquanto ele não se verificar.

Podemos questionar se tudo é causa e se tudo é efeito. Nem todas as causas produzem efeitos? Nem toda a causa produz os mesmos efeitos? Há efeitos sem causa? Que efeitos podemos atribuir a uma causa, no sentido em que nos é possível, com os nossos conhecimentos e tecnologias, verificar isso?

Quer-me parecer que nem com todos os conhecimentos de que hoje dispomos, nomeadamente dos efeitos e das causas, ou destas por aqueles, seríamos capazes de determinar minimamente, todas as causas desses efeitos e, menos ainda, muitas das causas dessas causas.

Ora, se é tão difícil e complexo, para não dizer impossível, conhecer as causas pelos efeitos, ou seja, "adivinhar" o passado, quanto mais difícil não será "adivinhar" o futuro, ou seja, a partir do conhecimento das causas (aparentemente elas estão no nosso campo de observação actual) prever os efeitos.

Aquilo que, na economia do pensamento abstracto, seria uma inferência, por indução, ou dedução, na economia dos factos e da acção concreta, revela-se um quebra-cabeças, justamente, porque pode ser, literalmente, um quebra-cabeças.