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terça-feira, 29 de abril de 2014

Escuto as dores do mar

É nessas dores que se banha a lua
Nem todas as janelas já estão fechadas
As dores do mar
O balançar das árvores ao alto

É nessas cores que a torda da alegria
Perde peso
E a alma de magreza voa
Do mar
A olímpica fantasia 
Que atordoa
Quem poderá domar?

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Quando se está debaixo


Quando se está debaixo 
das botifarras do bicho de sete cabeças
não há nenhuma porca de sete mamas 
que valha ao espezinhado 
gente que está
por todo o lado
e luta até à morte
todos os dias
num confronto forte
entre David e Golias.

domingo, 20 de abril de 2014

O homem não sabe o que quer


Eis o problema: 
o homem não sabe o que quer, nem para si próprio, quanto mais para os outros... 
E, supondo que as pessoas têm uma vontade e objectivos para os outros, para a história, para o mundo, para a Humanidade, um desejo, sonho (projecto é diferente e, certamente, não existe um projecto com essas características, individual ou colectivo) que as transcende, então aí o que sabemos é pouco e o que não sabemos é incomensurável (e que certeza temos disto?).

sábado, 19 de abril de 2014

Começar e acabar


Começas de uma forma

E acabas da forma como começaste
Tu não envelheces nunca
Por isso é que não envelheceste
Olhas de um modo fixo 
Não como se tivesses morrido
Mas como se morresses eternamente
Se dessem a uma mãe um bebé assim
Ela enlouquecia
Tu só não rejuvenesces
Porque foste sempre o começo da idade
Em ti nada acontece
O tempo não é
Se não 
Tenho a certeza
De que rejuvenescerias ao máximo
Ao ponto em que estás
Que é aquele em que todos e tudo
Depositaram a espera
Em que tudo e todos ainda 
Não começaram.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Livro-me de ser julgado


A minha ideia avança
Meu medo
Não é nenhum
A minha praia
Sou uma criança
Um por todos
E todos por um
Palavras
Faço com elas
O que me aprouver
Mas livro-me
De ser julgado
Pelo que disser.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Povoado de sombras

Está sol
E
Num grande largo povoado
De sombras
Um pregador sob uma árvore
Adverte em nome do bem
Como um sol que faz
Desaparecer sombras
No canto de lá
Um propagandista reclama
Liberdade
Como um sol que faz
Sombras.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Adega TóNel


No ponto mais setentrional das névoas perpétuas
No informe aglomerado de construções à chuva
Uma placa diz cidade e começam as galerias
De uma tarde na adega tonel
Que vai desembocar nesta folha de papel
E deparar sem saída com a porca
Das sete mamas de um cardápio virtual
Suspenso dos chifres de um bicho
De sete cabeças em espiral
Drapejando ruidosamente.

sábado, 5 de abril de 2014

E-lá-se-foi

Um pássaro lindo
Voou ao contrário
Sugado por uma lembrança
De caminho andado
Mão dada
Numa eterna dança
Entre invernos sem ilusões
Um gato à chuva
Lá se foi 
Platão
Eva
E Adão
Num jardim 
Que não conheceis
De rosas em vasos imaginados 
Mas que estão mortas
Há muito
No chão
Para onde cospe
O vilão
E dejecta
O fanfarrão.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Não vá a cerveja acabar


Se não precisas do sentido das proporções
Para fruir
Para fazer arte precisas de algo mais
Do que cuspir
Cores e pensamentos 
Ou notas musicais
Música pintura ideias e poemas
São algo mais
Que uma desordem
Ou uma ordem que te é imposta
Mesmo se forem o caos 
Que não te obedece
Amálgamas são atrocidades
Cometidas contra a fragilidade
Do que arrebita
Sobre a estrumeira informe
Anunciando ao optimismo
A esperança
Enquanto o pessimismo
Dorme
Se souberes cantar
Canta
Não vá o mundo acabar.