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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Não há poesia

Não há poesia sob as telhas
Nem na multidão de bêbados
Que caminha debaixo do céu
Nas ruas estreitas
E bafientas
Com muitas esquinas
E bares baratos
Por onde me arrastei
Como um eremita
Com o dobro das patas
De um caranguejo
E metade da sua graça
Não há poesia em nenhum pensamento
À hora a que me deito para morrer
Sentindo que sobrevivi a tudo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Pódio

Sobe ao pódio dos teus pés
Que o prémio te sinta
Mesmo que não sejas vencedor
Te diga que o és
Canta o hino
Que aprenderes
A olhar para longe
Do que fores
Capaz
Que o silêncio
No fim
Seja murmúrio
De paz.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Perdi-me nas tardes de Verão

Desiste de procurar-me
Nem eu sei
Onde me perdi
Nas tardes de Verão
Onde perdi o livro
Que andava a escrever
Sobre as tardes de Verão
Em que me perdi
Antes de te encontrar
Se fosse numa ilha
Era fácil partir do princípio
De que só podia estar lá
Mas foi num continente
Que não existe
E nisto nunca irás acreditar.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Venenasas

Esta certeza é efémera como todos os brilhos
Como as chamas arrefecem nas órbitas
De monstros venenasas
Ruínas de castelos que já foram no ar
Sobranceiros a campos
Onde são matagais
Cemitérios onde adros já foram festivos
Esta tristeza desmemoriada do que foi alegria
Ao compasso de todas as músicas
De todas as marchas não reeditadas
E dos silêncios sobrevindos
De todos os sinos
De todos os tempos
Tratados de filosofia
À espera
De um cérebro que os pense
Até à próxima explosão do Universo
Que não precisa da ciência
Nem de contexto histórico
Como a minha morte
Para acontecer
Sou fútil e distraído
Como as estrelas brilham
Como um ébrio enquanto não adormece
Trato de banalidades
Porque já é aquilo que há-de vir a ser
Eu já nasci morto.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Vestida de sombras

Há sombras em que o carmim aos lábios
aflora e desnuda o sorriso dela
e me insinua aquele lanço de escada
a subir para os alfarrábios
sombras que a vestem
entre as pernas
de uma ideia
completamente iluminada
por fora
da roupa dela
e que brilha nos cabelos
em que esconde o milagre
dos seus olhos.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Poema de amor

Fugi das luzes dos espaços amplos
Escondi-me das vistas
De sacerdotes e juízes
E da curiosidade
Do constrangimento
Das lendas de amor
Para te olhar com a pobreza
Da minha solidão
E falar-te do prazer
Como se fosse a mentira
Do amor
Do que tarda mais
E não sabemos
Se haverá
Algo mais
Que o calor do corpo
Que temos para dar.