No intuito de elucidar alguns conceitos que usei no anterior artigo intitulado "O Homem é um animal que censura", chamo a atenção para este ponto: o dever-ser, sob cuja égide um ato se processa, não é apenas, nem se reduz, ao dever ético, ou moral.
Tenho constatado que alguns leitores entendem o meu conceito de dever-ser na acepção de dever ético e que, nesse sentido, quando uso a expressão "dever-ser" estou a falar de questões de ética. Mas é preciso destrinçar o que quero significar com "dever-ser" do que quero significar com dever ético, ou dever estético, ou dever moral, ou dever científico. Sem esta destrinça, toda a riqueza e alcance inovador do conceito de "dever-ser", como o formulo, ficam desaproveitados.
A ética é um dos modos de manifestação do dever-ser, como condição que rege o ato, que emana da consciência/racionalidade e dita a escolha.
Assim, quando refiro, por exemplo, o dever-ser da ciência como dever de verdade, isto não significa que o dever de verdade da ciência é um dever ético.
Os deveres éticos são especificamente éticos, assim como o dever-ser estético não é ético, nem científico.
Então, é importante considerar, por exemplo, que a ciência e a estética são eticamente neutras. Não é da sua essência serem éticas, e também podemos afirmar, do mesmo modo, que não é da essência da ética, ou da estética, serem científicas.
Em qualquer situação humana de escolha, seja científica, ética, estética, económica, moral, etc, a escolha obedece a representações do que serão os efeitos dessa escolha, num processo de racionalidade em que, perante as possibilidades, a escolha incide sobre a melhor das alternativas, ou a melhor das possibilidades.
No caso da escolha de verdadeiro/falso não há considerações de requisitos estéticos, nem éticos. Nos casos de escolhas éticas, ou estéticas, por sua vez, também não há considerações de requisitos científicos.
Em qualquer caso, não obstante, tanto a escolha de (1)verdadeiro/falso como a escolha (2) ética, ou (3)estética, resultam da consideração/avaliação e representação que o indivíduo faz da escolha certa (1), ou da melhor escolha (2) e (3), melhor em sentido estrito porque, efetivamente, a escolha certa, como vimos, também é a melhor.
Carlos Ricardo Soares