A resposta à questão da Sabedoria não é geral e abstracta, nem consensual, nem apenas concreta e é sempre a resposta possível. A resposta possível, não sendo a ideal, é boa, contanto que, como diz o ditado, o óptimo seja inimigo do bom.
As culturas vão corporizando e instituindo como valores aquilo que a experiência e o saber permitiram concluir que são boas soluções. Daí o dizer-se, correntemente, que as culturas são expressão de sabedoria.
Quer do ponto de vista individual, quer do ponto de vista das organizações e das instituições sociais, são constantes a indagação e a discussão e as decisões sobre o que, num determinado momento, para um determinado problema, é a melhor resposta. Por exemplo, a melhor resposta da religião pode não ser aceite pela filosofia e vice-versa, ou pelo positivismo, ou pela ciência. E a melhor resposta para mim, pode não coincidir com a da ordem instituída.
A Sabedoria está sempre a ser construída e reconstruída, num processo inevitável de renovação vital. Neste ponto, o que tem de ser tem muita força e não há como fugir ou impedir que se cumpra a Sabedoria. Ela é a condição humana.
Nem a Sabedoria nos abandona, porque não existe. Nem nós a abandonamos, porque não a temos.
Mas, então, o que é que nos faz ter noção de Sabedoria se não a temos e se ela não existe, pelo menos nos moldes do que habitualmente designamos como existente?
E por que ousamos dizer que o conhecimento mais difícil de alcançar, mas essencial para a nossa relação com os outros, com o mundo, é o conhecimento de si mesmo?
Que noção temos de “conhece-te a ti mesmo” e que grau de conhecimento de si mesmo alguém, reconhecidamente, revelou, que nos autorize a preconizar o conhecimento de si mesmo? De qualquer modo, isso não é mais do que um conselho, ou preceito, que nada nos diz sobre como realizar essa tarefa, alegadamente, "tão superior".
Um dos pontos fracos de todo o sistema normativo é prescrever a conduta (por acção ou omissão) e nada dizer sobre como fazer, quais os procedimentos que permitem cumprir.
Outro ponto fraco é dar de barato o problema de que, para além de saber como, ainda falta fazer, ou seja, é necessário que uma pessoa admita e reconheça a importância e a possibilidade de se conhecer a si mesma, tenha a noção do que é preciso fazer e a possibilidade concreta de o conseguir e, finalmente, que o faça.
Ora, a única coisa, que lemos e ouvimos sempre, é “conhece-te a ti mesmo”. Os outros pontos que assinalei parece que ficaram suspensos há séculos, como se não tivessem tanta ou mais importância.
O triunfo da ciência não tem sido conseguido na investigação dos problemas e na confirmação, concretização das hipóteses?
Quando se trata, por ex., do que se deve ensinar hoje nas escolas, é frequente dizer-se que, em vez de memorização de informação, se invista no pensamento crítico, que se ensinem as crianças e os jovens a pensarem pela sua cabeça, que a aprendizagem deve prepará-los para a mudança constante e para o stress que isso causa, etc..
Mas isto toda a gente sabe.
O que talvez ninguém saiba, e era preciso que dissessem, é como é que as crianças, os jovens e os adultos reconhecem a importância disso, como é que, alunos e professores, poderão operacionalizar isso e, finalmente, fazer, realizar isso.
De certa forma, se Sabedoria significa conhecer a realidade, conhecer-se a si mesmo, identificar o erro e não agir contra a realidade, nem contra si mesmo, corrigir o erro, ou seja, adaptar-se à mudança, é importante que se torne isso.
Ainda que, aqui, tenhamos mais questões: como vamos preparar-nos para uma mudança que não sabemos qual vai ser? E a adaptação à mudança o que é que significa? Se não me adaptar à mudança, isso não significa que me adaptei ao meu modo? Ou significa que não mudo, ou que mudo num sentido que, supostamente, não me é vantajoso? E os que se adaptarem à mudança, mudam por quererem, por lhes ser supostamente vantajoso?
Teremos a Sabedoria de que formos capazes, porque não há outra.
Carcomida a bengala de Deus e levados nas asas da inteligência artificial, sabedoria será a melhor resposta aos problemas da sobrevivência.