Ao fim de umas horas a pedalar
Por estradas de metafísica
Com matilhas de cães às costas
Olhei para trás e já não conseguia lembrar
Nenhum dos problemas de dogmática ético-jurídica
Com que muitos reis não se depararam
Por possuírem grandes castelos
Como se acabasse de me reencontrar
A caminho do sol e da liberdade
E em vez de pensar no xadrez dos anjos
Que me não dava fome
Nem de comer
Nem sombra
Onde viver liricamente
Como sempre sonhei
Uma primitiva sensação
De estomacal entendimento do mundo
De todos os pensamentos confluírem
Numa harmonia marítima libidinosa
Abocanhando pedaços de lagosta frita
Adornados de algas profanas
À vista de especiosos vinhos
Em horizonte de searas saudosas
Açorda alentejana
Fumegando desejos de planície
Inimagináveis
Em alto mar
Como tudo o que o vento levou.
Pensavam que era lixo
E varreram tudo
Mas eram letras dispostas de uma certa forma
Que poderia salvar o mundo
Porque a forma pode ser importante
Os neutrões não escapam
À carga eléctrica
E acabam fardados
A mirarem-se ao espelho
Dos protões
Tão sossegados finalmente
Por se sentirem realizados
Por satisfazerem os requisitos
Por não pertencerem a si próprios
Senão nessa alienação
De serem convertidos.