sábado, 25 de fevereiro de 2023
sábado, 18 de fevereiro de 2023
A alma num porta-aviões
Os sonhos eram sempre irrealizáveis
Sonho e realidade
mas como sonhos que eram
já eram bons
e chegavam a iludir
ao ponto de parecer que os estava a viver
porque eles tinham essa aptidão
de me encher de ânimo
como uma música
ou um espetáculo
e de me mover a atenção
e os músculos
havia sempre o lado agradável
dos sonhos
que me predispunha à gentileza
de olhar para as coisas e para o mundo
a partir da minha vida interior
concebendo as pessoas em cenários
de harmonia e de bondade
a culpa das desgraças
nunca era dos sonhos
os desgostos e as frustrações
não me faziam desistir de sonhar
e tornavam os sonhos ainda mais imperiosos
mas era preciso não ficar apenas a sonhar
parado a imaginar o lado bom das coisas
era preciso agir comunicar sentir
confirmar que existe uma distância
entre a fantasia e a realidade
que a fantasia promete tudo
ao desejo
mas a realidade dificilmente ou nunca
satisfaz
e ainda bem
porque quase sempre a realidade
acabava por dar mais do que prometia
e muito mais do que eu sonhava.
sábado, 11 de fevereiro de 2023
Luta por um direito
Quantos se dão conta da falta de formação e de instrução e de leitura inteligente e discutida, numa abrangência suficientemente plural e geral (universal de universidade), sem cedências a monolitismos, presunções, água benta e caprichos individuais, que deita a perder a visão para além do próprio nariz, ou do autodidatismo, por maior que seja?
Quantos militantes, por ex., comunistas, se dispõem a ler e a interpretar, sem ser através das lentes da sua perspetiva ideológica e do seu preconceito político-social, com base numa cassete, ou catecismo, simplificador e demolidor, mais ou menos adotado e intelectualmente assimilado, algum autor que não esteja catalogado “pelo partido” numa preconcebida matriz ideológica?
Quantos militantes, por ex., católicos, se dispõem a ler e a interpretar, sem ser através das lentes da sua perspetiva ideológico-religiosa e do seu preconceito político-social, com base numa cassete, ou catecismo, simplificador e demolidor, mais ou menos adotado e intelectualmente assimilado, algum autor que não esteja catalogado “pela igreja” numa preconcebida matriz ideológica, ou “índex”?
Que leitura fazem uns dos outros, se é que se leem uns aos outros?
Que predisposição de “audiência”, leitura, compreensão, interpretação, por ex. haverá num homofóbico para autores, artistas, pensadores, homossexuais? E vice-versa?
Como é que um católico pode ler, por ex., Saramago?
Como é que Saramago poderia ler, por ex., um autor católico?
Que é que, por ex., um deles pode reclamar para si como um estatuto, ou um mérito, ou um valor, que deva ser recusado ao outro?
Que obrigatoriedade, ou conveniência, pode sentir, por ex., um comunista, de ler S. Paulo, ou Stº Agostinho, ou um católico de ler um ateu militante?
O que é que está na base da atenção e do respeito que devemos uns aos outros?
O que é que está na base da atenção e do respeito que temos uns pelos outros?
É muito interessante e edificante quando assistimos a uma manifestação de cultura e de luta e de revolta que reúne muita gente, sem sabermos qual é a sua “identidade”, seja de filiação, ideológica, partidária, religiosa, étnica, nacional, clubística, regional, bairro, musical, gastronómica, seja de género, orientação, preferência, de qualquer ordem, por uma causa comum, por exemplo, de respeito por um direito, ou por uma resposta política.
sábado, 4 de fevereiro de 2023
Aprende-se a agir a pensar e a sentir
Os humanos têm uma desenvolvida aptidão para agirem, reagirem e aprenderem a agir e a reagir; para pensarem e aprenderem a pensar; para sentirem e aprenderem a sentir; para chorarem e aprenderem a chorar e a não chorar; para rirem e aprenderem a rir e a não rir...
Aprende-se a agir, aprende-se a pensar, aprende-se a sentir, mas é necessário ser bem ensinado e ser bem orientado. O contrário, pode ter efeito contrário.
Essa aptidão tem sido aproveitada, inúmeras vezes, de modo abusivo, para treinar e ensinar a ter determinados comportamentos, ou desenvolver trabalhos.
É possível, através da instrução, das letras, dos desafios, da discussão de problemas, levar o ser humano a essa capacidade de colocar problemas e tentar equacionar soluções, desenvolvendo práticas e métodos de análise e de reflexão sistemática.
Aparentemente, cada um sente o que tem de sentir, porque sente e nada mais. Mas quantos dos sentimentos são ensinados e incutidos?
É possível ensinar e treinar, por exemplo, para a tolerância, para o respeito, para o amor e para o ódio.
A função e o papel da Família, da Escola e dos meios de comunicação social, enquanto divulgadores dos atores políticos, religiosos, desportivos, policiais, artísticos, no desenvolvimento e orientação destas aptidões podem ser mais ou menos eficazes consoante o grau de coerência e o nível de satisfação que permitirem, em termos de compensações intrínsecas e extrínsecas, uma vez que toda a ação tem em vista uma satisfação.