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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Hoje apetece-me ser vulgar

Hoje apetece-me ser vulgar
Oportunista esperto fanfarrão
Por capricho receber no dar
Hoje quero e vou ser multidão

Hoje vou desiludir-te
Chegou o momento de ser quem sou
Vulgar e não mais
Que o mais comum
Dos mortais

Hoje vou divagar
Sobre a moral da história
Há sempre a ironia à mão
De qualquer um
Para se arrogar glória
E condição
Que não tem.

terça-feira, 28 de julho de 2009

E se um dia

Há um caminho
O dia e a noite
E o infinito
Os meus pés
Pela paz
A diante
Um bando de aves
Planando
Sobre uma montanha
Nada quero
Mas quero ter-te
Em lapsos dementes
De imagem imaginada
Bandeira
Içada sobre escombros
Ao assobio do vento
Palmeira desterrada
Sonho de não ser
Na tarde sem sol
Náufraga viva
Espera
Fora do tempo
Sem margens
Nem pontes
Nem lugar
Templo às divindades de nós
À imagem ignorada
Do tempo sem voz
Amor que se sabe
De ouvir falar
Desejo ilimitado
De não desejar
Sem caminho de ir
Nem de regressar
Prisioneiro
Sem porta de entrada
Cuja saída procura
Sem descanso
Liberdade perdida
Em sonhos reconhecida

Corpo nos braços
Que não salvou
Espelho angular
Que não evitou.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Notas críticas I

Todas as perguntas que fazemos a nós próprios valem a pena. As que fazemos aos outros, não sei. Quando um arquitecto quis uma janela da casa, que custava mais que a casa toda, o dono da obra perguntou: qual é a utilidade disso? E o arquitecto respondeu: nenhuma. Eu penso nisso quando visito alguns monumentos, templos e quando observo cidades, ruas, fachadas... quando ouço música...quando assisto a fogos de artifício.

Mas, sem querer passar por pedante, por que não lembrar Homero quando ele inicia os seus poemas épicos com uma invocação à Musa?
Ou, séculos mais tarde, Platão, o primeiro filósofo da literatura?
Hesíodo, Sólon, Simónides, Píndaro e os retóricos e dramaturgos do séc.V, formularam observações críticas, por exemplo: que a poesia é uma coisa encantadora, que tem de ser aprendida como uma arte, que consiste numa escolha inteligente das palavras...

Durante muito tempo o encanto da minha infância consistiu na ilusão que eu tinha de que tudo nasceu depois de mim. Estranhei a História. Freud era capaz de "diagnosticar" complexo de Édipo.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sinto-me triste

Estou triste
Sinto-me triste
Nas conclusões que tiro
Até das coisas mais lindas
Que tem a vida
Sinto-me triste
Por não sentir alegria
Só de pensar
Que as histórias
Não têm final feliz.

domingo, 12 de julho de 2009

Não é justo

Não é justo que eu sonhe
justo é que maldiga
Não é justo que eu ria
Justo é que chore
Não é justo que eu cante
Justo é que deplore
Não é justa a alegria
Justa é a amargura
Não é justo que eu ganhe
Justo é que perca
Mas eu não sou de justiças
Sou de sonhos
E de risos
E canto como um doido
Com alegria de quem não tem culpa
E ganho mil vezes menos do que perco
E darei cabo dos filhos da puta
Que sejam a causa da minha agonia
Dar-lhes-ei batalha justa
Com raiva justa
Sem alegria.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

E lá se foi

Um pássaro lindo
Voou ao contrário
Sugado por uma lembrança
De caminho andado
Mão dada
Numa eterna dança
Entre invernos sem ilusões
Um gato (pingado)
À chuva
Lá se foi
Platão
Eva
E Adão
Num jardim
Que não conheceis
De rosas em vasos imaginados
Mas que estão mortas
Há muito
No chão
Para onde cospe
O vilão
E dejecta
O fanfarrão.

sábado, 4 de julho de 2009

Em certas horas

Em certas horas a (va)idade
É outra
Asa desbotada
De um enigma
Que os olhos embals(amam)
Em certos olhos a pena
Vale mais a pena
Do que uma resposta
Que a vida exige (à gente)
Em certas respostas os amigos
Brilham no firmamento novo
De uma distância
Que a rádio não prop(r)aga
Em certas distâncias o tédio
É surdo
Centro imperfeito
De um círculo
Que fecha contigo fora
Em certos círculos o melhor
É o que não pode
Vender
Nem ser comprado
Que é a fraqueza mais forte
Em certas compras a pessoa
Aliena solidão
E silêncio
Em troca de uma verdade
Pior.