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terça-feira, 28 de junho de 2022

Tudo para ser feliz

Quando escrevo só 

Posso contar com o leitor

Para transpor

O limiar da minha porta

O poeta não se mete pelos olhos dentro

Como uma irresistível vénus desencadeia

Tempestades de prazer

Até a quem as não quiser

A poesia pode ser desbragada

Mas é a sedução de não ser nada

De não ter úberes

Nem ritmos de pimbalhada

Que entram pelos olhos dentro

Sem pedir licença

E sem dar licença para contento

Sentam o rabo na cara

A poesia é como a dança

Exibicionismo requintado de mais

Para os pés de chumbo

Que a desdenham e deploram

Como a trança de um cabo de cebolas

É cantar a uma janela

Sem ninguém lá dentro

Porque não está lá ninguém

Não é trabalho

É a infelicidade

De quem tem tudo para ser feliz

Uma arte

Ter tudo para ser arte

Mas não ser bela

Uma questão de gosto

Ter tudo para ser

Mas não acontecer.