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sábado, 18 de fevereiro de 2023

A alma num porta-aviões

Os sonhos eram sempre irrealizáveis

Sonho e realidade 

mas como sonhos que eram

já eram bons

e chegavam a iludir

ao ponto de parecer que os estava a viver

porque eles tinham essa aptidão

de me encher de ânimo

como uma música

ou um espetáculo

e de me mover a atenção

e os músculos

havia sempre o lado agradável

dos sonhos

que me predispunha à gentileza

de olhar para as coisas e para o mundo

a partir da minha vida interior

concebendo as pessoas em cenários

de harmonia e de bondade

a culpa das desgraças

nunca era dos sonhos

os desgostos e as frustrações

não me faziam desistir de sonhar

e tornavam os sonhos ainda mais imperiosos

mas era preciso não ficar apenas a sonhar

parado a imaginar o lado bom das coisas

era preciso agir comunicar sentir

confirmar que existe uma distância

entre a fantasia e a realidade

que a fantasia promete tudo

ao desejo

mas a realidade dificilmente ou nunca

satisfaz

e ainda bem

porque quase sempre a realidade

acabava por dar mais do que prometia

e muito mais do que eu sonhava.