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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O que é melhor para o planeta não é melhor para nós?


Continuamos a ouvir discursos numa "argumentação clássica" acerca das desigualdades e da concentração de riqueza, quiçá a favor de uma redistribuição como solução (curiosamente, como solução para manter em movimento acelerado a roda do capitalismo na mira do mítico e sacralizado crescimento económico) dos problemas que ameaçam os capitalistas (e o capitalismo), constatando que as revoluções só acontecem quando a crise chega aos ricos, que já deixaram de o ser ou estão em vias disso.
Mas este tipo de argumentação não traz nada de novo e segue a lógica imperiosa do modelo económico paradigmático.
A estranheza deste tipo de discurso, para não dizer originalidade, é a recorrência dos plutocratas à desculpabilização de si mesmos e à culpabilização do Estado e dos governantes.
É incrível que “tenham” de ser eles próprios a vir dizer, com ênfase, que querem pagar mais impostos, que ganham demasiado dinheiro, mas que o Estado e os governantes nada fazem quanto a isso, ou porque não querem, ou porque andam “distraídos”. 
Duvido que alguma vez na história tivesse ocorrido algo semelhante, que se vai repetindo um pouco por aqui e por ali.
O Estado, os partidos, os governos, parecem reféns da lógica da sua própria dogmática ideológica. 
No futebol também há situações em que o jogador diz que não tem culpa de ganhar tanto, que nem pediu dinheiro, este é que lhe é oferecido.
De qualquer modo, estamos a assistir a uma realidade que está a passar ao lado dos discursos e das reivindicações dos nossos tempos.
Talvez possa soar a heresia dentro do paradigma clássico, mas é um facto que, sem ninguém o ter pretendido, ou por ironia do destino, a concentração de riqueza, com as inerentes desigualdades, sendo um escândalo social e moral, um pouco à semelhança do que acontece com as medidas de austeridade, mas muito mais grave, não deixa de ser uma “bênção” para o planeta, para a necessidade de o salvar.
Vejamos. 
Se redistribuíssem amanhã a riqueza pelos que a não têm, o que é que aconteceria? 
Não digam que todos ficariam melhor e que haveria mais ricos, porque os efeitos seriam devastadores... para o planeta.
Os níveis de consumo, se não forem controlados, talvez sejam a maior ameaça para a humanidade.
Se ao menos fosse possível alcançar menos consumismo de bens materiais, desperdício, destruição, poluição, extinção de recursos, em troca de mais consumo de serviços... 
Mas este nó parece ser um nó górdio.