Senti que era ali o fim
da terra
que o mar já eras tu
o sol brilhava
como eu via os teus olhos
os horizontes
destinos
sem nenhuma tempestade
anunciada.
Carlos Ricardo Soares
Um fado demencial
cantado ao ritmo metalúrgico
de guitarras enlouquecidas
por lagartas de blindados
numa invasão
podia ser evasão
mas grades intangíveis
só têm um lado
o da prisão
o lado de dentro.
Carlos Ricardo Soares
Aquele é um lugar de silêncio
Deus não fala
a possíveis perguntas
todas as respostas estão dadas
em grandes abstrações
na semiobscuridade
os visitantes ajoelham
diante do crucificado
ainda antes de confessarem
a sua humilde condição de pecadores
contritos
de mostrarem arrependimento
e de pedirem perdão
sabem que estão absolvidos
pela lei do amor
antes de serem julgados
pelo supremo juiz
infinitamente bom
misericordioso e abstrato
em troca de um propósito firme
de emenda
e de penitência orando
serão redimidos
pela prática da virtude
e pela fé na adoração
e com o conforto que sentem
do dever cumprido
levantam-se e saem
para o bulício exterior
com a luz
a bater-lhes nos olhos
lembram da realidade da vida
e do que há a fazer.
Carlos Ricardo Soares
São demasiados rios
para tão poucas margens de erro
demasiadas tempestades
para tão frágeis pontes
insustentáveis pontos
de vista alegre
inconsistentes margens
na fluidez
das miragens
da solidão
qualquer coisa de
absolutamente.
Carlos Ricardo Soares