Por Castro Laboreiro
um intruso
que caminha
milhares de anos
até chegar aqui
ao refúgio dos lobos
que me seguem
e já os pressenti
na sombra dos carvalhais
pelos bosques
tropeço em calhaus
no mato molhado almejo
por vales e corgas
ao fundo um prado
batido pelo sol
inspiro o ar almiscarado
e lá no alto azul
com asas colossais
águias dão voltas
tão suaves
que nem parecem reais
como este riacho
a cortar a passagem
e mais abaixo defronte
de bela arcada uma ponte
de pedra tão antiga
que parece segura
de sempre ter estado ali
erguida
sobre a verdura espessa
que abriga lontras e rãs
e o mesmo se diga
de árvores tombadas
no ervaçal de hortelãs
donde salta em alvoroço
natural
um corço assustado
como se fugisse
de um caçador feudal
fico arrepiado
com tal beleza
que nem penso
que outras passaram
afinal
onde está aquela ponte
outras pontes desabaram.
Carlos Ricardo Soares