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quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O mais revolucionário ateu

“Deus é o silêncio do universo, e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio”. Ao ler esta frase, atribuída a José Saramago, diria que ele, a pensar assim, não era ateu. 
Ao criar Deus, o homem não pode crer que está a parir e não propriamente a criar, mas está a parir um "filho" do pensamento indomável, uma espécie de alma sem contornos, nem qualidades, que habita esse pensamento e que está tão presa a ele como ele está preso ao corpo.
E nesta génese de Deus o homem foi significando a religião, as religiões, com os mais variados objetivos, práticos e teóricos, tornando-as em caldos de superstições e de contradições e de sistemas políticos e normativos.
Jesus Cristo parece ter tido uma visão muito clara de que as religiões, incluindo a judaica, eram uma espécie de pseudociências de Deus. Quem soubesse a cassete do "jargão" religioso, sentia-se habilitado a falar disso como um sábio.
Infelizmente, Jesus Cristo não foi devidamente compreendido. Ele era o mais revolucionário ateu numa cultura de pseudociências de Deus. Ele foi o mais lúcido, contundente e demolidor adversário e inimigo dessa cultura.
Mas os próprios cristãos, o cristianismo, os poderes políticos, a igreja católica, trataram de o interpretar e de o integrar no velho sistema de pseudociências de Deus, como se ele fosse mais um, embora diferente e melhor.
E, mais grave do que isso, endeusaram Jesus Cristo. Ao endeusá-lo estavam a endeusar a própria Igreja, o que veio a revelar-se catastrófico, e a destruir, desvirtuando-a e deturpando-a, a grande mensagem de Jesus Cristo contra as religiões enquanto pseudociências de Deus.
O que poderia ter sido um imenso movimento de iluminismo antecipado e fulgurante, verdadeiramente libertador, acabou por ser absorvido em sistemas de mais pseudociências de Deus.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Humanidades

As humanidades e a ciência não estão separadas. Falar em humanidades não pode fazer esquecer as ciências do homem e as ciências da vida, nem a riqueza das línguas e literaturas, das artes, da música à pintura, passando pelos desportos, das filosofias, da antropologia, da psicologia, da demografia, da sociologia, da ciência política, do direito, da justiça, da história, da gastronomia e, porque não?, das religiões...
Falar em humanidades, sem mais, normalmente corresponde a apagar a luz do quarto para dormir. Mas as humanidades, tal com a esperança, serão a última coisa a morrer e as ciências humanas ainda agora iniciaram o seu percurso, a sonhar, de mão dada, ora pelas ciências da vida e da Terra, ora pela estatística, ora pela genética, pela psicologia... 
As humanidades são a expressão da humanidade, ela própria, no seu espectáculo ímpar e pluridimensional, por causa e apesar da ciência, com mais ou menos ciência, sempre do lado da ciência, mas antes e depois da ciência, porque o homem é anterior à ciência, e não apenas à ciência "stricto sensu", com hipóteses de lhe sobreviver, mas não de esta a ele.
As humanidades e as ciências do homem não criaram o homem nem o substituem em circunstância alguma. 
Ao homem deve ser sempre reconhecido o direito de dispor das humanidades e das ciências, mas nunca da humanidade. 
As humanidades não se dedicam apenas às pessoas, e que assim fosse! Mas isso é parte de um lugar comum, que já é tempo de desmontar. 
Todas as ciências, toda a cultura, o próprio Deus, são humanos, fazem parte das humanidades.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A filosofia vai ter um sucesso do caraças.


Quando se trata de perceber, compreender, investigar, questionar, desconstruir, já não estamos a falar para pessoas que têm como grande preocupação, ou preocupação exclusiva, sobreviver às injustiças e às falsidades perpetradas e cultivadas intensivamente, como quem cultiva e consome cannabis...
Mas vale a pena, tem que ser e é esse o rumo.
Pode ser necessário velejar à bolina, mas o "capital" da ignorância é demasiado valioso e poderoso para ser deixado nas mãos dos ladrões que, sem escrúpulos, a colonizam como um fungo maldito, transformando em deserto tudo à sua volta.
Neste tempo de ópios, futebóis, seitas a imitar as "respeitáveis" igrejas, partidos enformados como seitas, Estados organizados por esses todos, num espetáculo de crime e corrupção, que é ofuscado pelas telenovelas e pelos "shows" de Gouxxass e Ferrreirass e outros entretenimentos de grande sucesso e maior proveito para uns quantos, de jogos de uma dimensão épica nunca vista, nos telemóveis e no momento de morrer, a filosofia vai ter um sucesso do caraças.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O que importa é a Arte

Ao fim e ao cabo, ociosidade dos discursos à parte, o que importa é a arte. A arte está para a evidência como "o campo" está para a verdade desportiva. Não me refiro apenas às "leges artis", refiro-me sobretudo às habilidades. Nem todos temos habilidades, por ex., para endrominar um júri. Nem todos temos habilidades para fazer o mortal à retaguarda ou voar numa bicicleta, ou grafitar o último animal extinto...Como eu gostava que me ensinassem essas artes! Trocava grande parte dos meus saberes e conhecimentos pela arte de dar cambalhotas sem apoio e sem parar...

domingo, 4 de novembro de 2018

O direito é como o natal

Todos abanam com a cabeça e ninguém tem dúvidas, mas cada cabeça é um centro de vontades e de ignorâncias e de competências. Os políticos, como se tem vindo a confirmar, gerem esta realidade de um modo hábil e oportunístico. 
Os políticos são oportunistas e, se o não fossem, não tinham votos.
Não há como ultrapassar este problema. Tem que se dar às pessoas o que elas querem. 
Não querem direitos humanos? Estão no seu direito. Querem pena de morte? Estão no seu direito. Querem mais direitos para as pulgas ou os cães do que para as pessoas? Estão no seu direito. 
Basta reconhecer o direito às pessoas.
Mas estamos cada vez mais longe de ver reconhecido(s) o(s) nosso(s) direito(s).
O problema fundamental ainda não foi resolvido, qual seja: a que é que uma pessoa (de África, Ásia, Europa, América, Oceania...)tem direito? O que é o direito de uma pessoa? Quais são os direitos de uma pessoa?
O direito é como o natal, é quando uma pessoa quiser...
Talvez devamos concluir que as pessoas não precisam de Declarações de Direitos para saberem o que deve ser o seu direito.