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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Desçamos à terra

Que o vão seja a forma
de um apenas
e haja forma de o ser
manter raízes
que a dor de saber
que nos condenas
oh, Deus! É uma dor
por aquilo que não dizes.

Não busco canto nem
dia perfeito
não busco nada
no que aparece
a maior parte
é este meu defeito
de acreditar
naquilo que acontece.

Como se a própria vida
me traísse
embora eu pense
que o traidor sou eu
tenho pena por tudo
o que não disse
melancolia
pelo que morreu.

Estranha esta alegria
de estar vivo
estranho mundo
sob estranho céu
a minha vida
ganha algum sentido
se penso no sentido
que perdeu.

sábado, 21 de dezembro de 2019

O sentido da vida

Ainda bem que a filosofia, e não tanto a investigação empírica, não tem como objecto a formulação de receitas para responder a questões e, muito menos, a resposta teórica a problemas de ordem prática.
A própria questão do sentido dificilmente será uma questão objectiva, quanto mais a questão do sentido da vida, da minha para os outros, para mim, e dos outros para mim, para eles. E, em tudo o que tiver de objectivo, provavelmente, já não é uma questão do sentido que se interroga, mas do sentido de que se parte.
Dentro das escalas e acepções possíveis de sentidos, imediatos, de mero expediente, de sobrevivência, ou teleológicos, biológicos, culturais, é possível concluir que tudo faz sentido, ou não, consoante a "oferta" de "sentido" disponível na cultura.
Do mesmo modo e ainda de acordo com essa oferta, seja ela religiosa, filosófica ou científica, não existe nenhuma "oferta" meramente subjectivista. A própria religião recusa peremptoriamente qualquer resposta subjectivista, relativista, pessimista, para a questão do sentido da vida.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Engodos e Bluff

Quando nos sentimos obrigados a vir para a rua gritar...
As nossas percepções tendem a ser influenciadas e manipuladas e viciadas pelas forças políticas, económicas e religiosas no terreno, que se manifestam diante dos nossos olhos e ouvidos de um modo tão virtual, com tantos engodos e bluff, com tanta representação social à mistura, que o facto de as televisões e os jornais e as redes sociais serem a nossa fonte de informação só por si constituem um problema sério porque, de algum modo, são nossos sequestradores.
Não há uma verdade oficial. E ainda bem.
O discurso oficial, o politicamente correto, são tão suspeitos que, eles próprios, se demitiram do dever de informar, porque eles têm interesse em não informar, ou em informar apenas o que lhes interessa.
E era aqui que eu queria chegar.
Os governos devem assumir como uma das suas funções principais, através da criação de equipas técnico-científicas, não a pedagogia das populações, nem a doutrinação, nem a propaganda alienante, virtual e massificadora, mas a informação a que, objetivamente, cientificamente, já é possível chegar e o cidadão tem direito.
Este “possível chegar” não é para o cidadão comum, mas é possível para o Estado.
Acredito que os Estados mais ricos tenham capacidade para recolher (e recolham) e tratar dados (e tratem) sobre praticamente todas as áreas, nomeadamente polítcas e económico-sociais.
A explicação para fenómenos tão estúpidos e vergonhosos como racismo, xenofobia, chauvinismo, hooliganismo..., ficaria acessível ao público e a sua análise permitiria concluir muita coisa, válida e consistente, sobre a sociedade, em termos comparativos no espaço e no tempo e as tendências atuais, nomeadamente políticas, para além daquilo que sabemos pelos telejornais e pelas impressões dos nossos amigos e inimigos.
Enquanto, aparentemente, os Estados andarem todos a fazer bluff (como se estivéssemos perante fenómenos inexplicáveis e sem solução) seremos induzidos a seguir líderes de coisa nenhuma, porque tudo o que têm para nos dizer (limitam-se a ampliar/amplificar populismos e demagogias à cata de votos ou anuências ou proselitismo) não vale mais, nem é melhor, que aquilo que nós sabemos.
Se soubéssemos (e acredito que há Estados e polícias que sabem) quem são os racistas, etc..., e as razões e motivos que os movem, talvez ficássemos esclarecidos sobre aspectos muito importantes, graves e deploráveis, que podemos e devemos corrigir com justiça.
As cortinas de silêncio, o clima de suspeição, a cultura de bruma e de medo, os fantasmas da guerra... são instrumentos poderosos cuja utilização interessa a quem sabe muito daquilo que nos interessa saber mas não informa, porque tem poderes para “não informar”.
No entanto, não mais basta que um grupo dominante queira isto ou aquilo.
A minha percepção é que este é o problema, mas também é a esperança de mais justiça e de mais racionalidade.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O mercado da atenção


Vivemos numa sociedade em que as palavras são reproduzidas diante dos nossos olhos, quando somos leitores, ou atingem os nossos ouvidos, quando estamos no papel ou atitude de escutar o que diz Molero ou o que falava Zaratustra, com a previsão de serem entendidas e interpretadas como cada um quiser ou for capaz...
O mercado da atenção é um problema muito complexo para toda a gente que depende dele.
E, cada vez mais, dependemos desse mercado, não apenas como dizentes ou falantes, mas também como escutantes ou ouvintes.
Neste mercado da atenção, tudo se transforma em ruído, mas a liberdade, que é muito bonita, não é para todos.
A liberdade de dizer/falar e a liberdade de escutar/ouvir não são da mesma igualha e, no mercado da atenção, a liberdade de uns não é propriamente liberdade de outros.
O paternalismo e a emancipação têm vindo a ser o ator e a sua personagem dramática e/ou trágica, das relações de poder, num teatro que virou tudo do avesso ao tornar-se verdadeiro poder e um poder maior.
Tudo sob a égide de um deus (dinheiro), que não precisa de saber, nem tem de valer nada, para ser critério de (quase) tudo.