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segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Se puderes, se não, tenta dizer isso a alguém

Se tivesses, ou se tiveste, ou se tens, de te posicionar, mesmo que de uma varanda para o mundo, e confessar, de um lado, por exemplo, do lado dos ricos ou do lado dos pobres, diz-me qual é o teu lado, e dir-te-ei o que penso.

Se puderes, mantém-te ferozmente independente dos grupos de interesses, que cercam e permeiam os comércios e os favores políticos, que não respeitam as regras do jogo democrático, que tentam ganhá-lo a todo o custo, sem pejo nenhum em fazerem batota.
Se puderes ser independente aceitarás o risco e o desafio de seres tratado com hostilidade e desconfiança por todos os que tu olhas com humana compreensão, mas não com condescendência nem com negligente desatenção.
Se puderes ser independente não serás líder de nada, nem de ninguém e, na melhor das hipóteses, tentarás ser líder de ti mesmo, porque os líderes são uns tipos que têm poder.
Se puderes recusar a condição de obediência e sujeição que te impõem como se te oferecessem vantagens, não enjeites reflectir sobre quanto em ti é feito de recusas e de submissões, de iniciativas e de liberdades.
Se puderes, investiga e desafia sem medo e sem favores e, se tiveres que te sacrificar, ainda que o sacrifício seja alto, é por um valor e um bem eminente, que importa a todos e que não está disponível nos mercados, nem nos purgatórios.
Se puderes, que sejas uma inspiração para os valentes, que não sabem o que fazer, e para os fracos, que adoptam a solução mais cómoda e imediatamente mais plausível na perspectiva do grupo dentro do qual negoceiam protecção e recompensas, em troca de vassalagem.
Se não puderes, interroga-te sobre a tua impossibilidade, sobre as causas dessa impossibilidade e tenta dizer isso a alguém.
Nunca é tarde para abrirmos os olhos e constatarmos que o coração serve para muito mais do que bombear sangue para as artérias e que as nossas preocupações devem alargar-se até àqueles que trabalham e lutam por liberdade, direito e justiça.