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sábado, 29 de fevereiro de 2020

A direita é quem governa


Reparem que a direita é quem governa, mesmo quando ganham os partidos de esquerda. 
É mais simples e mais eficiente do que montar estruturas partidárias declaradamente de direita. 
De resto, os partidos de direita que temos tido são só para disfarçar e compor o painel. 
Aliás, pegam em dois ou três temas que animam toda a gente, iludindo e confundindo quem se habituou a pensar a esquerda como a luta pela justiça e...o eleitor criterioso e exigente deixa de ter em quem votar. Com a abstenção, mais uma vez, quem ganha é a direita. 
A direita ganha sempre. 
Não se iludam, se a direita quisesse assumir-se como tal e ganhar as eleições por larga maioria, só tinha que se dedicar, porque meios não lhe faltam, e a democracia também é terreno fértil da manipulação. 
Mas preferem ganhar as eleições disfarçados de esquerdas e, na realidade, parece ser a melhor estratégia. No dia em que se tornar explícito que a direita domina, porque ganha eleições, se isso chegar a acontecer, mas não creio que a direita queira, a própria direita voltará a disfarçar-se de esquerda. 
Isso de esquerdas e de direitas, na actualidade, é só para intelectuais prestarem um serviço aos mesmos: à direita.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

A ética como factor perturbador do objecto de conhecimento

Apontamos para horizontes que serão alcançados mas, por enquanto, sobrelevam lutas tribais por domínios e liberdades que são negados aos outros. É a realidade, é a biologia e o cérebro a funcionar. São os determinismos da natureza. 
Mas, então, porque continuamos a acreditar que somos capazes de perceber que os outros procederão como nós e que o egoísmo é um suicídio?
Vivemos num tempo assustador. porque é necessária, cada vez mais, atenção e desconfiança, por parte de todos, para não serem comidos e isto é um estado de guerra demolidor que esgota as energias e a paciência da maioria, que tem de jogar à defesa dos seus interesses vitais, sem ser capaz de um ataque...
A ciência seguirá para onde terá de seguir e vencerá, como não poderia deixar de ser. É sempre assim. 
O que tem de ser tem muita força.
Não será por querermos empenho que haverá empenho. Se é preciso que nos empenhemos, certamente nos empenharemos. 
A necessidade não é a mãe de todas coisas? 
Mas a necessidade de uns pode não coincidir com a dos outros e podem até ser antagónicas.
É muito ingrato e terrível enfrentar o cenário "científico" dos problemas, mas sobretudo da resolução dos problemas.
A ciência das "leis da natureza" já deu frutos preciosos e permitiu avanços notáveis no capítulo das "leis sociais e económicas".
Mas é importante considerar, cientificamente, o sentido que a estupidez humana poderá ter no "puzzle" da compreensão do mundo, uma vez que tem desempenhado a principal função.
Do ponto de vista da evolução, não há problemas, porque bate sempre tudo certo, está tudo sempre bem, etc..
Estou a pensar, não no interesse que alguém pode ter em sacrificar os outros, mas no interesse que alguém poderá ter em sacrificar-se pelos outros ou por uma coisa qualquer.
Se abstrairmos do lado ético (de que a ciência se ocupa enquanto manifestação da natureza, nomeadamente a neuro-ciência e a psicologia), a diferença entre sacrificar os outros e os outros sacrificarem-se só não é nula porque esta última alternativa é imensamente menos provável de acontecer.
Se excluirmos a ética, na natureza, está sempre tudo em equilíbrio, é sempre tudo igual ao litro.
A ética, embora não afecte o conhecimento, apresenta-se como o factor perturbador do objecto do conhecimento, da natureza.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

As coisas e a vida não precisam de ter significado, ou explicação, para serem o que são

Quantos de nós se apercebem de que, apesar de vivermos numa cultura intencional e sistematicamente "significadora", centrada na formulação e exploração de significações e de sentidos, há um predomínio daquilo que não tem significado, nem precisa, nem pode verdadeiramente ter, nem interessa que lhe atribuam?
Se tomarmos a Escola como exemplo para ilustrar o que digo, logo daremos conta de que a questão do "significado" e do "sentido" é um prévio requisito de elegibilidade, mormente se o critério geral for o da utilidade/retorno...
Todas as disciplinas se tornaram ávidas, pelo princípio de alguma forma de economia/importância/relevância, da evidência do significado e do sentido de existirem.
A ironia é que esta exigência de justificação impõe pensamento e construção racional que, ela própria, é um objecto de parca valia e menos apreço.
Atalhando, quero eu dizer que as sociedades hodiernas assistem a um recrudescer da importância dos talentos não directamente revelados como talentos de discurso do pensamento, saber pensar (filosófico, científico, político, económico, religioso...), que se revelam nas áreas do desporto, das artes, do lazer, da poesia, música, gastronomia, contemplação, ócio, vadiagem...
Se observarmos e analisarmos os dados das economias dos países, talvez nos surpreenda que mais do que os suportes tecnológicos da comunicação o que importa são os "conteúdos" comunicados e estes, da música ao futebol, passando pela dança, pela contemplação de uma paisagem, pela gastronomia, ou por uma droga...quanto mais se apresentarem como simples fruições e menos como interrogações ou respostas, maiores adesões obtêm e mais compensações/retornos dão aos seus autores e respectivos países.
Por incrível que pareça, não são os filósofos, nem os historiadores, nem os cientistas, nem os engenheiros... que obtêm ou geram mais rendimentos nas economias dos países.
As coisas e a vida não precisam de ter significado, ou explicação, para serem o que são, interessantes (como um chocolate, uma dança, um quadro do Picasso...) ou não (como a morte, um acidente...), mas o significado e questões de pensamento e de sentido poderão fazer acreditar que as coisas não têm de ser como são.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

A Escola é um bicho de sete cabeças

A Escola é e pode ser muito mais do que um instrumento de socialização programado, porque é investimento, ordenamento e controlo social e sistema institucionalizado de (des)classificação social, que tende a normalizar as ignorâncias instituídas e a promover os interesses reinantes, numa espécie de círculo vicioso.
Na sociedade tudo funciona. Funciona a ditadura, a democracia, o totalitarismo, a escravatura, o liberalismo, a república, a monarquia, o capitalismo, o socialismo...O cristianismo, o ateísmo...
Não nos deixemos enganar pelo critério da eficiência como boa racionalidade.
A eficiência pode ser obtida à custa de muitas coisas bem mais importantes.
Se a Escola não fosse obrigatória e não fosse Pública, as questões eram outras.
No caso da Escola obrigatória e Pública, compete ao Estado o discernimento, clarividência, bom senso e justiça de cuidar de um bem comum que é muito mais do que um instrumento de ordenamento da sociedade, com o séquito usual de sanções positivas e negativas e consequentes injustiças.
A Escola, como representante do saber e do conhecimento, gera expectativas muito elevadas, demasiado elevadas, mas tem de saber muitas coisas e uma delas é saber ser solução e saber não ser problema para os alunos e professores.
A Escola, em Portugal, ainda é um bicho de sete cabeças para toda a gente, menos para os políticos, que a resumem a um problema de números de orçamento, a eventuais prescrições económicas e a algumas más memórias suas.
Mas a Escola não pode ser aquele labirinto onde os teus pais te abandonam, fecham a porta e nunca mais encontras a saída e não te encontram, ou, por diversas razões, encontras a saída ou te encontram.
A Escola não pode, simplesmente, forçar o aluno a deslocar a sua atenção de si mesmo, dos seus problemas individuais, pessoais, e esperar que se dedique, abnegadamente, aos problemas da sociedade, como um sacerdote, sem uma razão convincente dessa abnegação (na perspectiva dele e não da sociedade)...
A Escola não pode ser o protótipo da Casa dos Problemas e dos Terrores, sem presente, onde tens de entrar no futuro ou no passado e onde tudo soa a ameaça e a fim do mundo, ou a depressiva e culpabilizante retrospectiva de uma História da humanidade, de horrores, infâmia, violência e destruição.
De cada vez que se introduz um novo projecto, seja de saúde, de sexualidade, de sustentabilidade ambiental ou de direitos humanos conexos, a advertência é grave e as perspectivas não são animadoras.
A Escola não é não será o paraíso dos crânios ermos, mas tem de ser mais do que o inferno ou o purgatório das jovens almas censuradas.
A Escola pode ter de ser subversiva para continuar a ser Escola.
E tem de ser diversa como diversos são os alunos e os professores.
Realista, para os alunos e os professores que existem.
A Escola não pode contar com um ideal de aluno e um ideal de professor, por mais perfis que se façam.
Os políticos da educação e os diretores das escolas deviam, obrigatoriamente, dar aulas, nem que fosse a uma turma e, de preferência, a que estivesse sinalizada como mais problemática.
De resto, para abreviar, premiar os alunos bem classificados e punir os mal classificados, em âmbito de escolaridade, parece-me um mau princípio.
O valor das classificações, para todos os efeitos e mais algum, está longe de corresponder ao interesse e ao valor das aprendizagens, para já não falar dos saberes e das competências e, mais ainda, do mérito e das realizações/reconhecimentos sociais e profissionais.
A Escola não pode ser, não deve ser, nem para alunos, nem para professores, mais labirinto do que a vida já é.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Nas Portas do Sol de Santarém

Já entrei por uma porta grande
e subi às torres da fortaleza
e vi o sol nascer
ao som das trombetas
duvido que algum imperador tenha mijado
nas portas do sol
a contemplar o Tejo e Almeirim
nem o rei
D. Afonso Henriques o conquistador
compreenderia
o esplendor da minha ingénua alegria
enquanto fumava um cigarro
às escondidas da tia.