terça-feira, 28 de junho de 2022
sábado, 25 de junho de 2022
Fender
Ouve cantar aves que espreitam
Da fenda da floresta
O atrevido afagamento do sol
Quantos silêncios inofensivos
Estão atravessados num sorriso
Quantos enigmas são precisos
Para resgatar do esquecimento
As âncoras ofuscadas
Pela refracção dos prismas
Que à toa fendemos
Ao rasgar páginas pela fenda
Da leitura da escrita
Espigas do mundo
Seios dourados
Às transparentes mãos
Porém imperfeitas
Do dia que se faz
Adivinhar pelas fendas
Dos abismos
Que tem o luar.
sábado, 18 de junho de 2022
Poesia dos aranhões
segunda-feira, 13 de junho de 2022
A felicidade
A felicidade. O que se entende por felicidade? Bem-estar, satisfação?
O conceito de felicidade tende a ser referido a situações objectivas que, raramente, ou
nunca, serão atingidas e, se o forem logo confirmam que a felicidade não é intrínseca a situações particulares da fortuna e do mundo, como se não houvesse situações
susceptíveis de dar felicidade, porque esta não existe fora do indivíduo. O que me torna feliz, provavelmente, não tornaria felizes os outros e, hipoteticamente, até poderia torná-los
infelizes. Por outro lado, a minha felicidade não está livre de, mais tarde, ser fonte de infelicidade.
O conceito de felicidade, todavia, e por ser assim tão subjectivamente condicionado e determinado, é de inestimável utilidade para tentarmos compreender a natureza humana e encontrar em tudo o que é acto humano esse sentido da felicidade.
A tese que defendo é que tudo o que é acto humano é racional e implica uma escolha que é a melhor (todo o acto é individual). Do que sei sobre o ser biológico do homem, nomeadamente dos processos homeostáticos, não só a racionalidade é um determinismo, como a escolha é inelutável, um imperativo, diria, natural. A felicidade é o critério. Não há outro. É um fim em si mesma. Não é instrumental. Instrumental é tudo o que for susceptível de realizar a melhor escolha.
A cultura humana é determinada, em todos os seus aspectos, por um princípio que eu designo, num trabalho que tenho elaborado
sobre Ser Humano, por princípio da felicidade, como princípio normativo de todos os outros princípios.
A minha argumentação vai no sentido de que a cultura é a manifestação
de um dever-ser que é um ter-de-ser (da natureza). A inversa não é verdadeira, quero dizer, o ter-de-ser da natureza não é manifestação de um dever-ser, excepto no caso da cultura.
Qualquer
texto serve para tentarmos sustentar a tese que defendo. Qualquer situação humana também.
A esperança está no reconhecimento social e institucional dos mecanismos biológicos egoísticos (da felicidade) e na gestão e disponibilização de quadros de possibilidades de escolha que não impliquem que a melhor escolha não seja boa.
domingo, 5 de junho de 2022
Liberalismo utópico
As ideias de democratizar a sociedade, democratizar a escola, democratizar a cultura, democratizar a boa vida, democratizar a felicidade, aparecem frequentemente associadas, e não da
forma mais correta, à ideia de que a sociedade, a escola, enfim, tudo, deve seguir um modelo liberal, muito liberal, muito individualista e funcionar sem paternalismos, baseado na autonomia do indivíduo e na
utopia da liberdade total.
Associar a ideia de democracia a esta utopia de liberdade é um grande passo para ignorar o sentido e confundir ambas. Democratizar só faz sentido se significar tornar democrático,
e tornar ou ser democrático está muito longe daquela utopia liberal.
Aliás, aquela utopia liberal choca de modo irreconciliável com a democracia e os modos democráticos de gestão
e resolução de conflitos e de problemas sociopolíticos e institucionais.
Se quiséssemos ser antipáticos, sem deixarmos de ser democráticos, diríamos que, mais frequentemente
do que gostaríamos, constatamos a total incapacidade das escolas para promover aprendizagens que despertem e fomentem o espírito crítico e a hermenêutica. Isto é visto como algo estratosférico,
para não dizer exosférico.
Os elevados níveis de especialização requeridos por cada área de análise crítica e fundamentada vão sendo atingidos por um reduzido
número de especialistas que só se entendem uns aos outros e, às vezes, só a si mesmos.
Ora, a maioria das pessoas não aspira a uma vida de solilóquios ou de intermináveis
discussões consigo mesmo embora possa estar a falar para as paredes, que até têm ouvidos.
Carlos Ricardo Soares