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sábado, 11 de agosto de 2012

Conto ao meu tempo


Conto ao meu tempo
que o meu tempo sabe
e me ensina
a felicidade infeliz
que assim foi
como dizem que assim é
agora
ao depois que fora
apenas a voz do que era
ninguém ignora
lança ou expande
da terra
o que a canto destina
e a terra eleva
sem tempo
escreva.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Todo o bem que te fazem



As luzes da cidade
não me deixam ver as estrelas
são como velas
que alumiam
o caminho para o céu


A chama dos pensamentos
É uma estranha dança ao espelho
Com música e tambores 
Que nos ignoram


Se o pensamento é caótico
mais inábil do que o instinto 
a saída
do labirinto é 
(como penso)
o que sinto


Não te canses de perguntar
se as coisas têm de ser como são
se podes retribuir aos burros
todo o bem que te fazem.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Começar do zero



Não consegues regressar 
para recuperar o que perdeste 
e não querias
para fazeres o que não fizeste 
por não saberes
ou porque não podias
não consegues esvaziar a mente
da tristeza 
das derrotas 
e das vitórias 
não colheste alegrias
não foste capaz de amar
por não achares quem mereça
o sonho
sonhar sonhaste
com nada do que aconteça
a vida é sonho
paralelo à morte
tempestades
em que ninguém se salva
não consegues imaginar como será 
como seria
a felicidade de um novo dia
se o mundo nunca tivesse existido
para a alma 
começar do zero.



sexta-feira, 23 de março de 2012

O nojo



Encontrei um tipo a vomitar 
a própria sombra, 
no candeeiro da esquina 
da avenida do Ar com a rua do Mar, 
em frente à taberna jaguar
pensei
o que fazer quando as palavras enojam e tudo à volta delas?  
A maior mer.. é a mer.. impingida como se fosse outra coisa ou, 
pior ainda, 
como se não fosse mer.., ou, 
ainda mais, como se fosse coisa boa. 
Se estas palavras enojam, não há remédio. 
O remédio “não leias” é um veneno. 
Um bom remédio não é possível. 
Enquanto as palavras não te enojarem de morte, 
serás um grande ignorante. 
À medida que te fores enojando, 
serás um ignorante cada vez mais pequeno, 
até não seres nada 
reflecte 
lê 
fala. Escreve. 
Vale a pena. 
A pena.
Agora, 
entra o retórico em palco
e até o oxigénio imprescindível para respirar se torna asfixiante. 
Estado de coma. 
O oxigénio do retórico é o coma dos outros. 
Cuidado com a retórica. 
Perigo de morte. Afasta-te.
Cague com classe!
Que arte?!  C… com classe. 
Borrar com classe. 
Classe. Escrever…mer... 
Escrever com…mer... 
A mer.. é o menos, é o nada (que existe). 
Escrever é que é.

terça-feira, 13 de março de 2012

A estas horas



São onze horas
mas isto nada me diz
se fosse madrugada
talvez eu estivesse acordado
como uma estrela
a vigiar o sono do mundo
para que ninguém morra
de improviso
ou de solidão
mas a estas horas
o meu cão
dorme ao sol .


sábado, 10 de março de 2012

Ouvir a chuva

No meio daquele barulho todo
daquela gritaria
da multidão descontente
o poeta ou---via
a chuva a fustigar os rostos
e os peidos de sua excelência
zarpando
num bólide
que não era seu
e chamou a poli---cia
mas só a poesia
compareceu.

domingo, 4 de março de 2012

Nada se assemelha



O céu e a terra
se o meu pensamento
os fosse
mas não é
nem se assemelham em nada
como nada se assemelha
às casas
entre o horizonte e as memórias
que não dão poiso.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Roda


Hoje foi um dia para esquecer
que nunca poderei esquecer
que começou bem
a contar dinheiro 

como habitualmente
no décimo andar 

do banco
assistindo 

ao nascer tímido 
do sol
ouvindo os sinos 
da catedral
entoando uma oração 
graças a Deus 
mais um dia
que não acabou mal
a escrever neste portal
o dia da morte do herói
desconhecido.