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domingo, 17 de outubro de 2010

Os teus pecados


Olhas para o espelho e não encontras 
um rosto
o que vês não é o reflexo 
do que conheces
o espelho é uma porta 
aberta para a eternidade
a entrada interdita 
à luz dos olhos
não estavas à espera 
que um espelho fosse
um pensamento 
que podes estilhaçar
mas não consegues 
desarmadilhar
embora penses que há-de haver uma chave
para compreenderes 
o que pode acontecer de mal
a um homem bom
a verdade não tem fechadura.



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os meus poemas

Os meus poemas nem sempre iluminam
Nem sempre obscurecem
Os meus passos
Nem sempre sobem
Nem sempre descem
Escarpas
Escadas
A minha imaginação
Nem sempre se perde
Nem sempre me perde
Atalhos
O meu mundo nem sempre aparece
Nem sempre o reconheço
Recônditos de asas
Repouso
Um pouco por toda a parte
O meu diário nem sempre é aquilo
Em que escrevo
Nem sempre escrito
Nem sempre apagado
A minha aventura nem sempre no espaço
Poemas atraem
O futuro
O seu calor nem sempre mata
Ilha
No crepúsculo
Nem sempre
A montanha
Atrás de outra
Nem sempre perdi o cavalo
Nem sempre ouvi
Uivos.

domingo, 10 de outubro de 2010

Canção do tempo perdido


Hoje acordei de manhã
E acordei bem
A última é a melhor
Se não for a que lá vem

Canto para quem não está
e não canto para ninguém
Para cantar não é preciso
Mais do que a voz que se tem

Palavras leva-as o vento
Se a memória o deixar
Que nem tudo o tempo leva
Nem tudo há-de levar

Canção do tempo perdido
Não te percas a escutar
Se não tiveres ouvido
Para as horas a passar.



domingo, 3 de outubro de 2010

Agora dava-me jeito

Agora dava-me jeito escrever um poema
Preferencialmente o poema que toda a gente
Gostaria de ter escrito
E dava-me jeito sentir um grande amor
Pela humanidade
Preferencialmente pelo desgraçado
Que perdeu tudo o que ganhou com o suor
De uma vida de trabalhos honestos
Para financiar uma guerra de mafiosos
Extorcionistas

Dava-me jeito sentir que sou um herói
Na luta contra o mal e o terror
Dava-me jeito não sentir esta dor
Que dói
Porque nada sinto

Dava-me jeito sentir o que penso
E escrever o que sinto
Mas só penso o que sinto 
E não sinto o que minto.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Poesia e os malfeitores

Onde medra a anomia
É farta a vilanagem
O que não é feito com arte
Não é bem feito
Onde há arte
Há poesia
Não há crime perfeito
E se existisse
A arte não seria
A puta
Que o parisse
Se a arte tem defeito
Ainda ninguém o disse.
 

sábado, 18 de setembro de 2010

Amor adulterino

Luz e sombra sem perfídia
Emboscadas na ternura
Disputando à bela orquídea
Humidade e temperatura

Será como tu quiseres
E não como eu imagino
Será como te atreveres
No amor adulterino

Pelo tempo e pelos lugares
Emboscados na ternura
Celebrando nos altares
De uma absolvição futura

Luz e sombra sem perfídia
Emboscadas na loucura
Devolvendo à bela orquídea
Toda a razão da doçura.

domingo, 12 de setembro de 2010

Dá-se o caso

                                                       
Pequeno almoço com janelas

Para um quadro                          
Com milhares de anos             

É assim que pensas                 
É assim que dizes                     
O momento                                 

A mulher ao lado                         
Está doente                                   
E o homem ao fundo                  
Está a escrever no guardanapo
Para o outro mundo                   

Já se faz tarde                             
E temos pela frente                    
Um dia para visitar museus     

Dormimos pouco                       
Mas estou contente                   

Tu fazes-me sentir vivo           
Num mundo de memórias      
De imensas coisas mortas     

Fazes-me sonhar                      
E não devia ficar triste…         
                                                       

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

É assim que eu fico



Em lençóis de um linho antigo
De olhos abertos na noite sem estrelas
Como um navegante de um ranger

Constante

Do apodrecer dos lenhos
E ainda o mar não envelhece

Ao contrário do que me acontece.