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terça-feira, 9 de outubro de 2012

A nascer dos pés


As temperaturas 
ao sol ardente 
brisa no sisal 
de Angola
amor 
sem roupa 
nem medo nem sinal 
das marés 
nas sandálias do pescador
de ondas 
de amplitudes
de sedimentos
a nascer 
dos pés
a propagar 
da abissal planície
uma voz 
a cantar
a solidão 
daquele lugar
que o mar 
sentisse
a pulsar. 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

À procura de um papel


Onde está aquela abóbora?
Na idade das trevas?
Na idade das luzes?

Aqueles burros nada dizem
Nem que está no tempo
Nem que está no caminho.

E vós?
Dizeis alguma coisa?
Estais no caminho certo?
Não sabeis?
Andamos perdidos?
Que é que faço?
Que é que digo?

O mendigo já não está lá
A falar aos transeuntes
Mas ainda não foi parar
Ao depósito dos defuntos
Sem abrigo.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Mal encarados


O sofrimento é das flores
Que tantas vezes preferem
Morrer
A ferir com suas raízes
Delicadas
Pedras
Vivendo o tempo breve
Que tem o sol
E ninguém mais
Para as ver.


domingo, 9 de setembro de 2012

Palácios confusos



Nunca os mesmos
cada vez que avistaram

meus olhos

de longe

na penumbra de anos
nas brumas de décadas
ali estão
e ali ficam
palácios confusos edifícios
memórias que me elevam
a uma transparência
calma
sem vícios.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

É triste recordar



Com recordar
felizes momentos
se vive
triste
que o bom acaba
e não merece mais
que o mau
que não dura sempre
como só a verdade
dói.



sábado, 11 de agosto de 2012

Conto ao meu tempo


Conto ao meu tempo
que o meu tempo sabe
e me ensina
a felicidade infeliz
que assim foi
como dizem que assim é
agora
ao depois que fora
apenas a voz do que era
ninguém ignora
lança ou expande
da terra
o que a canto destina
e a terra eleva
sem tempo
escreva.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Todo o bem que te fazem



As luzes da cidade
não me deixam ver as estrelas
são como velas
que alumiam
o caminho para o céu


A chama dos pensamentos
É uma estranha dança ao espelho
Com música e tambores 
Que nos ignoram


Se o pensamento é caótico
mais inábil do que o instinto 
a saída
do labirinto é 
(como penso)
o que sinto


Não te canses de perguntar
se as coisas têm de ser como são
se podes retribuir aos burros
todo o bem que te fazem.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Começar do zero



Não consegues regressar 
para recuperar o que perdeste 
e não querias
para fazeres o que não fizeste 
por não saberes
ou porque não podias
não consegues esvaziar a mente
da tristeza 
das derrotas 
e das vitórias 
não colheste alegrias
não foste capaz de amar
por não achares quem mereça
o sonho
sonhar sonhaste
com nada do que aconteça
a vida é sonho
paralelo à morte
tempestades
em que ninguém se salva
não consegues imaginar como será 
como seria
a felicidade de um novo dia
se o mundo nunca tivesse existido
para a alma 
começar do zero.