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terça-feira, 15 de março de 2011

Na rua do ocaso



Na rua do ocaso é proibido fazer
Marcha atrás
É obrigatório subir ao pináculo
E alcançar o horizonte
Que jaz
Em lutuoso habitáculo
Contornar a ideia de paz
Que a existir poderia ter sido ali
A muralha de melancolias aos pés
Todos os olhos para evitar tropeções
A derrocada vertiginosa do que és
Mas há uma saída
Airosa
À esquina da Travessa
Da memória engrandecida
Pela tua promessa.


terça-feira, 8 de março de 2011

Não me digas que não


Não me digas que não
Que é cedo ou tarde
Não me fales por enigmas
Embora eu não me canse

Não me digas que não
Que eu não mereço
Ou então não digas nada
E dá-me o que te peço

Podes crer que sou
O único sobrevivente

Não
Eu não sou um desertor
Das refregas de amor
Das mil e uma noites

Se nos virem abraçados
Não te lembres de morrer
E se nos virem deitados
Não te lembres de dizer

Ajudem-nos a levantar
Porque estão caídos.

Carlos Ricardo Soares

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Entrego-me à noite

 

É o que sei
Se não o melhor
É o que faço
Entrego
À noite
O meu pedaço
De escuro
Afogo no seu regaço
A estrada
Sem regresso
A lado nenhum
Murmuro
E adormeço.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pinta-me



Em busca da máscara perdida
Estás nua
Entre os animais
As palavras que te vestem
São transparentes
De mais
Os teus cabelos
São como ministros
De um governo fantoche
A impedir o sol
De tocar
Na sua responsabilidade
Como um idiota
Poderia conspurcar
A tua beleza
Perguntando
A idade.



sábado, 19 de fevereiro de 2011

Teus olhos



Teus olhos
Teu lume franco

Ateia o meu desejo 
De te ver

Em ti alcanço
Sonhos
De prazer
Que ninguém conhece
De me enrubescer
Se alguém soubesse.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O amor não envelhece




Hoje sabemos que nada passa
(sabemos um mistério)
A vida
Não passa
O tempo
Não passa
De um reflexo
(É incrível)
Nem o sol
Passa
A linha do horizonte

Nem tudo regressa
À beira do rio
Onde nós
Sentados
Éramos felizes
E a nossa imagem
Não era levada
Para o mar

Ainda hoje é assim

Ao passar
À tua porta.




domingo, 13 de fevereiro de 2011

Estou cercado de beleza

A cidade os campos o rio
E as colinas
Por todo o lado
Estou cercado
De beleza
E me rendo sem defesa
Às distâncias
Que berram
Do mundo
Acorda o vento
De sono profundo
As aves
Aterram
Na névoa
Dos meus olhos
Vagabundos
Erram
Não sabem
A esperança
Do poeta
Da escuridão completa
Imagina o sol
A morrer
Mas ainda vivo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Deus


Nenhum mar me pertence
Da água saciedades
Nada mais recolho
Do pavimento
Da rua
Às praias
Dos olhos
Nenhuma estrela
Circum-navega
A cidade
Flutuante memória
Tocada pelos ventos
Esta calma
Tem a largura da claridade
Que eu sequer soube
Pedir
A Deus
Verdade seja
A árvore
Não me pertence
O não pertencer também é
Verdade
Que cresce e o ar agita
Pelo menos um pouco
Do que parece
É
Um pouco do que desejamos
Que fosse
Acontece.