sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Palácios confusos
Nunca os mesmos
cada vez que avistaram
meus olhos
de longe
na penumbra de anos
nas brumas de décadas
ali estão
e ali ficam
palácios confusos edifícios
memórias que me elevam
a uma transparência
calma
sem vícios.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
É por seres como és
É por seres como és
que te sinto
a imensidão
do deserto
e o instinto
nunca estive tão perto
de um labirinto
aberto
tão certo
que acredito
nos teus olhos
de um escuro infinito.
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Debruçada sobre o muro
Debruçada sobre o muro
Como uma multidão sobre a ponte
Mas sem ninguém ao pé
Com as ervas ouvindo
A tua respiração
Como se fosse um vento
Soprado da tua tempestade interior
Quarenta anos se debruçam
A chorar
Enquanto o sol canta nas asas
Da primavera à tua volta
Porque tu não queres ter a força
De enfrentar a lágrima
Com medo de que a tua vitória
Seja sobre ti mesma
O que de certo modo já acontece
Quando choras
Só para ti
Debruçada sobre a construção
Que te ampara
Entre dois lados
De um único mundo
Que o sol não conhece outro.
sexta-feira, 18 de julho de 2014
Ninguém sabe morrer
Os velhos e
velhinhas
a gente sem abrigo
que pede
pelas alminhas
vive
como castigo
e
dos colos carregados
das lantejoulas
dos cenhos carregados
das angústias
dos peões
da soberba pachorra
de esperar
remédio
da virtude paciência
e
há sempre
muito ruído
muito brilho
muita cor
ladrões
à paisana
e polícias
nas esquinas
prostituição
a disputar a
sensualidade
que há em tudo
e
a despesa de viver
o pecado
fechar os olhos
para ignorar
a bomba
que vai explodir
e
tanto filho da mãe
que anda a fugir
sem descanso
que não suporta a luz
nem a própria sombra
tanta faca
escondida
deve haver
além de mulheres
algures
ilícitas de tão
carnais
amores imperfeitos
de tão legais
e
o livro da história
que não cessa
nem há tempo para ler
até numa
biblioteca
ninguém sabe morrer.
ninguém sabe morrer.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Há coisas que queremos dizer
Há coisas que tu
queres dizer
E não sabes como
Que eu quero
Mas não sou capaz
Que não dizemos
E tanto dói calar
Quanto o desejo
De falar.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Frustrações de um sonhador
Com sol na vidraça
Da aurora baça
A horas tardias da tarde
E da noite
Escrevo palavras e frases
Que aspiram a ser
Textos
Por mais que os torça
De pequeninos
Como os pepinos
Não passam disso
Frustrações de um sonhador
Que envelhece
A ver
O que acontece.
terça-feira, 1 de julho de 2014
Uma voz que se ergue
Uma voz que se ergue
Na noite cerrada
Mais doce e mais leve
Que um grama de nada
E tão bem a ouço
À voz amada
Tão bem encanta
A madrugada
Tão bem se estende
Para o dia
Mais sede e mais fome
Que a alegria
Chama
Sabe o meu nome
Arde
E não está queimada
Mais cedo e mais tarde
Que o tempo
Cresce
E não foi plantada.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Venenasas
Esta certeza é efémera como todos os brilhos
Como as chamas arrefecem nas órbitas
De monstros venenasas
Ruínas de castelos que já foram no ar
Sobranceiros a campos
Onde são matagais
Cemitérios onde adros já foram festivos
Esta tristeza desmemoriada do que foi alegria
Ao compasso de todas as músicas
De todas as marchas não reeditadas
E dos silêncios sobrevindos
De todos os sinos
De todos os tempos
Tratados de filosofia
À espera
De um cérebro que os pense
Até à próxima explosão do Universo
Que não precisa da ciência
Nem de contexto histórico
Como a minha morte
Para acontecer
Sou fútil e distraído
Como as estrelas brilham
Como um ébrio enquanto não adormece
Trato de banalidades
Porque já é aquilo que há-de vir a ser
Eu já nasci morto.
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