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sexta-feira, 23 de março de 2012

O nojo



Encontrei um tipo a vomitar 
a própria sombra, 
no candeeiro da esquina 
da avenida do Ar com a rua do Mar, 
em frente à taberna jaguar
pensei
o que fazer quando as palavras enojam e tudo à volta delas?  
A maior mer.. é a mer.. impingida como se fosse outra coisa ou, 
pior ainda, 
como se não fosse mer.., ou, 
ainda mais, como se fosse coisa boa. 
Se estas palavras enojam, não há remédio. 
O remédio “não leias” é um veneno. 
Um bom remédio não é possível. 
Enquanto as palavras não te enojarem de morte, 
serás um grande ignorante. 
À medida que te fores enojando, 
serás um ignorante cada vez mais pequeno, 
até não seres nada 
reflecte 
lê 
fala. Escreve. 
Vale a pena. 
A pena.
Agora, 
entra o retórico em palco
e até o oxigénio imprescindível para respirar se torna asfixiante. 
Estado de coma. 
O oxigénio do retórico é o coma dos outros. 
Cuidado com a retórica. 
Perigo de morte. Afasta-te.
Cague com classe!
Que arte?!  C… com classe. 
Borrar com classe. 
Classe. Escrever…mer... 
Escrever com…mer... 
A mer.. é o menos, é o nada (que existe). 
Escrever é que é.

terça-feira, 13 de março de 2012

A estas horas



São onze horas
mas isto nada me diz
se fosse madrugada
talvez eu estivesse acordado
como uma estrela
a vigiar o sono do mundo
para que ninguém morra
de improviso
ou de solidão
mas a estas horas
o meu cão
dorme ao sol .


sábado, 10 de março de 2012

Ouvir a chuva

No meio daquele barulho todo
daquela gritaria
da multidão descontente
o poeta ou---via
a chuva a fustigar os rostos
e os peidos de sua excelência
zarpando
num bólide
que não era seu
e chamou a poli---cia
mas só a poesia
compareceu.

domingo, 4 de março de 2012

Nada se assemelha



O céu e a terra
se o meu pensamento
os fosse
mas não é
nem se assemelham em nada
como nada se assemelha
às casas
entre o horizonte e as memórias
que não dão poiso.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Roda


Hoje foi um dia para esquecer
que nunca poderei esquecer
que começou bem
a contar dinheiro 

como habitualmente
no décimo andar 

do banco
assistindo 

ao nascer tímido 
do sol
ouvindo os sinos 
da catedral
entoando uma oração 
graças a Deus 
mais um dia
que não acabou mal
a escrever neste portal
o dia da morte do herói
desconhecido.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O que eu penso



O que eu penso
não me importa muito
de qualquer modo
sou louco

louco por pensar
que o sou
não é pouco

mas não basta
pensar

como é frágil o barco
em que não vou

como é duro escrever
com remos.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sem margem para erro



Voltei à margem
e nem sabia que havia margens
mas voltei à margem
depois de adormecer numa véspera
de inverno
embalado pela valsa de uma mentira
que dançava num ermo
com o diabo
ou era a noite a arrastar
o dia
para o inferno
a perguntar
porque te perdi
e não esqueci
se nunca se encontra
o que se quer.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sem filosofia



E como eu e como tu
dizia ela
há pessoas que se dizem
mortas
e há pessoas que dizemos
vivas
sem coração
janelas absortas
de casas voadoras
de altivas portas
nos tempos
e contratempos
da imaginação
como eu e como tu dizia
sem filosofia.