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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Povoado de sombras

Está sol
E
Num grande largo povoado
De sombras
Um pregador sob uma árvore
Adverte em nome do bem
Como um sol que faz
Desaparecer sombras
No canto de lá
Um propagandista reclama
Liberdade
Como um sol que faz
Sombras.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Adega TóNel


No ponto mais setentrional das névoas perpétuas
No informe aglomerado de construções à chuva
Uma placa diz cidade e começam as galerias
De uma tarde na adega tonel
Que vai desembocar nesta folha de papel
E deparar sem saída com a porca
Das sete mamas de um cardápio virtual
Suspenso dos chifres de um bicho
De sete cabeças em espiral
Drapejando ruidosamente.

sábado, 5 de abril de 2014

E-lá-se-foi

Um pássaro lindo
Voou ao contrário
Sugado por uma lembrança
De caminho andado
Mão dada
Numa eterna dança
Entre invernos sem ilusões
Um gato à chuva
Lá se foi 
Platão
Eva
E Adão
Num jardim 
Que não conheceis
De rosas em vasos imaginados 
Mas que estão mortas
Há muito
No chão
Para onde cospe
O vilão
E dejecta
O fanfarrão.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Não vá a cerveja acabar


Se não precisas do sentido das proporções
Para fruir
Para fazer arte precisas de algo mais
Do que cuspir
Cores e pensamentos 
Ou notas musicais
Música pintura ideias e poemas
São algo mais
Que uma desordem
Ou uma ordem que te é imposta
Mesmo se forem o caos 
Que não te obedece
Amálgamas são atrocidades
Cometidas contra a fragilidade
Do que arrebita
Sobre a estrumeira informe
Anunciando ao optimismo
A esperança
Enquanto o pessimismo
Dorme
Se souberes cantar
Canta
Não vá o mundo acabar.

domingo, 30 de março de 2014

Encontrei-te


Encontrei-te na multidão de mulheres que se despiam
Onde respirar a atmosfera dos seus seios
Vozes que lembrei mais tarde
Te pertenciam
Rostos que te dei
Desencantei-os
Partidas que nos deixam
Sem rodeios
A meio da discussão
Com o vento.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Lema


Todo o poema 
Não devia ser escrito de outra forma
Nenhum poema devia ser escrito
De forma diferente
E quem diz poema
Diz tudo o que é literatura
Nenhum poema está errado
Nenhum poema está certo
Certo ou errado
Não é coisa de poema
Nem de literatura
Nenhum poema está bem
Ou mal escrito
O poema é o que é
E não o que não é
Se alguém quiser escrever diferente
Pode
Mas isso é outra coisa
Se alguém comparar poemas
Pode 
Mas para que serve comparar
Coisas diferentes
O valor de um texto literário
Não é tudo
Uma vez li um poema criativo
Mas não tinha mais nada
Outra vez
Li uma história originalíssima
Mas não tinha mais nada
Muitas vezes
Li textos cheios de erudição
E nenhuma literatura
Poemas com as filosofias 
Todas excepto a minha
Mas não eram poesia…

sexta-feira, 21 de março de 2014

Nós hoje

Órfãos de alguma espécie de apostolado
Estamos cercados
De falas

Como é difícil ao espectro
ficar calado!
Como é difícil ao espectro
Dizeres que o calas!

Como é difícil ao dinheiro
Não o gastar
A um poluente
Não o usar
Não ter uma sombra
E monologar
A campo aberto
Merdar!

Como é difícil estar certo
Não querer
Moeda falsa
Para poder
Ofertar!

Trabalhar cansa
E não acaba

Se a vida não se vence
Para quê lutar?

Dai-me a luxúria
Sem corpo
Da ideia
Vazia
Ou o eco
Dos limites.

Carlos Ricardo Soares

quinta-feira, 20 de março de 2014

Tentações


Antes de escurecer

Desceste 
Do trono
Para ver-te solta
E sentires-te confiada 
Aos meus olhos
Ébrios da tua graça 
Dos goles 
Da tua taça 
Enquanto davas 
Passos desnorteantes
Para seres entronizada
Num reinado
De tentações.