quinta-feira, 25 de maio de 2023
sábado, 13 de maio de 2023
Problemas de cariz político, económico e social
Não reconheço qualquer vantagem no tipo de discurso alarmista, vago, pistoleiro, a disparar para todos os lados, pessimista, sem esperança, de impotência e catastrofista, apesar de se acomodar e de se prevenir com as cautelas e caldos de galinha do bom senso pedagógico e pacificador, que é sempre recomendável e, se bem não faz, mal também não.
A maior parte dos problemas de cariz político, económico e social, não são problemas para toda a gente e esse começa logo por ser talvez o maior problema, porque dificulta imenso, quer a abordagem e o reconhecimento dos problemas, quer as tentativas de os resolver. Do ponto de vista de um comentador, de um filósofo, de um sociólogo, o reconhecimento desses problemas como problemas objetivos, pouco ou nada adianta se ficar por generalidades, ou ideias ainda mais gerais sobre essas generalidades.
As coisas funcionam do modo como funcionam, porque as condições para isso estão criadas. Enquanto essas condições se mantiverem continuarão a funcionar. E não é por não gostarmos, ou não estarmos de acordo com essas realidades que elas passarão a ser outras, embora os descontentamentos, as manifestações, as oposições, as revoltas, as lutas, sejam germe e efeito de mudanças, que poderão ser de ruptura.
Normalmente as sociedades realizam algum equilíbrio entre "predadores" e "presas", como acontece na selva desintervencionada pelo homem.
A maior parte dos problemas de cariz político, económico e social, não são problemas para toda a gente e esse começa logo por ser talvez o maior problema, porque dificulta imenso, quer a abordagem e o reconhecimento dos problemas, quer as tentativas de os resolver. Do ponto de vista de um comentador, de um filósofo, de um sociólogo, o reconhecimento desses problemas como problemas objetivos, pouco ou nada adianta se ficar por generalidades, ou ideias ainda mais gerais sobre essas generalidades.
As coisas funcionam do modo como funcionam, porque as condições para isso estão criadas. Enquanto essas condições se mantiverem continuarão a funcionar. E não é por não gostarmos, ou não estarmos de acordo com essas realidades que elas passarão a ser outras, embora os descontentamentos, as manifestações, as oposições, as revoltas, as lutas, sejam germe e efeito de mudanças, que poderão ser de ruptura.
Normalmente as sociedades realizam algum equilíbrio entre "predadores" e "presas", como acontece na selva desintervencionada pelo homem.
A nossa cultura é um desenvolvimento e aprofundamento desta relação "comercial" relativamente a mercadorias, sendo que o outro também entra nesta categoria de valores mercantis. Tudo estaria bem, em meu entender, como na selva, se todos pudessem ser predadores, tirar proveito, vigarizar, extorquir, ganhar, como o fazem as empresas que, nitidamente, nos sacam o dinheiro através dos mais sofisticados esquemas. Eu concordaria com esta alta e refinada cultura, em que as maiores inteligências investem desde sempre, se estivesse em situação ou posição de lhes fazer o mesmo. Isso seria a selva e seria bom. Mas estamos nos antípodas da selva e do mérito.
O problema não é a sociedade baseada no mérito, é a sociedade não ter interesse no mérito, porque só interessa o resultado. Para se alcançar este também é preciso mérito, mas é um tipo de mérito de que ninguém tem coragem de se vangloriar, apesar de quase todos nós invejarem quem o tem: não é fazer batota, é fazer batota por algo que valha a pena sem ser apanhado. Existe uma ética clara em toda esta situação, só que imensa gente é doutrinada e educada para aqueles méritos que, na realidade, não lhes interessam, embora sejam preciosos para sustentarem o mérito dos que atingem os resultados.
Posso ter o mérito de me preocupar com as questões éticas, de justiça social, de democracia, igualdade, mas não tenho o mérito de ser banqueiro que arrecada vantagens das suas habilidades, e muito trabalho, de estar em situação de deixar as questões éticas para o poder político e judicial, porque a ele talvez importe apenas gerir a realidade como ela se lhe apresenta: o dinheiro permite obter (não confundir com fazer) mais coisas do que qualquer outra coisa.
Talvez um dia o dinheiro acabe e acabe a economia baseada no dinheiro.
Admito que muitas das distorções da sociedade desapareceriam como por magia.
sábado, 6 de maio de 2023
Para sermos felizes
O pouco de que precisamos para sermos felizes depende de tanto e de tantas coisas, que preferíamos não ter de fazer, ou de enfrentar, que a felicidade acaba por ter, muitas vezes, um sabor amargo, como se fosse um presente envenenado.
Se é por isso que muitos de nós são lutadores, valentes ou valentões, mas neuróticos, essa espécie de heroísmo de si mesmos, à espera de uma taça que não existe, nem sequer alguma vez foi prometida, é um descalabro.
Quem tem coragem para reconhecer no espelho um idiota vítima da sua boa fé, ou da sua presunção de que os sonhos existem para serem realizados?
quinta-feira, 27 de abril de 2023
O que resta
Se estas ruínas
aliás belas
aliás monumentais
são o que resta
daquilo por que viveste
e por que tanto lutaste
com seriedade
que ao menos pudesses
ter tido a antevisão inefável
do que agora aos nossos olhos
é um desfecho desolador
de tantas vidas escarnecidas
hipotecadas à transcendência
daquele castelo mutilado
outrora altivo
e daquela igreja irreconhecível
outrora preservada
sem que ao menos
soubéssemos um pouco
da história de uma delas
podia ser até da mais humilde
das contingências de uma vida
vivida nestes penhascos
tão acabrunhados
podia ser até da última pessoa
a fechar os olhos à história
a toda a grandeza
de que não se ouve
sequer em memória
uma voz
sequer ilusória
a sair destas ruínas colossais
por onde agora só
alguma sombra de nuvem passa
e não deixa rasto.
sábado, 22 de abril de 2023
Não eram ilusões
Não eram ilusões
eram sonhos
necessidades bem reais
dores e angústias
frustrações de ideais
batalhas cruéis
fantasias
que podiam ser fatais
paixões que cortavam
visões carnais
que importavam tanto
por serem apostas totais
sem suspeitas de que aí
a sabedoria
não era mais.
sábado, 8 de abril de 2023
A poesia
No fim só
vi farrapos e não bandeiras
orações que agitei
a todos os deuses garantes
da minha ingenuidade
de os ter pela arreata
dos meus caprichos
foi isso que em sonhos
antegozava infantilmente
que mais dizer
daquilo que me fez sentir
a falta
do que menos tive
quanto mais desejei?
E como compreender
que gosto de ter sido o autor
desse mundo impossuído?
E como saber
(se o não sei)
porque fui banido
por tudo aquilo em que acreditei?
No fim
a poesia
é o único tecido
a adejar
minha companheira
de que faço bandeira
por o ter sido.
terça-feira, 28 de março de 2023
Amor amar e ser amado
No amor não é louco quem quer
mas quem a loucura arrasta
para um negócio em que o perder
não faz sentido nem afasta
da obsessão do prazer
que é suposto amor
ter
e nem por sombras
por amor se pensa
que entre amar
e ser
amado
existe alguma diferença
mas não ama quem quer
que amar requer
ainda mais do que ser
amado
e não é só pelo prazer
desejado
mas pela permissão
do que não nos é dado.
sábado, 18 de março de 2023
Que ecos ouviremos
I
Nem por sombras devemos
pisar
presenças indefesas
que não vemos
nem com toda a suavidade
tocar a textura
de felgas que tombam
ao menor sopro
II
não devemos morder
nenhum enigma amistoso
nem com toda a delicadeza
ralhar
às artes impossíveis
nem com a polidez surda
de tanta mágoa
cegos de tanto carpir
sobre muros de água
III
não devemos afluir
ansiosos
pela tangência das pegadas
para não pisarmos a cauda impalpável
de eternidades
adiadas
IV
não devemos macular
nem com um dedo fantasma
uma casta amorosa
sem temermos não ser entendidos
na enologia dos bagos
do afeto
das castas espontâneas
sem sermos reconhecidos
à entrada dos recintos
dos pontos cardeais
e despojados da santologia
do ouro e dos cristais
dos estandartes
de castas virtudes
de poentes de gala
a alvoradas de castiçais
V
não devemos cantar
de galo
nem conspurcar nada
nem a ferruginosa fadiga
dos que aguardam nos degraus
das alfândegas da fé
até se tornarem suspeitos
de estarem perdidos
VI
não devemos rogar
para sermos levados
para lugares ainda mais desconhecidos
que os não encontrados
VII
não devemos confiar
que tudo seja como assisadamente
sentimos o mosto
de gentilezas irrecuperáveis
da musa amiga minha
nem perguntar aos claustros
que encontraremos no caminho
das nossas tristezas
que graças libertinas
serão os nossos pulmões
e as nossas tibiezas
no silêncio das visões
da vida interior
que ecos ouviremos
ao pensar no amor.
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