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sábado, 5 de abril de 2014

E-lá-se-foi

Um pássaro lindo
Voou ao contrário
Sugado por uma lembrança
De caminho andado
Mão dada
Numa eterna dança
Entre invernos sem ilusões
Um gato à chuva
Lá se foi 
Platão
Eva
E Adão
Num jardim 
Que não conheceis
De rosas em vasos imaginados 
Mas que estão mortas
Há muito
No chão
Para onde cospe
O vilão
E dejecta
O fanfarrão.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Não vá a cerveja acabar


Se não precisas do sentido das proporções
Para fruir
Para fazer arte precisas de algo mais
Do que cuspir
Cores e pensamentos 
Ou notas musicais
Música pintura ideias e poemas
São algo mais
Que uma desordem
Ou uma ordem que te é imposta
Mesmo se forem o caos 
Que não te obedece
Amálgamas são atrocidades
Cometidas contra a fragilidade
Do que arrebita
Sobre a estrumeira informe
Anunciando ao optimismo
A esperança
Enquanto o pessimismo
Dorme
Se souberes cantar
Canta
Não vá o mundo acabar.

domingo, 30 de março de 2014

Encontrei-te


Encontrei-te na multidão de mulheres que se despiam
Onde respirar a atmosfera dos seus seios
Vozes que lembrei mais tarde
Te pertenciam
Rostos que te dei
Desencantei-os
Partidas que nos deixam
Sem rodeios
A meio da discussão
Com o vento.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Lema


Todo o poema 
Não devia ser escrito de outra forma
Nenhum poema devia ser escrito
De forma diferente
E quem diz poema
Diz tudo o que é literatura
Nenhum poema está errado
Nenhum poema está certo
Certo ou errado
Não é coisa de poema
Nem de literatura
Nenhum poema está bem
Ou mal escrito
O poema é o que é
E não o que não é
Se alguém quiser escrever diferente
Pode
Mas isso é outra coisa
Se alguém comparar poemas
Pode 
Mas para que serve comparar
Coisas diferentes
O valor de um texto literário
Não é tudo
Uma vez li um poema criativo
Mas não tinha mais nada
Outra vez
Li uma história originalíssima
Mas não tinha mais nada
Muitas vezes
Li textos cheios de erudição
E nenhuma literatura
Poemas com as filosofias 
Todas excepto a minha
Mas não eram poesia…

sexta-feira, 21 de março de 2014

Nós hoje

Órfãos de alguma espécie de apostolado
Estamos cercados
De falas

Como é difícil ao espectro
ficar calado!
Como é difícil ao espectro
Dizeres que o calas!

Como é difícil ao dinheiro
Não o gastar
A um poluente
Não o usar
Não ter uma sombra
E monologar
A campo aberto
Merdar!

Como é difícil estar certo
Não querer
Moeda falsa
Para poder
Ofertar!

Trabalhar cansa
E não acaba

Se a vida não se vence
Para quê lutar?

Dai-me a luxúria
Sem corpo
Da ideia
Vazia
Ou o eco
Dos limites.

Carlos Ricardo Soares

quinta-feira, 20 de março de 2014

Tentações


Antes de escurecer

Desceste 
Do trono
Para ver-te solta
E sentires-te confiada 
Aos meus olhos
Ébrios da tua graça 
Dos goles 
Da tua taça 
Enquanto davas 
Passos desnorteantes
Para seres entronizada
Num reinado
De tentações.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Todos os sinais


O silêncio não tem hora
Mas tem becos
Onde mora 
Ninguém 
Casas com tectos
Sem portas 
A horas mortas
Nem tectos tem.



domingo, 16 de março de 2014

Implicações


Não te sintas à beira do abismo 
Se te oferecer dinheiro
Como 

Se te oferecesse beijos
Não te zangues 

Se te convidar 
Na paisagem esquecida e bravia 

Da tua alma
A tornares-te desesperadamente
Consciente 

Da tua nudez
Dando-me beijos
Como 

Se me oferecesses dinheiro.