quinta-feira, 13 de março de 2014
Ao amor desconhecido
Se tivesses uma morada ou telefone
Que eu soubesse
Um telemóvel ou e-mail que
Provavelmente tens
É improvável que escrevesse esta carta sem endereço
Nem sequer a escreveria
Faço-o porque não te conheço
E sou fiel
Ao sonho e mais profundo desejo
Sem trair o anjo do meu cortejo
E sem temer
Vir-me a arrepender
Pelo menos enquanto não te encontrar
Se tivesse dúvidas sobre o ridículo das cartas de amor
Elas cessariam com esta
Não por ser simples carta de amor
Mas por ser ao amor desconhecido
Que confiança pode merecer-te alguém que viveu
Oitenta anos sem te ter tido
Ou que o afirma
Mais indigno de ti
Quem diz que amou sem te conhecer
Ou quem não amou à espera que isso acontecesse
Mas tu não vieste?
quarta-feira, 12 de março de 2014
É de mim
Falo daquelas ruínas
e é de mim
do que os nossos olhos não viram
daquelas matérias-primas
a propósito da construção
do mundo
do que restou
dos perigos
que é muito
que é imenso
mas não basta
quando falo dessas coisas
de factos e mais
de ausências cruciais
inexistências
como se falasse de aparências
sem alegria
como se a poesia fosse o que falta
à fantasia
como se a fantasia fosse um estaleiro
de sucata
que avistamos da janela
da prisão perpétua.
sábado, 8 de março de 2014
O sonho é vago mas a luz é forte
O sonho é vago
Mas a luz é forte
No mar de faúlhas
Lágrimas de sol poente
A vida passa
No horizonte de asas
Efémeras e tranquilas
De uma gaivota branca
Respira coração respira
Como se existisses desde sempre
Na alma do mundo
E nunca te esquecesses
E avista para lá das nuvens
O azul do céu mais matinal
Porque eu sei que um sonho
É feito de muita ternura natural
É quando te digo meu amor
E me enriqueço tanto por te ter
É quando desejo que o fragor das ondas
Seja um hino todo nosso até morrer.
quarta-feira, 5 de março de 2014
Horizontes
A noite tem horizontes
De olhos doces
Como o vapor da sopa
No inverno
Luzes astrais
No tecto falso
Alcance ultramoderno
Dentro de muros
Medievais
Quem mandou construir o castelo
Não chegou a vê-lo
Dentro da noite
A escadaria
Termina
Num oratório
As sombras indecisas
Sem interior
Como azulejos
Ao gosto
Da época
Revestem
As paredes
Que restam.
Carlos Ricardo Soares
domingo, 2 de março de 2014
As línguas do amor
Por favor
Fala-me todas as línguas
Do amor
Que há-de haver alguma
Que eu compreenda
Se me falares só uma
Talvez a não entenda
Se houver uma escola
De línguas do amor
Ou de amor
Ou ao menos de uma das línguas
Do amor
Eu quero aprender
O amor fala todas as línguas
Que nós desconhecemos.
Carlos Ricardo Soares
sábado, 1 de março de 2014
Não deixes
Não deixes que a palavra te corrompa
Como uma moeda falsa que depões
Na mão do diabo disfarçado de mendigo
Não deixes que a palavra se alimente da tua alma
Como um salmo se hospeda num sepulcro
E te enlouqueça e te leve o corpo
Não deixes que te o tire te o esqueça
E te converta em espectro caiado
Sem sede nem fome
Sem nascente nem ocaso
Sem nome.
Carlos Ricardo Soares
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Sinto-me triste
Estou triste
Sinto-me triste
Nas conclusões que tiro
Até das coisas mais lindas
Que tem a vida
Sinto-me triste
Por não sentir alegria
Só de pensar
Que as histórias
Não têm final feliz.
O meu amor por ti
O meu amor por ti
Não é de perguntas
E de respostas
Não é estado
Nem condição
Triunfo
De coisa nenhuma
Canção
Por ti
Meu amor
Incrível flor
Sem terra
Que se abre
Débil
Esperança no deserto
Mais que o eco
Sobrevive
A certezas
Costumadas
Às palavras
Ao vento
À canção
Que mais ninguém ouve.
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