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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Conquistador

Recostei-me para pensar
Que os mansos dominarão a terra
E acabei deitado a falar sobre a morte
Para um gravador das câmaras
De vigilância da minha própria solidão
Dúvidas há quanto ao ressonar
Que se confunde com o desumidificador
Mas não quanto ao sonhar 
Como um montanhista que tivesse caído
Pela garganta de um desfiladeiro
Ouvindo o desespero do próprio eco
E chorasse um choro verdadeiro
O momento em que falece
O conquistador
O momento da verdade 
A derrocada estrondosa
De quantos quiseram impor
A sua vontade.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Beijos que te quero dar


Os teus olhos são o riacho emboscado

Onde hortelãs selvagens proliferam
O Verão feliz que não voltei a ter
Os reflexos que me deram
A imagem do que quero ser

Esta cidade não é
O chão luxurioso
De açafrões e margaridas
À espera do vento
Para se polinizarem
Mas a noite é
Desse tempo
De luar e água
Se casarem

Sofri
Mas valeu a pena
Pelos desejos imensos
Que aprendi
A não saciar
Pelos beijos
Que te quero dar.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Mundo em ruínas


Perdoem-me se rio
Enquanto caminho 
No mundo 
Em ruínas
De mãos dadas com uma mulher 
Que resplandece
Perdoem-nos esta vontade 
De viver
Galgando 
Sonhos 
Desfeitos 
Até aos cumes do que acontece.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

As coisas não têm de ser como são



A primeira vez que pus música
Onde só havia silêncio
Foi como a primeira vez que
Numa rua sem vivalma
Pus personagens a circular
Para me convencer
De que as coisas não têm de ser
Como são

Onde havia uma casa fechada
Abri uma confeitaria
E onde havia nada
A entrada
À poesia
A uma mulher que ia
À sua vida
Com duas tempestades
E a mesma escuridão
Nos olhos
Vi relâmpagos divinos
Na noite
De amor
Num deserto
Que nos escutava.


domingo, 22 de dezembro de 2013

Este Natal



Este Natal está ainda mais cheio
de memórias
mais vazio de riquezas
perdidas
mas o meu coração
está onde está
o meu tesouro
não as minhas certezas
este Natal está ainda mais cheio
de incertezas
e isso dá-me esperança
num mundo em que as pessoas
parecem senhores
de uma verdade
triste.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Vocês já viram

A rua sem cidade
o caminho do princípio
ao fim do mundo
a concavidade
dos pensares
das florestas
do deserto
dos sentires
a sinuosa linha
do seres
entre o longe e o perto
saberes
as aves à espera
de um dia ainda
mais longo
que a noite
quantos morreram
sem que nada mudasse
o registo de tudo
na face da terra
que é a nossa face.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Não mates o poeta


Como o douro sente
As margens alagadas
Do céu
Não impeças a terra
De se exaltar
Na luz
Amparado
Por sabermos
Que não seremos os melhores
Dos que passaram
Não mates o poeta
Que resta

E não encontraram.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Vejam como o tempo passa



De alguma janela
Se avista
Algum lugar perdido
Para sempre
O olhar
Se escusa
Ferido
Com o tempo
Se fecha
O tempo
Quanto mais não seja
Passa
Não passa?
Não o vejo!