quarta-feira, 21 de junho de 2023
domingo, 18 de junho de 2023
O processo de pensamento é um processo criativo
Já o processo de pensamento como um processo interno e num espaço interior que não é partilhado, senão por algum tipo de compreensão convivencial tecida por comunicação de emoções, e outros tipos de comunicação, nomeadamente linguística, que nos faz acreditar, ou desacreditar, em algum nível de partilha daquilo que pensamos num determinado momento (que pode ser meramente o efeito que pretendemos na comunicação, ainda que não corresponda, ou seja até contrário, ao que honestamente pensamos) ou, em que nos colocamos como observadores da própria convivencialidade social e tentamos entender e compreender os processos e os fenómenos aí envolvidos, porque nos surpreendemos a nós próprios como marionetas cujos cordelinhos nos escapam ao controlo, incluindo quando pensamos e escrevemos e ordenamos, definimos ou redefinimos as ideias e os pensamentos, nestes casos, o processo de pensamento nutre-se de uma necessidade de satisfação que se vai potenciando a si mesma se os mecanismos de compensações do próprio indivíduo forem funcionando.
Compreender e entender, por si sós, podem não ser suficientemente apelativos ou aliciantes, para indivíduos em determinados contextos de “ignorância”.
Se extrapolarmos para as aprendizagens, para a Escola, teremos aqui muito material para argumentar a favor de uma educação para as aprendizagens, uma educação compreensiva dos processos físicos, psicológicos, individuais, sociais, linguísticos, da comunicação e das motivações, sem reducionismos "visgarolhos", sem prejuízo, aliás, de estes serem, eles também, processos de pensamento zarolho, que "vesgam"(visam), compreender e entender.
terça-feira, 13 de junho de 2023
Ciência e Filosofia
É importante, mas sobretudo mentalmente excitante,
perceber,
através do pensamento dedutivo,
tão característico do pensamento filosófico,
que a ciência não se funda em deduções, mas em observações e constatações impossíveis de deduzir.
sexta-feira, 9 de junho de 2023
Entre ensinar e aprender
O que acontece entre ensinar e aprender é um problema de todo o tamanho. Mas ainda bem que acontece. Não creio que esse problema possa ocorrer, por exemplo, na IA.
Esse é um problema que se vai resolvendo, mas nem o conhecemos bem, nem temos à mão a solução. O que sabemos fazer é baseado na experiência, na observação e na tradição.
O facto de querermos colocar o foco todo num problema que, paradoxal e ironicamente, estamos longe de conhecer, é uma excelente desculpa para não pensarmos que eficiência pela eficiência não faz sentido. A eficiência, pelo menos na educação, só faz o sentido que cada um lhe quiser encontrar. É quando começamos a falar de educação a todo o custo, de disciplina e adestramento humano em função de valores mais altos, que começamos a esvaziar de sentido a educação e os valores.
O enigma do que devemos fazer não se resolve com uma resposta sobre aquilo que podemos fazer. Em tempos recuados, a humanidade logrou resolver esse enigma de um modo incrivelmente sofisticado, que foi o modo de acabar com as perguntas, dando uma resposta em vez de formular outra pergunta e proibindo o questionamento.
Se não questionássemos a realidade, e tantas vezes, de vários modos, e tanto tempo, o fazemos, a simplicidade das respostas e dos veredictos seria de tal modo confortante e divertida, que aceitaríamos como um dado, por exemplo, que há humanos estúpidos e humanos inteligentes, assim como damos quase como certo que somos mais inteligentes do que as outras espécies.
Se não questionássemos a realidade, seríamos estúpidos, sem sabermos que os humanos até podem ser inteligentes.
A inteligência só falta quando interrogamos, quando perguntamos, quando duvidamos. É pois natural que o não façamos, porque assim nos sentimos totalmente esclarecidos e satisfeitos. É talvez daquelas evidências de que os humanos estão mais desprovidos mas não menos convencidos, porque ela é como um foco e uma linguagem, na justa medida do que vê, do que diz e do que induz. Não chamemos a isso cegueira. De resto, dizer a um cego que é cego não o faz ver. É fundamental que aprendamos a respeitar o cego e o surdo e o mudo, porque ver não corresponde a ter visão.
É preciso e imprescindível fazer um percurso de aprendizagem daquilo que já se sabe há muito. Não basta, relativamente a um assunto, fornecer as conclusões, ou as sínteses, do mesmo modo que, para quem não sabe escrever, não basta mostrar as palavras escritas para ela ser capaz de escrever. No conhecimento, na aprendizagem, a apropriação das trivialidades é tão fundamental como se cada aprendizagem fosse uma invenção, de novo.
Vulgarmente, quando alguém se entusiasma, por exemplo, com ideias consabidas, como se as tivesse criado, ou porque as criou, embora elas já o tenham sido por outros, logo aparecem críticos enfastiados a desmerecer novos Sócrates e Platões, como se isso já não tivesse valor. Como se o facto de alguém pensar o que outros (até filósofos importantes) já pensaram, fosse menos importante por isso.
A educação como um produto que se pode comprar é algo que se integra na tendência actual dos poderes do dinheiro, à semelhança do que acontecia com certas bulas papais. A ideia e a percepção de que o dinheiro pode comprar a virtude (em sentido amplo) andam muito próximas da ilusão de que a droga transforma um farrapo num deus.
Há uma ilusão, tavez compreensível se considerarmos o processo de pensamento, de aspiração e de adaptação dos humanos, de que podemos saber sem aprender, valorizando até alguma espécie de saber, supostamente, inato, que anda próximo do conceito de talento natural. Se há algo com que os humanos sonham, e almejam alcançar sem esforço, é prodígios. São muito facilitadores e estão em linha com a lógica da eficiência económica. Até há quem acredite que a inteligência não sabe, e que ser inteligente é fazer sem saber.
O que poucos consideram interessante e prodigioso é aprender, observar, ler, mais do que ler um livro sobre “como observar pássaros”, observá-los, de preferência com aquele livro à mão. Mais do que escrever sobre o “espaço interior”, no cárcere, sobre o cárcere, manipulando palavras, como uma IA, observar, e descrever, porque a realidade é algo que não se pode meramente deduzir, como acontece com as fantasias, ad infinitum.
É muito importante centrar a educação nas aprendizagens como processo de realização e de envolvimento pessoal nos prazeres e nos trabalhos da vida.
E isto não é utópico. Está mais próximo das necessidades naturais do que transformar a educação numa linha de formação de mecânicos, por mais necessários que estes sejam.
Utópico é considerar que ensinar “2+2=4” é liberdade de ensinar.
quinta-feira, 25 de maio de 2023
Quando o sol desponta
Quando o sol desponta
na ponta da nave
eu vejo a água a separar
a ilusão da realidade
sinto a saudade a iluminar
o mar e o céu
com a verdade das gaivotas
de todos os tempos
de todos os mares
de todos os céus
de todos os mundos
que nunca serão meus.
sábado, 13 de maio de 2023
Problemas de cariz político, económico e social
A maior parte dos problemas de cariz político, económico e social, não são problemas para toda a gente e esse começa logo por ser talvez o maior problema, porque dificulta imenso, quer a abordagem e o reconhecimento dos problemas, quer as tentativas de os resolver. Do ponto de vista de um comentador, de um filósofo, de um sociólogo, o reconhecimento desses problemas como problemas objetivos, pouco ou nada adianta se ficar por generalidades, ou ideias ainda mais gerais sobre essas generalidades.
As coisas funcionam do modo como funcionam, porque as condições para isso estão criadas. Enquanto essas condições se mantiverem continuarão a funcionar. E não é por não gostarmos, ou não estarmos de acordo com essas realidades que elas passarão a ser outras, embora os descontentamentos, as manifestações, as oposições, as revoltas, as lutas, sejam germe e efeito de mudanças, que poderão ser de ruptura.
Normalmente as sociedades realizam algum equilíbrio entre "predadores" e "presas", como acontece na selva desintervencionada pelo homem.
sábado, 6 de maio de 2023
Para sermos felizes
O pouco de que precisamos para sermos felizes depende de tanto e de tantas coisas, que preferíamos não ter de fazer, ou de enfrentar, que a felicidade acaba por ter, muitas vezes, um sabor amargo, como se fosse um presente envenenado.
Se é por isso que muitos de nós são lutadores, valentes ou valentões, mas neuróticos, essa espécie de heroísmo de si mesmos, à espera de uma taça que não existe, nem sequer alguma vez foi prometida, é um descalabro.
Quem tem coragem para reconhecer no espelho um idiota vítima da sua boa fé, ou da sua presunção de que os sonhos existem para serem realizados?
quinta-feira, 27 de abril de 2023
O que resta
Se estas ruínas
aliás belas
aliás monumentais
são o que resta
daquilo por que viveste
e por que tanto lutaste
com seriedade
que ao menos pudesses
ter tido a antevisão inefável
do que agora aos nossos olhos
é um desfecho desolador
de tantas vidas escarnecidas
hipotecadas à transcendência
daquele castelo mutilado
outrora altivo
e daquela igreja irreconhecível
outrora preservada
sem que ao menos
soubéssemos um pouco
da história de uma delas
podia ser até da mais humilde
das contingências de uma vida
vivida nestes penhascos
tão acabrunhados
podia ser até da última pessoa
a fechar os olhos à história
a toda a grandeza
de que não se ouve
sequer em memória
uma voz
sequer ilusória
a sair destas ruínas colossais
por onde agora só
alguma sombra de nuvem passa
e não deixa rasto.